segunda-feira, 8 de março de 2010

Tempo de recomeçar

por Alexandre Lalas


Santiago do Chile, 27 de fevereiro, 3h30 da madrugada. Quando a natureza, mais uma vez, mostrou o quanto pode ser devastadora, Derek Mossman Knapp, enólogo e dono da Garage Wine e Co., dormia em casa com a mulher e os filhos. Então, de repente, as janelas tremeram, a terra gemeu e a cidade acordou apavorada. Derek e a mulher pegaram os filhos e, mesmo mal conseguindo ficar de pé, arrastaram-se para fora da casa que parecia que ia ruir. Durante dois minutos, protegeram-se no batente da porta. Quando tudo parou, foi-se embora a eletricidade.

No dia seguinte, foi hora de arrumar a bagunça. Na William Fèvre, vinícola em que faz os seus vinhos no Alto Maipo, o panorama que Derek encontrou era terrível. Tanques avariados, barricas rompidas, falta de ventilação e eletricidade, garrafas quebradas e o piso com uma cor púrpura sangrenta e que tornava o cenário ainda mais assustador.

O Chile é um dos principais países produtores de vinho do mundo. O Brasil é um mercado importante para os chilenos. Ainda mais depois da crise financeira que provocou a queda das vendas para mercados como o inglês e o americano. O vinho mais bebido em nosso país é o chileno. E, embora não possamos dimensionar a tragédia em número de garrafas quebradas, tanques avariados ou litros perdidos, o fato é que a indústria chilena sofreu um forte abalo por conta do terremoto. As primeiras estimativas são de que 12,5% da produção foram afetadas. Grandes vinícolas como Concha y Toro, Santa Rita e Montes sofreram grandes prejuízos. Mas foram os pequenos produtores, que fazem vinhos artesanais, em quantidades mínimas, os que mais sofreram com o desastre.

As duas zonas mais afetadas pelo tremor foram Bío-Bío e Maule. Nestas regiões, o vinho é um importante ator na economia e um dos principais responsáveis pelo crescimento econômico registrado nos últimos anos. Ali, a situação foi ainda pior. Os primeiros relatos, ainda um tanto desencontrados, falam em vítimas entre os trabalhadores da Reserva de Caliboro, vinícola que produz o Erasmo. A Gillmore, outra importante bodega do Maule também teria sofrido sérios danos, inclusive com rachaduras em edificações.

Sven Bruchfeld, da Polkura, disse para a Wine Spectator que perdeu 50% da produção do shiraz que produz. Falou ainda que a maioria dos tanques de aço inox desabou. Por conta disso, ele declarou não ter a menor ideia de como fazer com as uvas da colheita de 2010. “Milhões de litros estão no chão, foi terrível, um enorme dano para a indústria”, afirmou Sven.

Mas apesar do caos e do desespero, o Chile irá reagir. “Iremos reconstruir tudo o que Mãe Natureza quebrou no sábado. Vamos reconstruir telhado por telhado, cidade por cidade, indústria por industria, barril por barril”, garante Derek. E de certa forma, todos podem ajudar. Mesmo que seja comprando uma garrafa de vinho chileno.

Um comentário:

  1. Podemos fazer um encontro só de vinhos Chilenos em homenagem aos hermanos e postar os rótulos no facebook pra incentivar o consumo e ajudar o Chile nesse momento dificil, o que acha? abs ,Pierre Aderne

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