por Alexandre Lalas
No Chile, em uma tarde quente de junho do ano passado, doze pequenos vinhateiros, apaixonados pelo bom vinho, resolveram dar um basta, um grito de independência. Em uma indústria cada vez mais impessoal, dominada pela tecnologia e refém das leis de mercado, onde grandes conglomerados dividiam o espaço com endinheirados investidores, verdadeiros mecenas do vinho, este pequeno grupo de idealistas decidiu que era hora de fazer barulho. Uniram as forças, arregaçaram as mangas e assim nasceu o MOVI (Movimento de Vinhateiros Independentes).O MOVI é, de longe, a melhor notícia que aconteceu no panorama vinícola chileno nos últimos tempos. Mal nasceu, já cresceu, encorpou. À dúzia que criou o movimento, se juntaram outras quatro vinícolas. Em comum a elas, o compromisso com a independência e a busca por vinhos que reflitam o caráter e a identidade da terra e do local de onde vêm.
E ainda há outros compromissos que os sócios do MOVI precisam cumprir. Não pertencer ou manter laços com investidores ou poderosos grupos econômicos é uma condição primordial para a vinícola interessada em ingressar no movimento. Ter produção pequena e necessariamente voltada para a qualidade é outro ponto importante. E quanto mais pessoal e humano for o vinho, melhor.
Fazem parte do MOVI as seguintes vinícolas: Bravado Wines, Clos Andino, Flaherty, Garage Wine Co., Gillmore, Hereu, I Latina, Meli, Polkura, Reserva de Caliboro, Rukumilla, Sigla, Starry Night, Tipaume, Trabun e Von Siebenthal.
O casal Constanza Schwaderer e Felipe García, pais do tinto Facundo e do branco Marina, eleito pelo Guia de Vinhos do Chile como o melhor sauvignon blanc do país no ano passado, pilotam a Bravado Wines.
Outra estrela da companhia é a Von Sibenthal. Dona de um portfólio invejável, é considerada por muita gente (eu, inclusive) a melhor vinícola chilena da atualidade.
A Reserva de Caliboro, do conde italiano Francesco Marone Cinzano, produz apenas um vinho, o Erasmo, tinto de corte, feito no Vale do Maule e um dos mais elegantes vinhos do país.
A Polkura produz poucas garrafas de um syrah de qualidade feito em Marchigüe, no vale do Colchágua.
Ed Flaherty é enólogo da Viña Tarapacá e um dos principais responsáveis pelo salto de qualidade que a vinícola deu nos últimos anos. Em paralelo, toca um projeto pessoal, junto com a esposa, Jen Hoover: a Flaherty Wines. O vinho, um corte de syrah e cabernet-sauvignon, é um espetáculo.
Sigla é um projeto dos enólogos Cecilia Guzmán (Haras de Pirque), Germán Lyon (Perez Cruz), José Pablo Martin (Tamaya) e o francês Pierre Viala. O vinho é um belo cabernet/syrah do Alto Maipo
A Rukumilla é uma vinícola orgânica do vale do Maipo, pertencente a Andres Costa. Apenas um vinho é produzido, outro corte de cabernet/syrah, de excelente qualidade.
Francês de Cognac, Jose Luis Martin-Bouquillard passou cerca de 15 anos na gigante Pernod-Ricard e quatro na LVMH, mais precisamente na Veuve-Cliquot. No Chile, dirige com outros cinco amigos a Clos Andino, vinha de Curicó, especializada em cabernet-sauvignon.
A Garage Wine Co. e um projeto franco-canadense, cujas uvas provém do Alto Maipo, de Casablanca ou do Aconcágua, dependendo do que os enólogos pretendem. Os vinhos são bons e difíceis de encontrar, mesmo no Chile.
A Gillmore é uma vinícola do vale do Maule, colecionadora de prêmios. O Hacedor de Mundos, corte de cabernet franc, cabernet-sauvignon e merlot, é assombroso.
Hereu é um corte de syrah, malbec e carignan, de três diferentes vales chilenos. O dono da vinícola é o francês Arnaud Hereu, que também é enólogo da Odjfell.
Irene Paiva, enóloga da San Pedro, é uma das sócias do I Latina, que faz um bom syrah no vale do Cachapoal.
Os vinhos da Meli, Starry Night, Tipaume e Trabun eu ainda não tive a chance de provar. Mas, em se tratando de sócios do MOVI, singulares eles com certeza devem ser.
Oi Alexandre,
ResponderExcluirGostei muito do que vc escreveu sobre o MOVI. Gostaria de saber se vc autoriza a publição de seu post em meu blog sobre o Chile:
kultrunchile.blogspot.com
abs,
ana claudia