sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Essência do Vinho



Mal passava das 9 da manhã quando cheguei para ao Palácio da Bolsa para a prova de escolha do Top 10 da EV – A Essência do Vinho, feira patrocinada pela revista Wine, que acontece anualmente na cidade do Porto, em Portugal, e que teve a nona edição realizada entre os dias 16 e 19 de fevereiro. As portas seriam abertas ao público apenas às 15 horas. Mas tudo já estava devidamente arrumado. As mesas postas, com os nomes dos respectivos produtores, cuspidores, corredores largos, enfim, um show de organização.

Não por acaso, a EV firma-se, ano a ano, como um dos mais importantes eventos de vinho em Portugal. Nesta edição, participaram cerca de 350 produtores, que disponibilizaram ao redor de 3 mil vinhos para degustação, incluindo alguns tops de linha. Nos quatro dias de evento, cerca de 20 mil pessoas passaram pelo Palácio da Bolsa. E o número de visitantes estrangeiros chegou ultrapassou a marca de 3 mil, ou seja, pelo menos 15% do público total.

Voltando à prova do Top 10 (realizada na manhã do dia 16, antes de a feira abrir), éramos diversos jornalistas, entre portugueses e estrangeiros (de 11 diferentes nacionalidades), avaliando 45 vinhos pré-selecionados (8 brancos, 31 tintos e 6 portos). Para compor a lista dos 10 melhores da feira, seriam escolhidos o melhor branco, os oito melhores tintos e o melhor porto. Entre os brasileiros, além do repórter que vos escreve, estavam a Suzana Barelli, editora-chefe da revista Menu; Dias Lopes e Alexandre Bronzatto, respectivamente editor e colaborador da revista Gosto; e o advogado Carlos Celso Orcesi, colunista de vinhos do jornal Diário do Comércio, de São Paulo. As notas seguiam o padrão consagrado em Portugal, com um máximo de 20 pontos. Destaque para o alto nível da prova, em especial, nos vinhos brancos.

O resultado final foi divulgado no dia seguinte, durante um jantar no luxuoso restaurante do hotel Yeatman, onde tive a honra de entregar um dos prêmios concedidos. Além dos vinhos premiados no Top 10, a solenidade serviu para que a revista Wine entregasse os troféus aos melhores do ano segundo a publicação.

Na feira, além dos expositores, chamou a atenção o bom número de degustações paralelas. Entre elas, “vinhos exóticos de Portugal”, comandada pelo crítico de vinhos português Rui Falcão, e “os grandes moscatéis de Setúbal da Bacalhôa”, conduzida pela enóloga Filipa Tomáz da Costa.

Os brasileiros terão a possibilidade de conferir in loco a capacidade organizacional do pessoal da EV no mês que vem. É que entre os dias 20 e 22 de março a recém-criada Essência do Vinho Brasil realiza, no Rio de Janeiro a “Brasil International Wine Fair”, uma feira internacional de vinhos que está incluída na 24ª edição da “Super Rio Expofood”, no Riocentro. Se a feira carioca mantiver os padrões de qualidade da irmã mais velha do Porto, estaremos bem na fita...

Confira abaixo os vinhos indicados para o Top 10, os vencedores do concurso e os premiados pela revista Wine:



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

por Luciana Plaas


Pela segunda vez, na mesma semana, saí de casa para o jantar no restaurante Eñe. Mas, ao contrário do dia anterior, quando me confundi toda, desta vez era sim a data certa do jantar. Confesso que deu uma preguiça danada de sair de casa de novo, mas não é sempre que se tem a chance de comer trufas negras. Por isso, tomei coragem e lá fui eu novamente. Ao rever o manobrista do hotel, nos cumprimentamos como velhos conhecidos. Com o maître, já no restaurante, foi a mesma coisa.

Enquanto esperava os outros convidados para o festival de trufas, o chef Javier nos contou que ele mesmo colheu as trufas. E disse que ficou com medo da alfândega quando chegou no Brasil com a mala recheada de trufas, quatro quilos para o festival. Felizmente, elas chegaram sãs e salvas para nossa alegria.

Tudo começou com o Royal de trufas. Um creme leve de trufas, feito à base de caldo de vitelo. Era aveludado, deu vontade de pedir bis.



O primeiro prato foi a Crema de feijão verdes com trufas. O chef explicou que o feijão usado para fazer o creme, é branco, mas colhido ainda verde, para acentuar o gosto. Foi servido com gelatina de consome, em cubos, bacon e trufas. Creme denso combinou muito tudo.



De todos os pratos, o mais surpreendente foi o Ovo com jamón e trufas. Era um ovo servido em creme de espinafre, com fatias de presunto e trufas. Pra começar, ovo com trufas, por si só já é muito bom, esse então estava um espetáculo. O creme de espinafre deu liga e leveza ao prato e o jamón contribuiu com textura e sabor.



Outono com trufas foi o nome do prato seguinte, uma emulsão de cogumelos catalães, lâminas de trufas e areia de cogumelos. Foi o prato que menos me encantou. Achei bastante pesado, faltou a leveza que encontrei em todos os outros pratos.



O prato de peixe foi uma garoupa com molho de civet (molho denso de vitelo), servido com raiz salsifí (uma raiz catalana que não tem tradução) e lâminas de trufas. Gostei muito do peixe servido com o molho de carne, deu corpo ao prato. A garoupa estava desmanchando na boca, muito delicada.



Em seguida, veio o inevitável porquinho, que não podia mesmo faltar. Chamava-se mil folhas de coxinilho com trufas. As trufas estavam em lâminas intercaladas entre o jamón e o porco, formando assim o mil folhas. Foi servido com um purê de cará e molho perigueux com trufas. Derretia na boca, um sabor maravilhoso e o tamanho da porção, perfeita.



O prato de queijo, foi com o Torta del casar, queijo de denominação de origem, da região da Extremadura. O chef fez uma terrine do queijo com trufas trituradas. O queijo sozinho fica um pouco cansativo, mas o vinho, Dehesa Gago, cumpriu seu papel com primor. Segurou o queijo direitinho. Foi um casamento e tanto.



A sobremesa se chamava Joia de chocolate com sorvete de baunilha. Nessa sobremesa, o chocolate, tinha uma textura toda especial, era como estivesse a ponto de endurecer. Muito diferente e nada enjoativo. O sal que tinha por cima de o toque que faltava. A trufa era uma poeira por cima. O sorvete misturava os sabores. Esse foi o prato que fiquei com mais medo. Quando li o menu, pensei: isso pode dar muito errado. Mas, para minha felicidade, aconteceu o contrario: estava divino.




Todos os pratos foram harmonizados com vinhos em taças, que nesse caso é a melhor opção. Pena que não pude provar todos por conta da Lei Seca que poderia estar me esperando no caminho de volta.


Foi uma noite e tanto, valeu muito ter voltado pela segunda vez na semana a São Conrado. O Eñe está sempre trazendo alguma novidade, é só ficar atento para qual será a próxima.