O Eça é um restaurante que fica no Centro da cidade do
Rio, muito frequentado pelo pessoal que trabalha por lá. Eu, como não bato ponto
em nenhuma empresa por ali, pouco ando pela região. Por isso, vou muito menos
ao Eça do que eu gostaria. Mas, num dia desses, resolvi tirar uma onda de turista
em minha própria cidade. E no meu passeio, incluí uma visita ao Centro, com
direito à exposição no CCBB, concerto no Municipal e, como não podia deixar de
ser, um almoço no Eça.
Cheguei ao restaurante por volta das 14h30, junto com
o Alexandre. Fomos recepcionados pela sommelière
da casa, Deise Novakowski, que chamou o chef – o belga Frédéric de Maeyer –
para definirmos o que iríamos comer. Nem quisemos olhar o cardápio. Deixamos
nossas escolhas sob responsabilidade do chef.
Começamos com o tartare de salmão com lâminas de vieira.
Como nem olhei para o cardápio, quando o chegou o prato nem percebi que era
vieira o que estava em cima do tartare. Na hora em que provei e senti o gosto
do molusco, gostei ainda mais do prato. Estava divino, com acidez na medida
certa.
A segunda entrada promoveu outra surpresa. Quando o
prato chegou, mais parecia uma carne com um crocante em volta. Mas que carne,
que nada. Bastou levar o garfo à boca para perceber que se tratava de um shitake.
O cogumelo vinha recheado com queijo de cabra tempura e chutney de tomate.
Estava muito gostoso embora eu não tenha entendido muito bem a função do
tempura no prato.
Em seguida veio uma terrine de foie gras com brioche
de porcini, beterraba e sal negro defumado. Estava um sonho! Achei fantástica a
ideia do brioche de porcini, pois casou muito bem com o foie gras. A beterraba,
além de acrescentar cor, deu um gosto terroso ao prato. O Fred sabe usar muito
bem foie gras, saindo do óbvio.
Fomos em frente com um filé de vermelho, camarão e
consommé de shitake. O consommé estava dos deuses, feito com shitake – o que deu
um toque todo asiático ao prato. Para completar, o peixe estava quase um
sashimi, não apenas pelo frescor mas principalmente pelo modo em que foi
cortado. O camarão finalizou bem o prato, reforçando a pegada oriental.
Completamos o almoço com o magret de pata, com risoto
de trigo sarraceno, redução de pera, e aspargos. Pra quem, como eu, pensava estar
cansada de pato, queimei a língua. Melhor pato que comi no ano (ou pata – o Fred
explicou que a carne da fêmea é mais macia que a do macho). Estava rosa como
uma picanha. O aspargo estava crocante e o risoto, diferente. A redução de pera
funcionou bem com a pata. Fiquei com esse prato na cabeça por muitos dias.
Que as sobremesas do Eça são de tirar o chapéu, todo
mundo está cansado de saber. Mas a que foi servida pelo Fred nesse almoço foram
mais do que isso. Era um espetáculo digno do concerto que eu assistiria horas
depois! Frutas vermelhas, acompanhadas por um biscoito feito com especiarias
(um toque natalino) e, como não poderia deixar de ser (ainda mais para um
belga), chocolate. Era como se um pouquinho de tudo o que dá prazer estivesse
traduzido no prato. O almoço foi todo harmonizado com vinhos escolhidos pela
Deise, que acompanharam maravilhosamente bem cada um dos pratos servidos.
Saímos do Eça satisfeitos, mas longe de estarmos
cheios. Ou melhor, cheios sim, mas de disposição para curtirmos os programas
que nos esperavam: a exposição e o concerto. E depois de uma sexta-feira
dessas, olhando o Centro por ângulos diferentes, a salvos de toda aquela
correria frenética e pressa desenfreada do lugar, fica a lição: como é bom ser
turista na própria cidade.
por Luciana Plaas (texto e fotos)
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