sexta-feira, 9 de julho de 2010

Na Copa e na cozinha

por Luciana Plaas

Demorei bastante tempo para ir até o restaurante Eñe, em São Conrado. Ao meu ver, quando um restaurante abre é muito difícil avaliar como ele realmente vai ser. É preciso dar tempo para a cozinha se acertar e o serviço ficar afiado. Antes de seis meses, não acho justo qualquer crítica. Logo quando o Eñe abriu, ouvi comentários contra e a favor da casa. Por isso, esperei até que parassem de falar um pouco de lá para ir e tirar as minhas próprias conclusões.

Era sábado e nossa mesa, de sete. Nada melhor do reunir vários amigos de uma vez só. Se a mesa é redonda então, todo mundo fica feliz. Como a maioria de nós estávamos indo ao Eñe pela primeira vez, o maître sugeriu o Gran Menu Degustação (R$140,00).

Começamos no melhor estilo espanhol: o couvert da casa, que tem pão, linguiças e chouriço, regados por um azeite maravilhoso (R$14,00). Daí por diante os pratos vieram num ritmo contínuo e preciso. Lembrando que era uma sábado e o restaurante estava lotado.

O primeiro prato foi o Tartar de pescados com ovas de peixe voador. Além de lindo era uma delicadeza só. Acidez no ponto certo. Começamos bem, pensei.

O segundo foi o Ravioli de castanhas de caju, foie gras e azeitonas pretas. Um ravióli grande com um caldo bem saboroso. Achei um pouco doce demais. Culpa de castanha.

Depois veio o Olhete com crosta de fideus e ceviche de melancia. Outro prato muito bonito. Adorei a crosta de fideus, uma espécie de massa bem fininha. Deu uma crocância boa ao peixe. Por sinal, este nem me encantou tanto assim. Em compensação, poderia comer um prato inteiro do ceviche de melancia.

O próximo prato foi o Ensopado de alcachofra com panceta e caldo de carne. Estava divino. A mesa inteira gostou. Parecia que seria o eleito da noite. Até que nos serviram o último prato: Leitão crocante com maçã. Fui às nuvens. Um delírio. Como é bom comer um porquinho bem feito e crocante.

Mas, uma das pessoas da mesa, que não come carne, escolheu o Arroz negro com lagostim e lula. Todos provamos o prato dela. Coitada, quase não sobrou nada, de tão bom que estava. Da próxima vez, este prato será uma das minhas escolhas. O bom de um menu degustação é justamente o fato de podermos provar uma série de pratos diferentes. Por alguns nos apaixonamos, por outros, nem tanto. O que vale é a surpresa.

Como estávamos bebendo vinho, seguimos com queijos. Aliás contamos com o serviço impecável e a presença elegante da sommelière Cecília Aldaz.

Para terminar veio a sobremesa: Turrón gelado de amêndoas. Muito gostoso.
Realmente os espanhóis, quinhentos anos depois de dividirem o globo com Portugal, estão querendo reconquistar o mundo. Na culinária, nos vinhos e até no futebol.

Eñe - Hotel Intercontinental
Avenida Prefeito Mendes de Morais, 222
São Conrado
TEL. (21) 3322-6561
www.enerestaurante.com.br

De portas abertas

por Alexandre Lalas

Era uma vez um país. Nasceu como reino em 1929 e foi esfacelada por diversas ocupações em 1941 para renascer como república em 1945. Era a Iugoslávia. Comandada por Josip Broz Tito, o idolatrado Marechal Tito, de 1945 a 1953 como primeiro-ministro e de 1953 até a morte, em 1980, como presidente. Tito foi capaz de manter unida uma região famosa pelo histórico de conflitos. Durante o período em que o Marechal deu as cartas, dizia-se que a Iugoslávia era um país formado por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um partido. Embora fosse socialista, mantinha independência da poderosa União Soviética. Mas Tito morreu em 1980 e a frágil união que mantinha a Iugoslávia de pé começou a ruir. Até que em 1991 o país desintegrou-se de vez. Eslovênia e Croácia foram as primeiras repúblicas a proclamarem independência. Depois veio a Macedônia. Em seguida a Bósnia-Herzegovina. E, na sequência, veio a guerra.

Naquela altura, a indústria vinícola da Iugoslávia era forte. E o país era um dos maiores exportadores do mundo de vinho por atacado. Exuberante em quantidade, não era famosa exatamente pela qualidade. Mas a tradição de vinhos sobreviveu a anos de guerra e à divisão do país. E, depois de uma longa visita ao fundo do poço, vinícolas de repúblicas que faziam parte da antiga Iugoslávia já chamam a atenção da Europa e do mundo para o que é feito ali. E, melhor ainda, desta vez é pela qualidade da bebida. E não pelo volume de litros.

Das ex-repúblicas iugoslavas, três se destacam na produção de vinhos: Croácia, Eslovênia e Macedônia. E com uma produção voltada majoritariamente para a qualidade, a Eslovênia é que produz os vinhos mais interessantes. Situada entre os Alpes e o Adriático, o país tem três regiões produtoras: Podravje, Posavje, e Primorje. A produção anual varia entre 800 mil e 900 mil hectolitros, esparramados em 21.600 hectares. Ou seja, em uma área quase duas vezes maior, a Eslovênia faz cerca de metade da quantidade do vinho que é produzido em Bordeaux, na França.

Podravje é a maior das regiões vinícolas eslovenas e conhecida especialmente pelos ótimos vinhos de sobremesa que produz e por brancos de altíssima qualidade. Fica entre as fronteiras com Áustria e Hungria e é dividida em seis áreas: Maribor, Radgona-Kapela, Srednje Slovenske Gorice, Haloze, Ljutomer-Ormoz, e Prekmurske Gorice. De influência mais francesa, e focada em vinhos de corte, especialmente brancos, Posavje é famosa pela imensa variedade de solos. Apenas em Bela Krajina, uma das quatro sub-regiões de Posavje, existem 22 tipo de solo. Região fronteiriça com a Itália e que mais sofre a influência mediterrânea, Primorje produz vinhos minerais, de média acidez e ricos em aromas. Embora seja a única região que produza tintos e brancos na mesma quantidade, são os brancos mesmo é que se destacam no cenário internacional.

Embora ainda esteja relativamente atrasado em comparação aos eslovenos, o vinho croata não para de crescer. E conta até com uma estrela mundial. Mike Grgich é um dos grandes enólogos do mundo. Em 1973, quando morava nos Estados Unidos, Mike foi o enólogo responsável pela produção do Château Montelena Chardonnay, que, três anos mais tarde, seria eleito o melhor vinho branco em uma prova às cegas realizada na França, entre vinhos franceses e americanos, no que ficaria conhecido mundialmente como O Julgamento de Paris. Na Croácia, Mike produz vinhos de altíssima qualidade. E é um estudioso da plavac mali, casta autóctone croata, prima-irmã da zinfandel.


A Croácia é divida em duas regiões principais, a costeira e a interiorana. Cada uma delas é subdivida em diversos pequenos distritos. Ao todo, a Croácia tem cerca de 300 áreas definidas para a produção de vinhos. No interior, os brancos são a maioria absoluta. A casta mais plantada é a graševina, que gera vinhos leves, de acidez elevada e mediamente aromáticos. No litoral, a imensa quantidade de ilhas e colinas criam uma infinidade de microclimas. Variedades bordalesas como cabernet-sauvignon e merlot são as mais plantadas junto com uvas autóctones como a plavac mali.

Embora ainda esteja um degrau abaixo do que fazem eslovenos e croatas, os vinhos da Macedônia não deixam de ser interessantes. O país tem três regiões produtoras: Povardarie, no centro do país; Pchinya – Osogovo, ao leste; e Pelagonia – Polog, a oeste. A maior é mais importante é Povardarie, que concentra 85% da produção do país. Entre os vinhos macedônios, vale a pena conhecer os feitos com a vranec, uva tinta típica de lá, que gera vinhos ricos em aromas, de boa estrutura e de grande carga tânica. Outra uva local interessante é a branca zilavka, que gera vinhos pouco aromáticos, mas cheios de volume e estrutura na boca.

Por enquanto, ainda não existem vinhos de nenhuma das ex-repúblicas iugoslavas no Brasil. Mas, em feiras realizadas na Europa, alguns importadores provaram coisas interessantes destes países e novidades podem em breve chegar ao nosso mercado. Estaremos esperando com as portas abertas.

Vinho da semana:
Piodilei Chardonnay Langhe 2007
Piemonte, Itália
De um pequeno vinhedo em Barbaresco vem as uvas, colhidas sempre bem maduras, para este vinho, um dos grandes brancos italianos. Intenso e rico no nariz, com notas de pêssego, abacaxi, especiarias e amêndoas. Na boca, tem boa estrutura, é macio, fresco e persistente.
Nota: 9
Preço: R$ 227,10
Onde: Decanter (2286-8838)

Barato bom:
Birilo 2005
Toscana, Itália
A Grand Cru vai parar de importar este vinho, leve, fresco e saboroso corte de cabernet-sauvignon, merlot e sangiovese. Por este motivo, as garrafas que ainda existem na loja estão em promoção, com os preços quase pela metade. Corra, antes que acabe.
Nota: 8
Preço: R$ 39
Onde: Grand Cru (2511-7045)