Um ano depois de dançar pela casa e celebrar o
fim de um “Armageddon pessoal”, a dublê de socialite e empresária Patricia
Kluge foi obrigada a encarar a face mais dura de um velho amigo. Quando a Kluge
Estate Winery – propriedade de dois mil hectares no estado de Virgínia que
pertencia a ela – faliu, Patricia comemorou quando Donald Trump, companheiro de
longa data, antecipou-se à concorrência e arrematou o espólio. Mas o que a
ex-milionária não esperava é ouvir de viva-voz o bordão que consagrou o velho
amigo na televisão norte-americana. Pouco mais de um ano depois de confirmar a
presença de Patricia a frente da vinícola, Trump mudou de ideia e demitiu a
socialite do comando da Kluge.
Patricia, uma socialite rica que ganhou milhões
de dólares do ex-marido no divórcio, foi o rosto da vinícola desde a sua
criação. E não se importou em gastar os tubos para equipar a adega com o que de
mais moderno havia no mercado. Ela ainda investiu em enólogos e consultores
estrelados, e até em caixas exclusivas desenhadas por artistas renomados. Tudo
com a intenção de colocar a Virgínia no mapa do vinho norte-americano.
No entanto, ao lado do marido William Moses, um
ex-executivo da IBM, o casal, combinando arrogância com ingenuidade, conduziu a
Kluge Estate Winery diretamente para o brejo. Para bancar o projeto, pegaram
dinheiro emprestado no Banco de Crédito da Virgínia, não conseguiram pagar,
hipotecaram a propriedade, pegaram mais empréstimos a acabaram quebrando. Deram
um calote de US$ 35 milhões. O banco tomou tudo e levou a leilão. E, enquanto
os lojistas barganhavam tentando comprar uma caixa com os vinhos da vinícola
por US$ 45 (antes da falência, a garrafa custava US$ 12), Donald Trump não
brincou em serviço: por US$ 6,2 milhões, arrematou a propriedade, as marcas, a
adega e os vinhos que lá estão. Detalhe: a Kluge Estate Winery havia sido
avaliada, no começo da confusão, em US$ 70 milhões.
Na época, contando com a promessa de que
continuaria a frente da vinícola, Patricia comemorou o socorro prestado pelo
velho amigo. Mas Donald Trump não ficou bilionário colecionando amizades, e logo
colocou o filho Eric para tomar conta do negócio. No começo, ainda ofereceu o
cargo de vice-presidente a Patricia. Mas na última semana, a socialite foi
comunicada de que “sua presença não era mais necessária no trabalho”.
Em entrevista ao jornal New York Post, Trump
minimizou o caso. “Nós fizemos um contrato de transição para o primeiro ano, e
que terminou. Ainda estamos trabalhando com ela um pouco, e temos um bom
relacionamento com Patricia. Mas nunca é fácil quando você constrói algo
parecido com isso e no final acaba trabalhando para as pessoas que compram o
sonho que era seu. Mas ela tem um gosto incrível, sabe diferenciar a qualidade
das coisas e os vinhos são assim, estão entre os melhores feitos no país”,
explicou.
A história de Patricia Kluge é repleta de
excentricidades e confusões. Nascida Patricia Maureen Rose, no Iraque, filha de
um tradutor inglês com uma mãe iraquiana, estudou em Londres, casou-se com um
produtor de filmes eróticos e se notabilizou por fotos nuas e por escrever uma
coluna com dicas sexuais. Cansou do casamento e da profissão, largou marido e
trabalho e se mudou de mala e cuia para Nova Iorque. Lá, conheceu o
multimilionário norte-americano John Kluge, em processo de divórcio.
Apaixonaram-se e casaram em 1981.
Enquanto estiveram casados, protagonizaram
escândalos e fizeram a festa dos fofoqueiros de plantão. Principalmente por
conta do passado apimentado de Patricia. Em um dos mais ruidosos episódios, o
casal desistiu de organizar um sarau para o príncipe Charles e a princesa Diana
depois que os tabloides britânicos publicaram fotos de Patricia nua e de cenas
do picante filme The Nine Ages of Nakedness, um soft-pornô, protagonizado por
ela. Nove anos depois da troca de alianças, entraram em cena os advogados e
veio o divórcio. Apesar de os valores do acordo não terem sido divulgados,
especula-se que Patricia saiu do casamento US$ 1 bilhão mais rica do que
entrou.
Mesmo após a união com o terceiro (e atual)
marido, os escândalos continuaram a pipocar. Um dos mais cabeludos foi um
suposto affair da socialite com o governador da Virgínia, Douglas Wilder,
primeiro negro a governar o estado, entre 2005 e 2008. Embora ambos tenham
negado enfaticamente o romance, o fato é que os constantes encontros entre os
dois e o clima de intimidade explosiva não fizeram outra coisa que não
alimentar as especulações.
Nada disso parecia abalar o estilo de vida de
Patricia, que promovia jantares nababescos na mansão erguida no meio da
vinícola, com a presença constante de políticos, artistas de cinema, e outras
figurinhas fáceis do show business norte-americano.
Mas o que os escândalos não tiveram força
suficiente para provocar, a total falta de planejamento com as finanças teve.
Com a crise de crédito, o casal não conseguiu mais honrar os compromissos e se
viram presos a um emaranhado de empréstimos não pagos e promissórias vencidas.
As dívidas cresciam em progressão geométrica e nem a liquidação do patrimônio
do casal foi suficiente para pagar a conta. Caía o castelo de areia baseado em
sexo, luxo e glamour que Patricia Kluge construíra ao longo da vida.
Procurada pela imprensa norte-americana para
comentar sua demissão da vinícola que ajudou a criar, Patricia esnobou flashes e holofotes e preferiu optar
pelo silêncio.
por Alexandre Lalas
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