sexta-feira, 9 de julho de 2010

De portas abertas

por Alexandre Lalas

Era uma vez um país. Nasceu como reino em 1929 e foi esfacelada por diversas ocupações em 1941 para renascer como república em 1945. Era a Iugoslávia. Comandada por Josip Broz Tito, o idolatrado Marechal Tito, de 1945 a 1953 como primeiro-ministro e de 1953 até a morte, em 1980, como presidente. Tito foi capaz de manter unida uma região famosa pelo histórico de conflitos. Durante o período em que o Marechal deu as cartas, dizia-se que a Iugoslávia era um país formado por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um partido. Embora fosse socialista, mantinha independência da poderosa União Soviética. Mas Tito morreu em 1980 e a frágil união que mantinha a Iugoslávia de pé começou a ruir. Até que em 1991 o país desintegrou-se de vez. Eslovênia e Croácia foram as primeiras repúblicas a proclamarem independência. Depois veio a Macedônia. Em seguida a Bósnia-Herzegovina. E, na sequência, veio a guerra.

Naquela altura, a indústria vinícola da Iugoslávia era forte. E o país era um dos maiores exportadores do mundo de vinho por atacado. Exuberante em quantidade, não era famosa exatamente pela qualidade. Mas a tradição de vinhos sobreviveu a anos de guerra e à divisão do país. E, depois de uma longa visita ao fundo do poço, vinícolas de repúblicas que faziam parte da antiga Iugoslávia já chamam a atenção da Europa e do mundo para o que é feito ali. E, melhor ainda, desta vez é pela qualidade da bebida. E não pelo volume de litros.

Das ex-repúblicas iugoslavas, três se destacam na produção de vinhos: Croácia, Eslovênia e Macedônia. E com uma produção voltada majoritariamente para a qualidade, a Eslovênia é que produz os vinhos mais interessantes. Situada entre os Alpes e o Adriático, o país tem três regiões produtoras: Podravje, Posavje, e Primorje. A produção anual varia entre 800 mil e 900 mil hectolitros, esparramados em 21.600 hectares. Ou seja, em uma área quase duas vezes maior, a Eslovênia faz cerca de metade da quantidade do vinho que é produzido em Bordeaux, na França.

Podravje é a maior das regiões vinícolas eslovenas e conhecida especialmente pelos ótimos vinhos de sobremesa que produz e por brancos de altíssima qualidade. Fica entre as fronteiras com Áustria e Hungria e é dividida em seis áreas: Maribor, Radgona-Kapela, Srednje Slovenske Gorice, Haloze, Ljutomer-Ormoz, e Prekmurske Gorice. De influência mais francesa, e focada em vinhos de corte, especialmente brancos, Posavje é famosa pela imensa variedade de solos. Apenas em Bela Krajina, uma das quatro sub-regiões de Posavje, existem 22 tipo de solo. Região fronteiriça com a Itália e que mais sofre a influência mediterrânea, Primorje produz vinhos minerais, de média acidez e ricos em aromas. Embora seja a única região que produza tintos e brancos na mesma quantidade, são os brancos mesmo é que se destacam no cenário internacional.

Embora ainda esteja relativamente atrasado em comparação aos eslovenos, o vinho croata não para de crescer. E conta até com uma estrela mundial. Mike Grgich é um dos grandes enólogos do mundo. Em 1973, quando morava nos Estados Unidos, Mike foi o enólogo responsável pela produção do Château Montelena Chardonnay, que, três anos mais tarde, seria eleito o melhor vinho branco em uma prova às cegas realizada na França, entre vinhos franceses e americanos, no que ficaria conhecido mundialmente como O Julgamento de Paris. Na Croácia, Mike produz vinhos de altíssima qualidade. E é um estudioso da plavac mali, casta autóctone croata, prima-irmã da zinfandel.


A Croácia é divida em duas regiões principais, a costeira e a interiorana. Cada uma delas é subdivida em diversos pequenos distritos. Ao todo, a Croácia tem cerca de 300 áreas definidas para a produção de vinhos. No interior, os brancos são a maioria absoluta. A casta mais plantada é a graševina, que gera vinhos leves, de acidez elevada e mediamente aromáticos. No litoral, a imensa quantidade de ilhas e colinas criam uma infinidade de microclimas. Variedades bordalesas como cabernet-sauvignon e merlot são as mais plantadas junto com uvas autóctones como a plavac mali.

Embora ainda esteja um degrau abaixo do que fazem eslovenos e croatas, os vinhos da Macedônia não deixam de ser interessantes. O país tem três regiões produtoras: Povardarie, no centro do país; Pchinya – Osogovo, ao leste; e Pelagonia – Polog, a oeste. A maior é mais importante é Povardarie, que concentra 85% da produção do país. Entre os vinhos macedônios, vale a pena conhecer os feitos com a vranec, uva tinta típica de lá, que gera vinhos ricos em aromas, de boa estrutura e de grande carga tânica. Outra uva local interessante é a branca zilavka, que gera vinhos pouco aromáticos, mas cheios de volume e estrutura na boca.

Por enquanto, ainda não existem vinhos de nenhuma das ex-repúblicas iugoslavas no Brasil. Mas, em feiras realizadas na Europa, alguns importadores provaram coisas interessantes destes países e novidades podem em breve chegar ao nosso mercado. Estaremos esperando com as portas abertas.

Vinho da semana:
Piodilei Chardonnay Langhe 2007
Piemonte, Itália
De um pequeno vinhedo em Barbaresco vem as uvas, colhidas sempre bem maduras, para este vinho, um dos grandes brancos italianos. Intenso e rico no nariz, com notas de pêssego, abacaxi, especiarias e amêndoas. Na boca, tem boa estrutura, é macio, fresco e persistente.
Nota: 9
Preço: R$ 227,10
Onde: Decanter (2286-8838)

Barato bom:
Birilo 2005
Toscana, Itália
A Grand Cru vai parar de importar este vinho, leve, fresco e saboroso corte de cabernet-sauvignon, merlot e sangiovese. Por este motivo, as garrafas que ainda existem na loja estão em promoção, com os preços quase pela metade. Corra, antes que acabe.
Nota: 8
Preço: R$ 39
Onde: Grand Cru (2511-7045)

Nenhum comentário:

Postar um comentário