sábado, 5 de junho de 2010

A arte de fazer café

por Luciana Plaas

Começar o dia com um café bem feito é sempre bom. Pensando nisso, aceitei o convite para conhecer o Cafuné, uma cafeteria na Barra da Tijuca. O horário marcado foi 11 da manhã. Só consegui chegar às 11h40min. Ainda em jejum, e meio envergonhada pelo atraso. Logo, o barista do Cafuné, Leo Moço, me perguntou por qual café gostaria de começar. Deixei para ele a responsabilidade em escolher. Veio o capuccino (R$6,00).

Quando dei o primeiro gole, lembrei do melhor capuccino da minha vida, que tomei em Londres. Eu tinha ido participar de uma seleção de padeiros para um restaurante local chamado Locanda Locatelli. Depois de o dia inteiro na cozinha, o barista, um senhor italiano muito simpático, me ofereceu um capuccino. No final da história, não aceitei o trabalho, mas o tal capuccino ficou na minha memória. Memória gustativa é assim, parece um sonho. Fica ali guardadinha, quase que escondida. Até que um dia você finalmente encontra algo que te faz ter as mesmas sensações. Aí como se fosse mágica, o que estava ali escondido reaparece. E o capuccino do Cafuné conseguiu se igualar aquele de Londres. Não é pouca coisa.

Os donos são dois apaixonados por café, Thiago Antunes e Léo Moço. No início a idéia era ter um lugar que só servisse café. Até um blend próprio eles criaram: o cafuné. É uma mistura de grãos arábica provenientes de fazendas capixabas. Mas a necessidade falou mais alto e eles agora servem os quitutes da Casa da Tatá para acompanhar a bebida.

O proprietário da Fazenda Camocim, Espírito Santo, Henrique Araújo, também estava lá nesse dia. A fazenda dele é biodinâmica, e produz o Jacu Coffee Bird. É um tipo de café cujos grãos são selecionados pelo jacu, ave nativa da Mata Atlântica. O jacu se alimenta dos melhores frutos do café e, após a digestão, elimina os grãos ao pé das árvores. Depois de colhidos manualmente, limpos e guardados, os grãos dão origem a um café de rara qualidade. Pude provar, é muito especial mesmo.

No Cafuné o cliente pode escolher como vai ser preparado o café. O que não faltam são opções. Tem até café coado em filtro cônico e porta-filtro de porcelana, vindos lá do outro lado mundo, da terra do sol nascente. Uma das coisas que aprendi é que, para minha surpresa, os japoneses são o povo que mais entende de café no mundo, junto com os noruegueses. E olha que nem um nem outro são conhecidos pela produção de café!

Outra novidade, pelo menos para mim, foi uma geringonça, que mais parece uma espécie de ampulheta gigante, onde a pessoa coloca os grãos de café ali e deixa na geladeira por várias horas. A ideia é tirar a acidez do café e manter a cafeína. Uma ótima pedida para quem tem problemas estomacais, mas não abre mão de um cafezinho.


Cafuné
Città America
Avenida das Américas, 700 bloco 8, loja 115K
Barra da Tijuca
(21) 2132-8260

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A noite de Seu Antônio

por Alexandre Lalas
Seu Antônio ficou tão emocionado no dia da formatura da filha que não aguentou: mal chegou em casa, apagou. Acordou apenas no dia seguinte, deitado em uma cama de hospital. Só então, teve noção da gravidade da situação. Seu Antônio tivera um derrame e quase foi para o outro lado. Felizmente, a recuperação foi completa. Com apenas uma ressalva: o danado do médico proibiu Seu Antônio de beber. Que maldade!

Pois Antônio Dal Pizzol, desde então, segue a risca as orientações do médico. Salvo uma ou outra exceção, afinal de contas, ninguém é de ferro. E na semana passada, Seu Antônio abriu uma destas exceções. Não era para menos. A noite era de gala. Em um jantar no restaurante da chef Roberta Sudbrack, Seu Antônio estava lá para mostrar aos cariocas o mais novo lançamento da vinícola que dirige e leva o seu nome, a Dal Pizzol. E não era um vinho qualquer. E sim, o rótulo comemorativo dos 35 anos de existência da empresa, um corte de cabernet-sauvignon (45%), merlot (35%), cabernet franc (10%) e ancellotta (10%), de produção limitada a 3.350 garrafas, todas numeradas! Não havia recomendação médica que impedisse Seu Antônio de bebericar uma ou outra tacinha. Mas sem exageros, é claro.

A Dal Pizzol, a vinícola do Seu Antônio, é uma empresa familiar, desde sempre voltada para a produção de vinhos finos. A cantina fica em Faria Lemos, distrito de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Para a feitura dos vinhos, são usadas uvas compradas de produtores parceiros da vinícola, espalhados por Serra Gaúcha, Campos de Cima da Serra e Encruzilhada do Sul. A produção é controlada por dois enólogos e pelo engenheiro agrônomo da Dal Pizzol. São produzidas 250 mil garrafas por ano.

O enólogo responsável pelos vinhos é Dirceu Scottá e a filosofia da vinícola é clara: vinhos frescos, com muita fruta e sem passagem em madeira. E é exatamente assim o Dal Pizzol 35 anos: um vinho com a cara e o frescor de Seu Antônio.

Dal Pizzol 35 anos Assemblage 2005
Faria Lemos, Brasil
O mais legal deste 35 anos é que, no primeiro gole, mesmo às cegas, pode-se afirmar que é um vinho da Dal Pizzol. Este tipo de assinatura é um bem que cabe à vinícola preservar. Vinho gastronômico, cresce com comida. De preferência, carne.
Nota: 8,5
Preço: R$ 60 (preço por garrafa em caixa de seis fechada, no site da vinícola)
Onde: www.dalpizzol.com.br