por Alexandre Lalas
Bordeaux, na França, é uma das mais conhecidas e respeitadas regiões de vinho no mundo. Os vinhos tops de lá são vendidos a preços cada vez mais estratosféricos e são tidos e havidos como o que de melhor e de mais valioso existe sobre a bebida. Tanto que os principais châteaus passaram incólumes pela recessão econômica que assolou meio mundo. Mas estes são os tops, os primos ricos da região. Existe uma imensa maioria de produtores em Bordeaux, que produzem vinhos de custo bem mais baixo, e que de um tempo pra cá não sabem mais o que fazer para venderem os seus vinhos. Para esta gente, uma indústria que emprega cerca de 50 mil pessoas, a coisa está feia. E cortar na própria carne parece ser a única solução possível.
Na semana passada, os líderes do Conselho Vitivinícola de Bordeaux (CIVB) uma nova e ambiciosa estratégia para resolver o problema. O nome do plano é sintomático: Bordeaux Amanhã: a Reconquista. Otimistas, esperam, até 2018, aumentar a receita anual da indústria da região em 28%, chegando a 4,6 bilhões de euros (R$ 10,5 bilhões). Mas o sucesso da estratégia não está baseado apenas em operações agressivas de marketing, mas também na eliminação da produção de 110 milhões de litros, ou 12 milhões de caixas de vinho de baixa qualidade que são produzidos todos os anos em Bordeaux.
O problema da região não vem de hoje. De 2003 a 2007, apenas em exportações, Bordeaux deixou de vender cerca de 43 milhões de garrafas de vinho, o equivalente a 293 milhões de euros (R$ 674 milhões). Isso, antes mesmo de a crise econômica estourar. Para piorar a situação, mesmo no mercado interno a região perde prestígio a cada ano. O reflexo: queda nas vendas. E mesmo o fluxo de turistas nas cidades bordalesas só faz diminuir.
Para reverter este quadro, a aposta é subir a qualidade dos vinhos de baixo custo e investir em rótulos de fácil compreensão por parte dos consumidores. Tudo, claro, ancorado por uma campanha internacional de marketing. Pelas contas do CIVB, cerca de um terço dos produtores dos vinhos mais básicos de Bordeaux, que são vendidos aos atacadistas por menos de dois euros a garrafa, têm capacidade para melhorar a qualidade dos vinhos que fazem. Outro terço dos produtores de vinhos básicos, acreditam os diretores do Conselho, poderiam seguir fazendo brancos e rosados de baixo custo. E o outro terço das vinhas da região, de acordo com o CIVB deverão ser arrancadas. O fato riscaria do mapa 7% da área plantada e causaria uma diminuição de 26% do número de produtores da região. Bordeaux tem hoje, aproximadamente, nove mil produtores.
Não é a primeira vez que Bordeaux aposta em uma medida drástica como essa. Há alguns anos, uma tentativa de arrancar 10 mil hectares de vinha falhou feio. Na ocasião, a maioria esmagadora dos produtores recusou a proposta de 15 mil euros por hectare de vinha arrancada. Mas com o cenário ainda mais aterrador depois da recessão global, muitos produtores estão com a corda no pescoço. O que pode facilitar as coisas para a CIVB.
Outra forma de convencimento será o aumento das inspeções nos vinhedos e vinícolas para detectarem se os produtores estão seguindo as regras de qualidade estabelecidas pelo Conselho. Os que não estiverem dentro dos padrões exigidos, não terão direito a rotular os vinhos com o nome Bordeaux, o que seria ainda mais desastroso para estes produtores. Portanto, diante de tantas dificuldades, o pessoal da CIVB crê que ganhar dinheiro para arrancar vinhas pode até vir a ser mais lucrativo.
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