sábado, 8 de maio de 2010

Aeração a jato

por Alexandre Lalas

Eu não sou um sujeito dos mais crédulos. Sou um tanto cético até. Não costumo acreditar em soluções instantâneas ou efeitos milagrosos. Ainda mais em questões relacionadas ao mundo do vinho. Por isso, quando o sommelier Dionísio Chaves me convidou para ir ao Fasano prestigiar o lançamento do Vinturi, pensei duas vezes. Mas, movido muito mais pela vontade de prestigiar o meu amigo do que pela curiosidade em conhecer o produto, fui lá conferir.

Muitas vezes, ao abrirmos um vinho, a bebida não está exatamente como pensada pelo enólogo. Falta-lhe aroma. Neste caso, dizemos que o vinho está “fechado”. Quando o oxigênio entra em contato com o líquido, alguns aromas são liberados. Em alguns casos, um decantador pode ser utilizado para acelerar este processo. O tempo varia de acordo com a bebida. Para abrir, um vinho pode levar 30 minutos. Às vezes, leva ainda mais tempo. O Vinturi, o tal produto que seria lançado no Fasano, promete cumprir este papel em questão de segundos. Antes de ir, como de costume, torci o nariz para a invencionice e não levei a menor fé no resultado.

Acontece que o inventor do Vinturi não é um sujeito qualquer. Rio Sabadicci já trabalhou na NASA e na Apple. É daqueles caras que vivem para inventar coisas. Bebedor de uísque, um belo dia, jantando na casa de amigos, ficou intrigado quando o anfitrião decantou um cabernet-sauvignon no vale do Napa. O fato de o vinho melhorar depois de algum tempo aberto despertou a curiosidade de Rio pelo assunto. Como todo norte-americano que se preza, Rio não gosta de esperar. E, no tempo livre que tinha, assim, como um hobbie, decidiu inventar algo que aerasse o vinho imediatamente. Dois anos depois, chegava ao mercado o Vinturi.

No Fasano, cada degustador recebeu quatro taças de vinho: duas de branco, duas de tinto. O branco era um chardonnay e o tinto, um cabernet-sauvignon. Ambos chilenos, ambos ainda bem jovens. Estávamos lá para ver se realmente havia diferença entre o vinho que passara pelo Vinturi e o outro, que não havia passado. Eis que eu, sujeito sem fé, caí bonito do cavalo.

Entre os brancos, a diferença era abissal. Enquanto o que não havia passado pelo produto apresentava um nariz dominado pela madeira, com aromas de baunilha e coco, o outro, que havia passado pelo Vinturi, mostrava-se menos intenso aromaticamente, porém muito mais elegante e agradável. No caso dos tintos, o sem Vinturi tinha um aroma forte de pimentão verde, que sumiu, como por encanto, na taça do que havia passado pelo aerador. Ou seja, em ambos os casos, o vinho melhorou com o produto.

Com o tempo, ambos os vinhos se equivaleram. Mas o fato é que o Vinturi, de fato, cumpre o que promete: uma rápida aeração da bebida. E isso acontece por conta de pequenos furinhos laterais que promovem uma rápida oxigenação do vinho. Existe a versão para tintos e a para brancos. Esta última tem furinhos laterais um pouco maiores, e são recomendadas também para a aeração de vinhos feitos com a pinot noir e a syrah.

Nos Estados Unidos, o Vinturi é líder de mercado entre os aeradores. Por lá, custa cerca de US$ 40. Já a caminho do Brasil, custará algo em torno de US$ 70. Coisa de R$ 120. A quem não crê na eficácia do troço, eu recomendo experimentar. Fazer experiências, aliás, é meu plano, assim que comprar o meu. Vou querer ver em quais casos a utilização do Vinturi vale a pena. Rio Sabadicci não tinha o menor respeito pelo vinho. Caso tivesse, certamente sequer teria pensado em inventar uma coisa dessas. Mas que o negócio funciona, isso não há como negar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Entre dois mitos

por Alexandre Lalas


A Arzuaga Navarro fica no coração da Ribera Del Duero, exatamente entre a mítica Vega Sicilia e o aclamado Domínio de Pingus. São 150 hectares de um solo pobre e repleto de rocha calcária. E, assim como os vizinhos, Ignacio Arzuaga Navarro faz ali, desde 1993, vinhos de qualidade rara, sempre entre os melhores produzidos na Espanha.

Na última terça-feira, Ignacio veio ao Rio para apresentar os vinhos aos enófilos da cidade. Um almoço no Bistrô 66 com donos de restaurantes e jornalistas, e um jantar no Terzetto dirigido ao consumidor final. Fui ao jantar.

O primeiro prato, polvo cozido com páprica espanhola, não veio acompanhado por um vinho da Arzuaga. A Cava Raventós, trazida pela mesma importadora, a Decanter, fez as honras. Tanto o prato quanto o espumante estavam bons.

Então começou o serviço dos vinhos que estávamos lá para provar: os da Arzuaga Navarro. O primeiro foi o Crianza 2006 (R$ 125, Nota 9). E a melhor palavra para descrever este corte de tempranillo (90%), cabernet-sauvignon (7%) e merlot (3%) é frescor. No nariz, fruta vermelha e notas de baunilha. Na boca, além da acidez marcante, fruta, cremosidade e equilíbrio. Um belo cartão de visitas. O segundo vinho foi o Reserva 2005 (R$ 230, Nota 8,5). Nariz de média intensidade, com notas de frutas negras e especiarias e um toque de baunilha. Na boca, nervoso, com taninos ainda duros, mas elegantes, bom corpo e final longo e com leve amargor. Um vinho de guarda, que tende a melhorar com a idade. Com os dois vinhos, foi servida uma paella valenciana. Estava saborosa e combinou bem com ambos os vinhos.

Em seguida, provamos o Reserva Especial 2004 (R$ 400, Nota 8,5), corte de tempranillo (95%) com albillo, chamada de blanca del pais na região (5%). Intenso no nariz, com notas de frutas negras frescas, baunilha e alcaçuz. Na boca, untuosidade, maciez e equilíbrio. Ao mesmo tempo, foi servido o Gran Reserva 2001 (R$ 580, Nota 9,5). Corte de vinhas bem velhas de tempranillo (95%), com uma pequena porcentagem de cabernet-sauvignon e merlot. Nariz rico e intenso, com notas de frutas negras frescas, cogumelos, alcaçuz, canela e cravo. Na boca, fino, generoso, macio, intenso, longo. Um grande vinho com muita estrada pela frente. Para acompanhar os vinhos, filé mignon com redução de vinho, foie gras fresco e aromas de trufas. Prato pesado e que não ajudava em nada os tintos.

Para finalizar os trabalhos, outros dois vinhos: Gran Reserva 1996 (R$ 580, Nota 9) e Gran Arzuaga 2004 (R$ 800, Nota 9,5). O primeiro demorou a abrir, mas quando o fez, apresentou aromas de couro, tabaco, baunilha e especiarias. Na boca, amplo, fino, sedoso, longo. O Gran Arzuaga 2004 foi o vinho da noite. Corte de tempranillo (95%) com albillo (5%), nariz intenso e rico, com notas de cereja, amora, cacau, tabaco, terra. Na boca, estrutura e classe andam de mãos dadas. Fino, sedoso e sedutor, harmônico, longo. Já está ótimo, mas ficará ainda melhor com o passar dos anos. Estes últimos dois vinhos foram degustados sem comida. Nem precisava. São, ambos, vinhos de meditação. Dignos do terroir de onde vêm.

Os vinhos da Arzuaga Navarro são importados pela Decanter. O telefone da loja no Rio de Janeiro é 2286-8838. Os preços são relativos ao mercado carioca e são promocionais, válidos até o final de maio.

Nas fotos abaixo, Ignacio Arzuaga e os participantes do jantar.






terça-feira, 4 de maio de 2010

Borgonha in Rio

por Luciana Plaas

Assim que acabou a Expovinis, em São Paulo, alguns produtores franceses da Borgonha que participaram da feira, vieram para Rio. Em um encontro descontraído no Sofitel, mostraram aos cariocas alguns dos rótulos que trouxeram para o Brasil. Estive lá e aproveitei para matar a saudade das férias na França, que parece que foi há muito tempo.

Como não fui à Expovinis, perguntei como havia sido. Todos disseram que a feira este ano estava muito bem organizada e que a parte francesa estava bastante grande. Muitos desses produtores estão a procura de um importador no Brasil.
Um bufê lindo, preparado Roland Villard e Dominique Guerin deixou o ambiente ainda mais gostoso.

Já no final da festa, os franceses da Borgonha fizeram um dança típica da região para comemorar o encontro.

Quando achei que tinha acabado, Roland convidou a todos para descermos até o Shopping Cassino Atlântico, onde, na Rua Francisco Otaviano, o chef abriu um novo espaço, O Beijo Carioca. Muito bonitinho. Tem sorvete, espumante, macaron. Mas este é assunto para outro texto.Produtores:
www.louismoreau.com
www.chablis-geoffroy.com
www.wineoflife.fr
www.domaine-maldant.com
www.hdv.fr