sábado, 7 de agosto de 2010

Chantagem e morte na Borgonha

por Alexandre Lalas

A Domaine da La Romanée-Conti (DRC) é uma das vinícolas de maior prestígio no mundo. A empresa produz apenas quatro mil garrafas por ano. Os vinhos da empresa são disputados por endinheirados colecionadores e cultuados por enófilos do mundo inteiro. São sinônimo de elegância, qualidade e bom viver. Tal status desperta admiração de muitos, inveja de alguns e ganância de outros. Eis que em janeiro deste ano, Aubert de Villaine, o dono da Romanée-Conti, começou a receber cartas anônimas e ameaçadoras. O missivista exigia o pagamento de 1 milhão de euros (R$ 2,3 milhões) para não envenenar as vinhas da vinícola.

Em princípio, Aubert não deu muita importância ao fato. Até que o autor das cartas resolveu jogar mais pesado. Primeiro, mandou uma planta detalhada da localização dos vinhedos da domaine, com algumas vinhas específicas marcadas. E quando duas vinhas foram encontradas com as raízes afetadas por uma substância química, a polícia foi acionada.

Uma operação foi montada para a captura do chantageador. Diretores da DRC deixaram um pacote com notas falsas no lugar indicado pelo bandido. A polícia monitorava o local, e quando o larápio apareceu para pegar o dinheiro, foi preso em flagrante. Depois descobriu-se que o mesmo sujeito já havia tentado aplicar o golpe em outra vinícola da Borgonha, a Domaine de Vogue, que fica nas cercanias de Chambolle-Musigny.

Na ocasião, as autoridades francesas acharam por bem não revelar o nome do chantageador. Apenas nesta semana, o mistério foi desfeito. E o motivo da revelação foi uma tragédia. Jacques Soltys, de 57 anos, o acusado de tentar extorquir a DRC, foi encontrado morto na cela da prisão onde estava, em Dijon, na França. Segundo os carcereiros que encontraram o corpo, Soltys teria se enforcado.

O filho de Soltys, acusado de cumplicidade nos dois golpes, segue preso, aguardando julgamento, com a identidade resguardada. Ao ser informado da morte do sujeito que o tentou extorquir, Aubert de Villaine preferiu não comentar o fato. Apenas lamentou a morte de Soltys.

Um cordeiro para os pais

por Luciana Plaas

Domingo é Dia dos Pais. Nestas datas, não recomendo restaurante algum. É fila atrás de fila, trânsito, um caos. Mas para não deixar a data passar em branco, segue uma receita para quem preferir celebrar em casa mesmo. O cordeiro agrada a nove entre dez homens. E esta é uma receita do Jamie Oliver, daquelas que não tem erro e não dão trabalho algum. Atenção pois o prato requer um longo tempo de cozimento, que deixa a carne ainda mais macia e gostosa. Portanto se for fazer o cordeiro, programe-se.

Serve 6 pessoas
1 pernil de cordeiro
sal e pimenta
3 colheres de sopa de azeite de oliva
6 fatias de bacon
3 cebolas roxas, cortadas em quatro
3 dentes de alho, descascados e fatiados
2 mãos cheias de um mix de ervas (tomilho, alecrim e loro)
4 batatas grandes, descascadas e cortadas em quatro
1 aipo cortado em quatro
6 cenouras, descascadas e partidas ao meio
3 batatas baroa, descascadas e partidas ao meio
1 garrafa de vinho branco

Aqueça forno na temperatura de 170C. Tempere o pernil com pimenta e sal. Numa caçarola grande ou em um tabuleiro, doure o pernil com azeite até que fique dourado de todos os lados. Acrescente o bacon e as cebolas e por último alho. Continue fritando por mais 3 minutos. Coloque os vegetais e as ervas, o vinho e a mesma quantidade de água. Deixe ferver e cubra com papel laminado. Leve ao forno por 5 horas, até que fique macio. Tempere o molho que sair da carne. Prove. Sirva com os vegetais.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Na própria carne

por Alexandre Lalas

Bordeaux, na França, é uma das mais conhecidas e respeitadas regiões de vinho no mundo. Os vinhos tops de lá são vendidos a preços cada vez mais estratosféricos e são tidos e havidos como o que de melhor e de mais valioso existe sobre a bebida. Tanto que os principais châteaus passaram incólumes pela recessão econômica que assolou meio mundo. Mas estes são os tops, os primos ricos da região. Existe uma imensa maioria de produtores em Bordeaux, que produzem vinhos de custo bem mais baixo, e que de um tempo pra cá não sabem mais o que fazer para venderem os seus vinhos. Para esta gente, uma indústria que emprega cerca de 50 mil pessoas, a coisa está feia. E cortar na própria carne parece ser a única solução possível.



Na semana passada, os líderes do Conselho Vitivinícola de Bordeaux (CIVB) uma nova e ambiciosa estratégia para resolver o problema. O nome do plano é sintomático: Bordeaux Amanhã: a Reconquista. Otimistas, esperam, até 2018, aumentar a receita anual da indústria da região em 28%, chegando a 4,6 bilhões de euros (R$ 10,5 bilhões). Mas o sucesso da estratégia não está baseado apenas em operações agressivas de marketing, mas também na eliminação da produção de 110 milhões de litros, ou 12 milhões de caixas de vinho de baixa qualidade que são produzidos todos os anos em Bordeaux.



O problema da região não vem de hoje. De 2003 a 2007, apenas em exportações, Bordeaux deixou de vender cerca de 43 milhões de garrafas de vinho, o equivalente a 293 milhões de euros (R$ 674 milhões). Isso, antes mesmo de a crise econômica estourar. Para piorar a situação, mesmo no mercado interno a região perde prestígio a cada ano. O reflexo: queda nas vendas. E mesmo o fluxo de turistas nas cidades bordalesas só faz diminuir.



Para reverter este quadro, a aposta é subir a qualidade dos vinhos de baixo custo e investir em rótulos de fácil compreensão por parte dos consumidores. Tudo, claro, ancorado por uma campanha internacional de marketing. Pelas contas do CIVB, cerca de um terço dos produtores dos vinhos mais básicos de Bordeaux, que são vendidos aos atacadistas por menos de dois euros a garrafa, têm capacidade para melhorar a qualidade dos vinhos que fazem. Outro terço dos produtores de vinhos básicos, acreditam os diretores do Conselho, poderiam seguir fazendo brancos e rosados de baixo custo. E o outro terço das vinhas da região, de acordo com o CIVB deverão ser arrancadas. O fato riscaria do mapa 7% da área plantada e causaria uma diminuição de 26% do número de produtores da região. Bordeaux tem hoje, aproximadamente, nove mil produtores.



Não é a primeira vez que Bordeaux aposta em uma medida drástica como essa. Há alguns anos, uma tentativa de arrancar 10 mil hectares de vinha falhou feio. Na ocasião, a maioria esmagadora dos produtores recusou a proposta de 15 mil euros por hectare de vinha arrancada. Mas com o cenário ainda mais aterrador depois da recessão global, muitos produtores estão com a corda no pescoço. O que pode facilitar as coisas para a CIVB.



Outra forma de convencimento será o aumento das inspeções nos vinhedos e vinícolas para detectarem se os produtores estão seguindo as regras de qualidade estabelecidas pelo Conselho. Os que não estiverem dentro dos padrões exigidos, não terão direito a rotular os vinhos com o nome Bordeaux, o que seria ainda mais desastroso para estes produtores. Portanto, diante de tantas dificuldades, o pessoal da CIVB crê que ganhar dinheiro para arrancar vinhas pode até vir a ser mais lucrativo.