sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pequenas porções, grandes prazeres

por Luciana Plaas

Como nasce um restaurante? Não existe uma fórmula exata cada um tem uma história. A que eu vou contar é, no mínimo, engraçada. Três sócios que já tinham um restaurante, que dava bons frutos. A chef estava inquieta querendo um segundo restaurante com uma proposta diferente do primeiro. A outra sócia estava grávida e só queria parir e amamentar tranquilamente. E o sócio fazia as contas e achava que as duas poderiam alcançar seus objetivos. Tentando buscar uma solução para inquietude da chef, os outros sócios disseram para ela tirar férias. Quando ela voltou, sabia exatamente o que queria. Um restaurante que servisse pequenas porções. Logo encontraram um casarão em Botafogo. O ex dono dizia que bastava jogar uma água que estaria tudo certo. Obviamente não era bem assim. A tal casa estava caindo aos pedaços. Uma boa reforma depois, nasceu o Oui Oui, irmão mais novo do Miam Miam. Na inauguração a sócia grávida estava com um barrigão que batia na parede, a chef com sorriso no rosto e sócio continuava fazendo as contas. Hoje o restaurante tem um ano. Já sabe ao que veio. A filha da sócia ainda não.

Quando fui a primeira vez ao restaurante, logo que abriu, pensei que seria um desses lugares super descolados que só vai gente jovem. Hoje vejo que estava errada. É um restaurante de bairro. Continua sendo descolado, mas vai gente de todas as idades.

Essa semana voltei ao Oui Oui. Comi de me fartar. Éramos quatro na mesa. Começamos com brulé de grana padano (R$ 22,50), que vinha com um pãozinho, que é receita da avó da chef. Realmente tem coisas que correm na família. Que pão gostoso, receita de vó mesmo! O grana padano fica muito legal e é divertido comido assim. Depois comi a truta grelhada coberta de alho-poró e amêndoas (R$ 26,80), me desanimei, porque tinha comido o peixe no dia anterior. Mas esta truta estava bem melhor do que a do dia anterior, cheia de sabor e no ponto certo.

Em seguida, cogumelos frescos marinados no limão siciliano (R$ 17,60). Tenho um problema com limão siciliano. Acho que ele rouba bastante o gosto da comida. Mas tenho certeza que esse prato é o preferido de muita gente. Depois provei os camarões e pupunha gratinados com zabaione (R$ 29,80). Esse prato poderia comer inteiro e sozinha. Fiquei intrigada por que a Roberta Ciasca brinca tanto com a textura de sobremesas tradicionais em forma de pratos salgados? A resposta dada pela Danni, a outra sócia do Oui, é que ela não gosta de fazer doces então faz pratos salgados baseados nas sobremesas. Gostei a brincadeira.

Estávamos prontos para a segunda rodada de pratinhos. O vol au vent de rabada com mascarpone (R$ 26,80) estava gostoso, a porção no tamanho certo para não dar tempo de enjoar. O crostini de cordeiro, tomates assados e pesto de coentro (R$ 28,30) me levou lá pro Marrocos. A carne com os tomates e o pesto coentro deram um balangandã ao prato. Já o risoto de legumes com mascarpone e pesto de ervas (R$ 17,90) não me encantou tanto, apesar de tudo estar correto.

Provamos ainda o mignon em marinada de capim limão (R$ 22,10). Ficou macio e com gosto de capim limão mesmo. Comemos também uma frigideira de batatinhas com bacon (R$ 16,50). As batatas são cortadas no mesmo tamanho do bacon e ficam com uma textura parecida depois de fritos. Crocantes até a última mordida. Até a vegetariana da mesa aprovou. Por falar nela, ela ganhou uma salada de quinoa com cogumelos frescos, legumes crocantes e azeite trufado (R$ 22,50). Fiquei com vergonha, mas não conseguia parar de comer a salada da coitada. Foi a primeira vez que comi algo com azeite trufado que não me incomodou. Devo concluir que o fato de não ser quente contribuiu bastante. Estava fresco, com a vagem crocante, junto com a cenoura ralada.

Terceira e última rodada: palitos de doce de leite com coco e creme inglês (R$ 16,80), cálices de tapioca com manga e coulis de frutas amarelas (R$ 15,90), e beignets de banana com papaya e creme de maracujá (R$ 14,80). Como a Roberta não curte fazer sobremesas, convidaram a chef pâtissier Ana Rosa Ippoliti, que é argentina para resolver esse problema. E ficou tudo certo. Como já haviam pedido os palitos, optei pelo cálice de tapioca, sem nenhuma expectativa. E como foi bom quebrar a cara. O maracujá com a manga e a tapioca, combinaram com tanta delicadeza que até parecia que já eram íntimos. Os palitos são gostosos, um clássico adorado por todos. Mas eu não sou muito fã de doce de leite com coco. Em compensação, estava difícil para de comer os beignets de banana. Estava tudo tão bom, que fiquei feliz por ninguém ter tido a infame ideia de eleger o melhor prato da noite. Para mim, seria impossível escolher.


Oui Oui
Rua Conde de Irajá, 85
Botafogo
Tel.: (21) 2527-3539

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