sábado, 13 de fevereiro de 2010

Muito além do retsina

por Alexandre Lalas


Quando as pessoas pensam em vinho grego, a primeira coisa que lhes vem à cabeça é o tradicional retsina, vinho branco em que, antes ou durante a fermentação, são adicionados ao mosto pedaços de resina de pinheiro de Alepo. Muita gente odeia e sequer considera a bebida um vinho de fato. Eu gosto. Beber um resinado é como viajar no tempo, já que sua origem remonta à Antiguidade. Mas o fato é que a indústria vinícola grega tem muito mais a oferecer do que os vinhos resinados. E nos últimos anos, os brasileiros têm começado a descobrir estas opções.

O país é repleto de castas autóctones, com nomes quase impronunciáveis. Para os que curtem descobrir uvas diferentes, é uma beleza. Entre as brancas, destaque para a savatiano e a assyrtikó. A primeira é a mais plantada uva grega, comumente usada na produção dos resinados. Infelizmente, é associada a vinhos de baixa qualidade. Recentemente, bons produtores têm conseguido resultados interessantes com a savatiano. A assyrtikó é originária de Santorini. Costuma gerar brancos minerais e ricos em acidez.

Outras três uvas brancas gregas merecem atenção: malagousia, moschofilero e robola. A malagousia estava praticamente extinta há 20 anos atrás. E se não sumiu de vez de mapa, muito se deve ao trabalho de Vangelis Gerovassiliou, então enólogo da Carras Estate, vinícola de Calcídica. Os primeiros varietais de malagousia apareceram no mercado no começo dos anos 1990. Aromas de flores brancas são comuns a vinhos feitos com esta uva, principalmente nos que não passam por madeira. A moschofilero é bastante popular na Grécia. Gera brancos com muita intensidade aromática, semelhante aos feitos com muscat e gewürztraminer. A robola é a principal cepa da Cefalônia e das Ilhas Jônicas. Seus vinhos costumam ser frescos, vivos e cítricos.

Entre as tintas, muita diversidade. A principal uva é a agiorgitiko. Versátil, pode ser usada na produção de rosados, tintos leves ou encorpados e até vinhos de sobremesa. Nemeia, no Peloponeso, é de onde saem os melhores feitos com a casta. A mavrodaphne é uma das mais conhecidas uvas da Grécia. Muito por conta do vinho de sobremesa epônimo, feito em Patras. Lembra muito um porto tawny. Outra uva tinta interessante é a xinomavro. Pobre em cor e rica em acidez, costuma ter aromas florais com toques de especiarias. Típica de Creta, a kotsifali é mais usada em cortes, principalmente com a mandilaria. Uma das mais antigas uvas gregas, a limnio também é mais usada em blends.

O mapa do vinho grego é dividido em onze regiões oficiais, que abrigam 28 apelações de origem. As regiões são Trácia; Macedônia; Epiro; Tessália; Grécia Central e Ática; Peloponeso; Ilhas Cíclades; Rodes; Cefalônia e Ilhas Jônicas; Limnos, Samos e Ilhas do Egeu; e Creta. Na última década, investimentos pesados, tanto nas vinhas quanto nas cantinas, transformaram o perfil do vinho grego. A busca pela qualidade passou a ser uma obsessão entre os bons produtores. No Brasil, algumas importadoras têm apostado, com algum sucesso, nos gregos. A Mistral traz bons rótulos de Gaía, Gerovassiliou e Antonópoulos. A Vinci aposta nos vinhos da gigante Boutári e da tradicional Cambás, de propriedade da Boutári. A Expand importou vinhos do Château Nico Lazaridi.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Na dúvida, churrascaria

por Luciana Plaas


Sabe aqueles dias em que a gente não tem a menor ideia daquilo que quer comer? Pois é, com o calor destes dias tenho me sentido com frequência assim. Sábado passado foi exemplo disso. Eu e Alexandre estávamos na Barra, com uma fome meio mais ou menos. O que comer? Nenhum dos dois ousava escolher. A solução? Uma churrascaria. E fomos os dois para a Barra Grill (R$ 63, o rodízio).


Fomos recebidos na porta pela Juliani Hininh, a sommelière do Barra Grill. Além de competente, ela é uma simpatia. Como nos conhece de outros carnavais, mal sentamos e ela pediu logo uma dúzia de ostras. Eles têm sempre e são deliciosas. Mas nem vou falar muito das ostras, ou vai parecer que como apenas isso!


Logo depois estacionou ao nosso lado o carrinho de caipirinhas. O caju estava com uma cara ótima. Não resistimos. Bladimir, o “piloto”, nos preparou duas de cachaça Montanhesa e caju (R$13). Divina! Fui dar uma olhadinha no bufê. Adoro a salada waldorf. Aquela com maça, aipo e nozes. Servi-me também de sashimi de salmão e alface.


Quando começaram a chegar as carnes, pensei que não ia nem comer. Mas a picanha estava linda, mal passada como eu gosto, e lá fui eu. Chegou a farofa de ovo, imprescindível com a carne. Como resistir? Lembrei-me que tinha salada de batata bufê. Aí a farra ficou completa.


Reparei que estava sendo montada uma adega enorme, logo na entrada, junto ao bar. Perguntei à Ju qual seria a capacidade e ela nos disse que teria espaço para 1.800 garrafas. Ela ainda nos contou que o restaurante inteiro está sendo reformado. Tudo por partes, para não atrapalhar a clientela.



Conversa vai, conversa vem, voltou o Franklin, o garçom daquela primeira picanha. Perguntou-nos qual seria a carne da vez? Como não decidíamos, ele foi à cozinha e voltou com várias peças de carne, ainda cruas. Explicou-nos cada pedaço. Como nem eu nem Alexandre éramos capazes de decidir mais nada àquela altura, deixamos que o próprio Franklin escolhesse qual seria a próxima carne. Minutos depois ele veio com uma surpresa: um kobe bife. Mal precisava de faca. Um sabor maravilhoso, para deixar guardado na memória. Depois, só mesmo um café e a conta, por favor!

Avenida Ministro Ivan Lins, 314
Barra da Tijuca
2493-6060 e 2493-4003
www.barragrill.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Bendita cachaça!

por Alexandre Lalas

Embora o título da coluna que eu escreva semanalmente no Jornal do Brasil seja “vinhos e outras cachaças”, a mais brasileira das bebidas nunca teve um grande espaço por lá. Chegou a hora de reparar esta injustiça. Por definição, a cachaça é a aguardente produzida pela destilação do mosto resultante da fermentação do caldo de cana. No sentido figurado, significa paixão, inclinação ou gosto, por uma pessoa ou uma coisa. Há ainda outro, pejorativo, que muito irrita aos admiradores da cachaça: é quando alguém que bebe além da conta é taxado como “cachaceiro”. Maldade. Como bem lembra o especialista em cachaça Bernardo Kvapil, muitas vezes a pessoa sequer bebe cachaça.

Bernardo é um dos batalhadores para que a cachaça seja vista de forma mais carinhosa pelo brasileiro. E um ferrenho defensor do controle de qualidade da bebida. Ele costuma ensinar que ao escolher uma cachaça, o consumidor deve estar atento a alguns detalhes. Selo do IPI, informações do fabricante, procedência, CNPJ e registro no Ministério da Agricultura são garantias de que certos padrões foram cumpridos na fabricação.


Assim como o vinho, degustar cachaça também tem lá os seus rituais. Mais uma vez, é Bernardo Kvapil quem dá as dicas. Para começar, é preciso analisar a cor. A boa cachaça tem que estar transparente. Mesmo aquelas envelhecidas em madeira. Partículas em suspensão significam impurezas. E um provável descuido na hora de engarrafar a bebida. Cachaças turvas devem ser evitadas. Outra dica de Bernardo é girar o líquido no copo, assim como no vinho. As bebidas que não formem lágrimas são cachaças de nível inferior.

O passo seguinte é avaliar o aspecto olfativo. Segundo Bernardo, uma boa cachaça tem aromas de cana em primeiro lugar. E, dependendo do tipo de armazenamento, baunilha, canela, cravo e outras especiarias. Aromas de couro, terra e ovo denotam a presença de objetos estranhos à cachaça, portanto, de má procedência. Outro aspecto que mostra defeito na bebida é a ardência no nariz quando se inala a cachaça.

E, por fim, botamos a cachaça na boca. Bernardo recomenda que o degustador dê dois pequenos goles apenas para espalhar pela língua e as bochechas. Com a boca já preparada para receber o líquido, aí sim o degustador pode tomar goles mais generosos. Uma advertência que Bernardo faz é sobre o tipo de cachaça a ser provado. As novas, em geral brancas, com estágio em aço ou madeiras neutras, são mais agressivas ao paladar. Em geral, são as preferidas dos já iniciados. Enquanto as envelhecidas em madeira são, na maioria das vezes, mais macias, redondas.

Portanto, aproveite as preciosas dicas de Bernardo Kvapil, escolha a cachaça e deixe se levar pela mais brasileira das bebidas. Seja pura ou na consagrada caipirinha, com a fruta que bem entender.