sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bodas de prata da gastronomia carioca

por Luciana Plaas

Em 1987, a Estação Primeira de Mangueira foi a grande campeã do carnaval do Rio de Janeiro, homenageando Carlos Drummond de Andrade. O Flamengo do técnico Carlinhos, comandado em campo por Zico, Leandro e Renato Gaúcho, faturou o tetracampeonato brasileiro. Moreira Franco, vencedor das eleições no ano anterior, sucedia Leonel Brizola no governo do Estado do Rio. Mais do que os traficantes, eram os bicheiros que detinham o poder paralelo na cidade, chegando até a serem recebidos pelo governador em pleno Palácio Guanabara.

José Sarney era o presidente do Brasil e o Plano Cruzado começava a fazer água. Ulisses Guimarães comandava o congresso que preparava a nova constituição brasileira. A ditadura ainda era uma ferida aberta, mas os bichos papões eram a divida externa e a inflação. Mesmo com tudo isso, as pessoas no Brasil se divertiam com as peripécias de Rafaela Alvaray (Marília Pêra) e Montenegro (Marco Nanini), na novela Brega & Chique, de Cassiano Gabus Mendes. Na parada de sucessos, Que País é Este?, do Legião Urbana; Codinome Beija-Flor, de Cazuza, Bon Jovi, U2. Era o tempo da Glasnost e da Perestroika na União Soviética. E a Alemanha ainda estava dividida por um muro.

Pois foi em 1987, que Danusia Barbara lançou o seu primeiro Guia de restaurantes do Rio de Janeiro. Então, apenas três casas receberam as máximas quatro estrelas: Laurent, Le Saint-Honoré e o Valentino's. Nenhum deles existe mais. Mas lugares como Antiquarius, o Claude Troisgros e o Clube Gourmet, ainda em Botafogo, já existiam. E levaram três estrelas na classificação da época. Com duas estrelas, o Bife de Ouro estava lá junto com Caesar Park, (pela feijoada) o Le Pré Catelan e o The Lord Jim Pub, pelo chá. Na época eram bem comuns restaurantes com boa comida, música ao vivo, show e dança. Hoje é difícil encontrar um.

Botafogo tinha mais restaurantes do que o Leblon. A Rua Dias Ferreira, apesar de já abrigar várias casas, ainda não era considerada a jóia da coroa da gastronomia da Zona Sul. Mas o Sushi Leblon já estava ali, só que com outro nome: Tatsumi Sushi-Bar. O Final do Leblon ainda vivia seus áureos tempos. Outros que deixaram saudades são Chalé, Hippopotamus, Manolo's, Le Saint-Honoré, Luna Bar, Jazzmania, Mistura Fina e o dinamarquês Helsingor, entre tantos. A Academia da Cachaça e o Antiquarius eram considerados os lugares da moda. Prova cabal de que certos modismos não passam. Cheques eram muito mais aceitos do que cartões de crédito. O dinheiro de plástico ainda era uma raridade. Eram nove restaurantes chineses contra 16 japoneses. No guia atual, são dois chineses contra 42 japoneses.

Na próxima segunda-feira, dia 6 de dezembro, Danusia Barbara estará lançando a edição 2011 de seu Guia de Restaurantes do Rio. É o 25º ano consecutivo em que a jornalista lança o livro. Vai ser na Livraria da Travessa, do shopping Leblon, a partir das 19hs. Quem quiser saber mais sobre como anda a gastronomia no Rio de Janeiro está convidado a aparecer.