por Luciana Plaas
Na década de 1950, a Rua Dona Mariana, em Botafogo, tinha um comércio muito forte. Na esquina com Voluntários da Pátria, onde hoje é o banco Itaú, funcionava um açougue. O dono era um português que num certo momento resolveu voltar para a Terrinha. Antes de ir, ofereceu o açougue ao seu funcionário mais leal, Luiz Rodrigues dos Santos. O 'Seu' Luiz, como era mais conhecido, ficaria com o lugar e pagaria ao português aos bocadinhos. Tudo na base da confiança. Então, de empregado, Seu Luiz passou a patrão.
O açougue prosperou. Nessa época ainda não havia os supermercados para competir e todo mundo comprava carne era no açougue mesmo. Além de várias famílias, Seu Luiz atendia às embaixadas da redondeza.
Seu Luiz gostava do ofício, de trabalhar a carne. Reformou o lugar, casou, e veio o Luizinho, que desde pequeno ia pro açougue com o pai e a mãe. Virou o negócio de família: a mãe no caixa, o pai cuidando das carnes e Luizinho só de olho em tudo que acontecia.
Em 1980, o Itaú, fez uma proposta irrecusável e comprou todo o comércio que funcionava ali naquela esquina. Mas o açougue não desapareceu, ao contrário de muitos outros. A família apenas se mudou. Foram para a movimentada Voluntários da Pátria, ainda em Botafogo. Um estabelecimento menor, mas com o mesmo capricho. Câmera frigorífica, tudo no seu devido lugar.
Luizinho, filho do seu Luiz, desde a mudança, começou a ficar mais à frente dos negócios. Reparou que teria que fazer alguma coisa diferente porque estavam perdendo muitos clientes para os supermercados. Então, resolveu trabalhar com carnes exóticas: rã, jacaré, perdiz, carne de siri. Isso tudo sem deixar de lado os cortes bovinos. E resolveu fazer também cortes de cordeiro: french rack, short rack, não muito comuns em supermercados.
Com o tempo, Luizinho virou 'Seu' Luiz. Além dos diferentes tipos de carne e corte, o atendimento e o esmero são diferenciais do açougue. Eu prefiro comprar carne ali. Nos supermercados tudo é muito impessoal.
Hoje, o Seu Luiz Pai está com 89 anos. E passa muito bem. Tem motivos de sobra para ter orgulho do filho. Luizinho sabe o duro que dá para manter um açougue aberto em 2010. Os tempos são outros. Nem vale mais a pena manter a carne exposta, é tudo por encomenda. Mas ele não desanima. Enquanto houver gente querendo carne de açougue, Luizinho estará lá firme e forte. E eu continuarei indo lá, comprando minha carne de cordeiro moída, coelho, barriga de porco...
Delícias da Carne
Rua Voluntários da Pátria, 340 F
(21)2527-7125/(21)8105-4435
deliciasdacarne@gmail.com
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