quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os vinhos do Aragão

por Alexandre Lalas

A Espanha é um dos países que apresenta o melhor custo-benefício para a compra de vinhos. Lá, com cinco euros (cerca de R$ 15) o sujeito compra uma garrafa decente de um bom tinto. Além das regiões tradicionais, como Rioja, Ribera del Duero e Priorato, existem outras áreas que, há coisa de duas décadas, sequer figuravam nos manuais de vinho. E é de lugares assim que têm saído, com frequência cada vez maior, coisas fantásticas a preços bem convidativos. São áreas como Bierzo, no noroeste espanhol, e Jumilla, no sudeste do país. Mas, sem sombra de dúvida, nenhuma outra região tem apresentado tanta qualidade com quantidade como o Aragão.


Situado no nordeste espanhol, aos pés dos Pirineus, a região conta com quatro denominações de origem: Cariñena, a mais antiga; Campo de Borja, Calatayud e Somontano, mais nova e mais conhecida das quatro.


Se nas três primeiras denominações a garnacha tinta reina soberana, em Somontano uma política de abertura permitiu aos viticultores experimentarem outras castas, com sucesso. Além da garnacha, tempranillo, merlot, cabernet-sauvignon, syrah, chardonnay e até mesmo a pinot noir apresentam bom resultado na região. O que impressiona é o fato de que há 20 anos a região praticamente não existia no mapa do vinho espanhol. A coisa começou a mudar em 1984, quando Somontano ganhou o status de denominação de origem. Outro fator é que os bodegueiros locais souberam, como poucos, entender e atender as necessidades de um mercado em transformação. Hoje em dia, Somontano está na linha de frente das zonas vinícolas espanholas, terra de tintos e brancos que recebem notas altas da crítica especializada, com um rota turística estabelecida e procurada, tanto por espanhóis como por estrangeiros. Entre as vinícolas locais, destacam-se Enate, Viñas del Vero, Bodega Pirineos, Lalanne, Fábregas e Laus, entre outras.


Calatayud talvez seja a mais promissora de todas as quatro regiões aragonesas. O lugar sempre foi conhecido pela fruta extraordinária que produzia. As condições naturais de lá são excepcionais para a videira. A vindima raramente começa antes do meio de outubro, quando a maioria das outras regiões já encerrou a colheita. A amplitude térmica e alta e o lugar é extremamente seco, por conta da altitude. E abundam as vinhas velhas de garnacha, com mais de 50 anos de idade, de produção pequena. De 1990 para cá, a região começou a se organizar e a qualidade dos vinhos não parou de crescer, e o que é melhor, os preços continuam excelentes. A prova, é que 76% da produção local são exportadas. Isto se deveu à estratégia das vinícolas locais, que preferiram buscar espaço fora da Espanha a enfrentar um mercado feroz e saturado de novos produtores. Niño Jesus, Albada, Jalón, San Gregorio, Agustin Cubero, Langa Hermanos, San Alejandro (que faz o ótimo Baltasar Gracián) e Virgen de La Sierra são alguns dos produtores locais que merecem atenção.


Cariñena é a mais tradicional das denominações do Aragão. Mas, neste caso, tradição não se reflete em melhores vinhos. A região talvez seja a mais irregular das quatro. Na mão de bons produtores, a garnacha gera vinhos ótimos, macios, complexos, longevos. Mas, infelizmente, ainda há muita gente no lugar que privilegia a quantidade e lança vinhos de baixa qualidade no mercado. Entre os bons produtores estão Esteban Martín, Bodegas del Señorio, Perdiguer, San Valero, Solar de Urbezo, Monfil, Señorio de Aylés e Sucesores de Manuel Piquer.



A outra região do Aragão é Campo de Borja. O lugar fica entre duas zonas vinícolas tradicionais, Rioja e Cariñena. Ali não houve migração de grandes empresas, nem tampouco investidores endinheirados ávidos por tornarem-se viticultores. A região cresceu com o esforço coletivo das produtores locais. E no caso, a união fez a força. De 900 mil garrafas vendidas em 1991, Campo de Borja saltou para 15 milhões em 2006, sendo que metade disso para o mercado externo. Borsao, Bordejé, Caytusa, Bodegas Aragonesas, Mareca e Agro-Frago são algumas das melhores vinícolas da região.

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