por Alexandre Lalas

Muitas vezes, ao abrirmos um vinho, a bebida não está exatamente como pensada pelo enólogo. Falta-lhe aroma. Neste caso, dizemos que o vinho está “fechado”. Quando o oxigênio entra em contato com o líquido, alguns aromas são liberados. Em alguns casos, um decantador pode ser utilizado para acelerar este processo. O tempo varia de acordo com a bebida. Para abrir, um vinho pode levar 30 minutos. Às vezes, leva ainda mais tempo. O Vinturi, o tal produto que seria lançado no Fasano, promete cumprir este papel em questão de segundos. Antes de ir, como de costume, torci o nariz para a invencionice e não levei a menor fé no resultado.
Acontece que o inventor do Vinturi não é um sujeito qualquer. Rio Sabadicci já trabalhou na NASA e na Apple. É daqueles caras que vivem para inventar coisas. Bebedor de uísque, um belo dia, jantando na casa de amigos, ficou intrigado quando o anfitrião decantou um cabernet-sauvignon no vale do Napa. O fato de o vinho melhorar depois de algum tempo aberto despertou a curiosidade de Rio pelo assunto. Como todo norte-americano que se preza, Rio não gosta de esperar. E, no tempo livre que tinha, assim, como um hobbie, decidiu inventar algo que aerasse o vinho imediatamente. Dois anos depois, chegava ao mercado o Vinturi.
No Fasano, cada degustador recebeu quatro taças de vinho: duas de branco, duas de tinto. O branco era um chardonnay e o tinto, um cabernet-sauvignon. Ambos chilenos, ambos ainda bem jovens. Estávamos lá para ver se realmente havia diferença entre o vinho que passara pelo Vinturi e o outro, que não havia passado. Eis que eu, sujeito sem fé, caí bonito do cavalo.
Entre os brancos, a diferença era abissal. Enquanto o que não havia passado pelo produto apresentava um nariz dominado pela madeira, com aromas de baunilha e coco, o outro, que havia passado pelo Vinturi, mostrava-se menos intenso aromaticamente, porém muito mais elegante e agradável. No caso dos tintos, o sem Vinturi tinha um aroma forte de pimentão verde, que sumiu, como por encanto, na taça do que havia passado pelo aerador. Ou seja, em ambos os casos, o vinho melhorou com o produto.
Com o tempo, ambos os vinhos se equivaleram. Mas o fato é que o Vinturi, de fato, cumpre o que promete: uma rápida aeração da bebida. E isso acontece por conta de pequenos furinhos laterais que promovem uma rápida oxigenação do vinho. Existe a versão para tintos e a para brancos. Esta última tem furinhos laterais um pouco maiores, e são recomendadas também para a aeração de vinhos feitos com a pinot noir e a syrah.
Nos Estados Unidos, o Vinturi é líder de mercado entre os aeradores. Por lá, custa cerca de US$ 40. Já a caminho do Brasil, custará algo em torno de US$ 70. Coisa de R$ 120. A quem não crê na eficácia do troço, eu recomendo experimentar. Fazer experiências, aliás, é meu plano, assim que comprar o meu. Vou querer ver em quais casos a utilização do Vinturi vale a pena. Rio Sabadicci não tinha o menor respeito pelo vinho. Caso tivesse, certamente sequer teria pensado em inventar uma coisa dessas. Mas que o negócio funciona, isso não há como negar.