quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

11 motivos para brindar 2011

por Alexandre Lalas


É lugar mais do que comum dizer que espumante rima com réveillon, que o brinde de final de ano merece um champanhe e coisas do gênero. Mas é inevitável. Quando o relógio se aproxima da meia-noite, meio mundo começa a desamarrar o arame e, depois dos fogos de artifício, o barulho que mais se ouve é o espocar das rolhas das garrafas de espumante.

Portanto, segue abaixo mais uma listinha. Desta vez, com onze espumantes, de diferentes origens e preços, para comemorar a passagem de ano. Só não vale sacudir a garrafa e desperdiçar o precioso líquido gasoso que vem dentro da garrafa.

Saúde e feliz 2011 a todos.

Fabian Brut Champenoise NV
Serra Gaúcha, Brasil
Espumante feito pela Fabian, vinícola familiar do Rio Grande do Sul, de excelente relação custo-benefício. No nariz, maçã, frutas secas e um tostado leve. Na boca, é elegante, delicado e fresco.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 40
Onde: Vini Rio

Maximo Boschi Brut Speciale 2006
Vale dos Vinhedos, Brasil
Meu amigo Homero Sodré, quando provou este corte de chardonnay e pinot noir, falou na hora: “este espumante é para iniciados”. Acertou na mosca. Mais do que o descompromissado e delicioso frescor dos espumantes, este aqui aposta em outro caminho: o da estrutura. No mercado nacional, só o 130 da Casa Valduga tem o mesmo estilo. Perlage delicadíssima; nariz rico, com notas de frutas secas, especialmente damasco e abacaxi, e um toque de tostado; na boca, é encorpado, com volume, mas sem perder o frescor que se espera de todos os espumantes. Final longo e com um toque de pão.
Nota: 9
Preço médio: R$ 79
Onde: Confraria Carioca

Vallontano LH Zanini Extra Brut 2008
Vale dos Vinhedos, Brasil
Primeiro espumante produzido através do método tradicional por esta simpática vinícola de artesãos do Rio Grande do Sul. Corte de chardonnay e pinot noir, agrada em cheio. Embora o perlage ainda esteja um tiquinho agressivo, isso não influi em nada a satisfação que o vinho causa. No nariz, frutas cítricas, damasco e uma leve nota de pão. Na boca, frescor é a chave. É leve, delicado e muito gostoso. Daqueles em que a garrafa vai embora sem que ninguém dê conta.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 79,50
Onde: Mistral

Vértice Rose NV
Douro, Portugal
A touriga franca é a base deste espumante rosado bastante interessante feito em Portugal. No nariz, framboesa, morango e cereja. Na boca, é bem cremoso, fresco e fino, com um toque de framboesa no final.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 87
Onde: Adega Alentejana

Jansz Premium Cuvée NV
Tasmânia, Austrália
Nem só de diabos, lagartos estranhos, dragões e demônios esvoaçantes vive a Tasmânia. A região é pródiga em bons vinhos, especialmente, espumantes. Como este aqui, corte de chardonnay e pinot noir, com 2% de pinot meunier. No nariz, morangos, maçã, pêra, nozes e um toque floral. Na boca, é cremoso, fresco e levemente cítrico.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 100
Onde: KMM

Cave Geisse Terroir 2006
Pinto Bandeira, Brasil
Este é um espumante bem tradicional, sempre muito bem feito, feito por um dos grandes craques do ofício, o sempre simpático Mario Geisse. Corte de chardonnay e pinot noir, elegante e fino, com notas de maçã, frutas secas, amêndoas e um leve toque de mel. Na boca, mantém o padrão de fineza, com boa estrutura, equilíbrio preciso e um bom final. Dos melhores do país.
Nota: 9
Preço médio: R$ 105
Onde: Vinícola Geisse

Gramona Imperial Brut Gran Reserva 2005
Penedès, Espanha
Um cava de respeito, de excelente qualidade, desta vinícola-referência da região. Corte de xarel.lo, macabeo e chardonnay; com nariz rico em aromas, com notas de maçã verde, especiarias, frutas secas, brioche e um toque de tostado. Na boca, é cremosa, frutada, com uma acidez perfeita e um final elegante.
Nota: 9
Preço médio: R$ 115
Onde: Casa Flora

Henriot Brut Souverain NV
Champanhe, França
Um dos melhores champanhes de base disponíveis no mercado brasileiro. Nariz delicado e intenso, com notas de mel, frutas secas e brioche. Na boca, é fino, macio e cremoso, com final longo e agradável.
Nota: 9
Preço: R$ 175,07
Onde: Vinci

Ferrari Perlé Brut 2004
Trento, Itália
Este espumante italiano não tem nada a ver com as vermelhas baratinhas de Maranello. Em comum, apenas o nome. O que não impede que este Ferrari aqui tenha lá o seu valor. Na verdade, um baita valor. Às cegas, é difícil não jurar que trata-se de um legítimo champanhe, blanc des blancs, de produtor de respeito. Na verdade, dá de dez em várias champas campeãs de venda por aqui. Delicado e elegante, com notas de avelãs, brioche e damasco seco no nariz. Na boca, fica ainda melhor. É cremoso, fino, fresco, com bom volume e final longo. Uma beleza.
Nota: 9
Preço médio: R$ 199,90
Onde: Decanter

Lanson Rosé Label Brut NV
Champanhe, França
Champanhe de cor salmão bem claro, com aromas de rosas, cereja e um toque de compota. Na boca, é fresco, fino e macio, com um final longo e frutado.
Nota: 9
Preço médio: R$ 200
Onde: Barrinhas

Cuvée William Deutz Millésime Brut 1998
Champanhe, França
Este cuvée não deve nada a nenhum grande champanhe de produtores mais estrelados. Nariz fino, com notas de maçã cozida, damasco seco, brioche, noz moscada. Na boca, é macio, fino, cremoso, delicado, o supra-sumo da elegância. Este champanhe é uma experiência única. Para datas especiais. Saúde.
Nota: 10
Preço médio: R$ 622
Onde: Casa Flora

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Bodas de prata da gastronomia carioca

por Luciana Plaas

Em 1987, a Estação Primeira de Mangueira foi a grande campeã do carnaval do Rio de Janeiro, homenageando Carlos Drummond de Andrade. O Flamengo do técnico Carlinhos, comandado em campo por Zico, Leandro e Renato Gaúcho, faturou o tetracampeonato brasileiro. Moreira Franco, vencedor das eleições no ano anterior, sucedia Leonel Brizola no governo do Estado do Rio. Mais do que os traficantes, eram os bicheiros que detinham o poder paralelo na cidade, chegando até a serem recebidos pelo governador em pleno Palácio Guanabara.

José Sarney era o presidente do Brasil e o Plano Cruzado começava a fazer água. Ulisses Guimarães comandava o congresso que preparava a nova constituição brasileira. A ditadura ainda era uma ferida aberta, mas os bichos papões eram a divida externa e a inflação. Mesmo com tudo isso, as pessoas no Brasil se divertiam com as peripécias de Rafaela Alvaray (Marília Pêra) e Montenegro (Marco Nanini), na novela Brega & Chique, de Cassiano Gabus Mendes. Na parada de sucessos, Que País é Este?, do Legião Urbana; Codinome Beija-Flor, de Cazuza, Bon Jovi, U2. Era o tempo da Glasnost e da Perestroika na União Soviética. E a Alemanha ainda estava dividida por um muro.

Pois foi em 1987, que Danusia Barbara lançou o seu primeiro Guia de restaurantes do Rio de Janeiro. Então, apenas três casas receberam as máximas quatro estrelas: Laurent, Le Saint-Honoré e o Valentino's. Nenhum deles existe mais. Mas lugares como Antiquarius, o Claude Troisgros e o Clube Gourmet, ainda em Botafogo, já existiam. E levaram três estrelas na classificação da época. Com duas estrelas, o Bife de Ouro estava lá junto com Caesar Park, (pela feijoada) o Le Pré Catelan e o The Lord Jim Pub, pelo chá. Na época eram bem comuns restaurantes com boa comida, música ao vivo, show e dança. Hoje é difícil encontrar um.

Botafogo tinha mais restaurantes do que o Leblon. A Rua Dias Ferreira, apesar de já abrigar várias casas, ainda não era considerada a jóia da coroa da gastronomia da Zona Sul. Mas o Sushi Leblon já estava ali, só que com outro nome: Tatsumi Sushi-Bar. O Final do Leblon ainda vivia seus áureos tempos. Outros que deixaram saudades são Chalé, Hippopotamus, Manolo's, Le Saint-Honoré, Luna Bar, Jazzmania, Mistura Fina e o dinamarquês Helsingor, entre tantos. A Academia da Cachaça e o Antiquarius eram considerados os lugares da moda. Prova cabal de que certos modismos não passam. Cheques eram muito mais aceitos do que cartões de crédito. O dinheiro de plástico ainda era uma raridade. Eram nove restaurantes chineses contra 16 japoneses. No guia atual, são dois chineses contra 42 japoneses.

Na próxima segunda-feira, dia 6 de dezembro, Danusia Barbara estará lançando a edição 2011 de seu Guia de Restaurantes do Rio. É o 25º ano consecutivo em que a jornalista lança o livro. Vai ser na Livraria da Travessa, do shopping Leblon, a partir das 19hs. Quem quiser saber mais sobre como anda a gastronomia no Rio de Janeiro está convidado a aparecer.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os novos confrades


A Confraria dos Enófilos do Alentejo entronizou quatro novos confrades, três jornalistas brasileiros e um angolano, que irão reforçar o trabalho desta associação na missão de divulgar e promover o vinho da região. A entronização dos jornalistas brasileiros Suzana Barelli, directora da revista Menu; Alexandre Lalas, director do site Wine Report e da filial do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho; Christian Burgos, editor da revista ADEGA e conselheiro da ABRAVINHO – Associação Brasileira da Imprensa do Vinho; e do angolano Alcides Diamba surge como reconhecimento do trabalho realizado por estes profissionais em prol sector do vinho, especialmente para os Vinhos do Alentejo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Em plena forma


Dois séculos. Este foi o tempo que duas garrafas de champanhe uma da Juglar, marca que sequer existe mais, e outra da Veuve Clicquot, esperaram para enfim serem abertas e degustadas. As garrafas faziam parte do lote de 168 garrafas encontradas por um grupo de mergulhadores no Mar Báltico, em um barco naufragado na costa da Finlândia, perto do arquipélago Aaland, onde foi feita a degustação.

Quem provou, gostou. A Master of Wine finlandesa, Essi Avellan disse que ambas as garrafas estavam ‘incrivelmente vivas e frescas’.

“Como esperado, ambas estavam um pouco mais doces que o normal, mas com uma cor dourado surpreendentemente brilhante e com aromas de mel e tostado”, disse Essi. “A Juglar estava mais harmoniosa e completa, enquanto a Veuve apresentava um aroma mais picante e defumado, mas com uma impressionante acidez”, completou a finlandesa.

Especula-se que as garrafas faziam parte de um carregamento de champanhe enviado pelo rei Luis XVI à corte imperial da Rússia.

Já o governo de Aaland espera usar a descoberta para promover o arquipélago.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O desastre perfeito

por Alexandre Lalas


Quando a pessoa abre uma garrafa de um vinho em um restaurante chique e propõe um brinde, muitas vezes sequer imagina o caminho que a bebida fez para chegar até ali. Por mais cultura, história e charme que carregue na aura, o vinho é, no final das contas, um produto agrícola. E, como tal, está sujeito às intempéries e aos caprichos da Mãe Natureza.

Pois neste ano, em Sonoma County, nos Estados Unidos, vinhateiros e enólogos foram lembrados de quão pesada pode ser a mão da natureza. Não foi apenas um ano complicado, difícil. Foi um ano perdido. Para muitos, a pior safra da história recente da região.

Com a colheita quase no fim, sobrou pouco para contar a história. Elias Torres, da Halling Vineyard, no negócio desde 1974, não se lembra de um ano tão ruim quanto este 2010. Em um ano normal, a pequena propriedade de três acres que possui, é capaz de produzir 10 toneladas de zinfandel de alta qualidade, o que rende a Elias cerca de US$ 25 mil. Este ano, a coisa foi diferente.

“O sol fritou todas as uvas. Não sobrou uma para contar a história. Nunca vi uma safra tão desastrosa”, lamentou.

Elias não é o único a lamentar. A hora é de fazer contas. Muitos produtores ainda estão avaliando os prejuízos financeiros e os danos às vinhas. O ano começou complicado quando uma praga assolou a área no final da primavera e piorou de vez com a onda de calor que fez em agosto e arruinou campos inteiros.


E como desgraça pouca é bobagem, um temporal no último final de semana deu cores definitivas a um quadro quase catastrófico. A chuva gerou mofo em algumas vinhas, reduzindo ainda mais uma produção já reduzida a quase nada. Catadores eram obrigados a percorrem os vinhedos lentamente, examinando cacho por cacho para determinar quais uvas eram ainda saudáveis o suficiente para serem esmagadas.

“Tivemos que fazer uma baita seleção de uvas. Deixamos muita coisa no campo”, informou Steve Thomas, diretor de operações da Kunde Estate.

Chris Maloney, que dirige uma empresa que faz seguros da colheitas estima que os clientes tiveram perdas que podem ultrapassar os US$ 10 milhões. “Pode ser um recorde. Este foi um ano horroroso”, fez coro.

O total exato de quanto os produtores irão pedir às seguradoras virá a público somente em alguns meses. Pelo menos 64% dos vinhateiros da região estão cobertos por algum tipo de seguro. Dependendo da apólice, os produtores conseguirão reembolso de até 75% do que perderam na temporada.

Mas para alguns analistas, o clima não foi o único vilão da má safra. A recessão norte-americana também teria contribuído para o misere dos produtores. Os preços estavam tão baixos que muitos deles teriam preferido deixar as uvas apodrecerem nas vinhas a colher e vender pelo que os compradores estavam pagando. Estas uvas abandonadas enquanto ainda estavam saudáveis, em um ano normal, poderiam render um bom dinheiro aos produtores.

No entanto, há quem consiga manter um pouco de otimismo mesmo com toda a situação em volta. Diane Wilson, enóloga da Wilson Winery, já está com a colheita praticamente terminada. Faltam colher apenas 2% dos bagos. Segundo ela, apesar da pequena produção, o que sobrou foram uvas de excelente qualidade.

A temporada começou com as nuvens negras da recessão econômica no horizonte. Em abril, uma geada danificou diversas vinhas. Em seguida, um início de verão nebuloso e frio atrasou a maturação das uvas e reduziu o nível de açúcar nos bagos. Regiões mais frias, como Bennett Valley, Russian River e Carneros foram especialmente afetadas pela nebulosidade, que permitiu o aparecimento de fungos e insetos que se tornaram uma praga por todo o condado.

Quando o calor finalmente chegou, veio avassalador e literalmente cozinhou vinhedos inteiros.

“Foi um desastre perfeito”, resumiu Michael Collins, dono e enólogo da Limerick Lane, e cuja produção foi inteiramente perdida, incluindo a parcela centenária de zinfandel. "É a primeira vez que não colherei nada", disse ele. "Nunca vi nada como este ano. Não posso nem acreditar", falou.

Collins disse que até poderia ter sido capaz de colher 20% da produção, mas decidiu que a qualidade das uvas não era boa o suficiente.

"Eu tenho que fazer um vinho de qualidade muito alta, ou não fazer”, disse ele, que decidiu simplesmente deixar tudo apodrecer.

"Na agricultura, de vez em quando, você recebe um taco de beisebol na cara", disse ele. "Este ano, foi assim".

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Que dia mais feliz!


Hoje é o dia mundial do Champanhe.
Portanto, escolha a garrafa desejada, prepare o balde de gelo, as taças adequadas e faça um brinde!
Saúde a todos!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Elegância portenha

por Alexandre Lalas


Silvio Alberto faz parte de uma geração de enólogos que, lá pelo meio dos anos 90, começou a mudar a cara do vinho argentino. Mas, desde que começou a trabalhar, lá se vão vinte e poucos anos, na La Rural (vinícola que faz o Rutini), Silvio sempre teve uma visão diferente do vinho. No lugar de muito extrato seco, concentração, fruta compotada, longos estágios em madeira e potência, Silvio buscava elegância, fineza, delicadeza para os vinhos que fazia.

Quando foi chamado para começar o projeto da Andeluna, ainda no nascedouro, Silvio estava na Navarro Correa. Havia sido contratado com a missão de mudar a cara dos vinhos da empresa. Complicadores internos não deixavam com que Silvio levasse a cabo a missão que lhe fora encomendada. Portanto, o convite da Família Reina, que em conjunto com o milionário norte-americano Ward Ley veio em boa hora. A ideia era criar uma nova vinícola, com um conceito diferente do que reinava no vinho argentino na ocasião. E Silvio era o nome perfeito para a empreitada.

A Andeluna nasceu em 2003. E, neste caso, a missão encomendada virou, de fato, missão cumprida. Os vinhos da Andeluna se destacam justamente pela elegância que exibem. Atributo este cada vez mais imitado pelos pares argentinos.

Mas Silvio não para por aí. Em um país cujas exportações estão diretamente atreladas à locomotiva chamada malbec, o enólogo enxerga diversidade. Embora seja fã da uva (e quem não é), Silvio enxerga muito mais coisas no horizonte do que a badalada malbec. Cabernet franc, syrah e petit verdot são apostas feitas. E, se a primeira já se mostrou vitoriosa, as outras duas estão em pleno processo de produção. Se chegarão ao mercado ou não, é uma questão que caberá aos investidores da Andeluna. Mas, analisando o histórico de Silvio Alberto, é perfeitamente crível imaginar que a Andeluna marcará mais um golaço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O vinho do gelo brasileiro

por Alexandre Lalas


Domingo, dia 10/10/10, a vinícola Pericó, de Santa Catarina, lançou oficialmente o primeiro Icewine produzido no Brasil. A campanha de lançamento foi uma aula de marketing bem feito, com direito a contagem regressiva no site da vinícola, que também mostra toda a história da produção do vinho.

O Icewine foi feito com uvas naturalmente congeladas, colhidas no outono de 2009, entre os dias 4 e 12 de junho, nas vinhas da Pericó. A variedade escolhida foi a cabernet-sauvignon. De acordo com Jefferson Sancineto Nunes, enólogo da Pericó, esta variedade foi escolhida por ser a mais tardia disponível na Vinícola e, portanto, a única capaz de sustentar seu lento amadurecimento nas parreiras até a chegada das temperaturas negativas do inverno ao alto da serra de São Joaquim, Santa Catarina. A produção é de apenas 3,3 mil garrafas.

O esmero da vinícola não ficou apenas na produção do vinho. O rótulo foi encomendado à artista plástica Tereza Martorano, que preparou a gravura Vindima na Neve. O kit de lançamento do produto inclui, além d vinho, uma lata decorada, um livreto com a história da produção do vinho e um tag com dicas de harmonização.

Por enquanto, o Icewine Pericó está disponível para venda em apenas três estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O preço sugerido ao consumidor é de R$ 189. Cada garrafa contém 200 ml de vinho.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onde os fracos não têm vez

por Alexandre Lalas

Elizabeth Vianna, enóloga da Chimney Rock, vinícola do vale do Napa, nos Estados Unidos disse que “a safra deste ano não é para fracos de coração”. E, enquanto continua o veranico na região, o enólogo Chris Dearden disse que os trabalhadores seguem colhendo todas as variedades de uva, inclusive as últimas brancas e os primeiros cabernets na denominação de origem de St. Helena.

A seguir, um resumo da situação no vale do Napa, de norte a sul.

Calistoga — Paul Smith, Onthedge Winery: “o calor da semana passada trouxe muitas uvas sobremaduras, enquanto outros bagos foram queimados e ficaram muito ressecados. Muitas variedades serão prensadas nesta semana. A zinfandel teve rendimentos médios, enquanto quase dois terços da colheita de cabernet franc sofreram com queimaduras solares e desidratação, apenas uma parcela das vinhas, protegidas pela sombra da Mayacamas não ficou passificada, murcha. Em geral, os locais desprotegidos ao norte e ao leste do Napa sofreram mais danos por causa do calor do que aquelas a oeste e ao sul do rio”.

Diamond Mountain District — Dawnine Dyer, Dyer Vineyards: “com rendimentos mais baixos do que a média normal, as vinhas responderam bem ao calor da semana passada, e o nível de açúcar a maturação das uvas deu um salto. Alguns vinhedos mais expostos chegaram a sofrer algum tipo de passificação, mas a maioria das copas permanece saudável e com níveis de açúcar variando entre 23-36 Brix. Cepas mais precoces já estão em ponto de colhermos, mas com a continuação do bom tempo, a maioria dos cabernets estará pronta em mais uma ou duas semanas”.

Howell Mountain — Pat Stotesbery, Ladera Vineyards: “na maior parte das vinhas, as coisas ainda estão bem calmas. Mal começamos a colheita das frutas vermelhas e a maioria das pessoas ainda estão esperando uma melhor maturação das uvas. Algumas folhas amareladas já são vistas nas zonas de frutas, mas a maturação fenólica das uvas ainda está um pouco atrasada. Há muita conversa sobre o final desta semana, mas a previsão é de tempo frio e será na semana que vem, provavelmente, que as coisas deverão começar a de fato acontecer por aqui”.

Chiles Valley District — Volker Eisele, Eisele Vineyards: “é impressionante a diferença que uma semana faz. Agora, 90% das uvas brancas já estão prontas. Apenas uma pequena parta de chardonnay falta colher. O mais impressionante é que já iniciamos a vindima tanto a syrah quanto a zinfandel, e devemos continuar o trabalho com estas duas uvas durante a próxima semana. A cabernet-sauvignon mostra um bom nível de açúcar, em torno de 23 Brix, além de uma bela acidez e um baixo pH. A qualidade média é muito alta, mas com rendimentos abaixo do normal. Neste aspecto, os danos provocados pelo calor foram maiores do que o previsto anteriormente”.

Spring Mountain District — Stuart Smith, Smith-Madrone Winery: “a bolha de calor que fez na semana passada subiu substancialmente o nível de açúcar das uvas, principalmente as brancas e a pequena parcela de merlot que temos no alto da colina. As elevações mais baixas da montanha foram protegidas pelas névoas da manhã. Estamos em compasso de espera em relação às uvas destes vinhedos, e o desaquecimento previsto para a semana que vem nos colocou a todos aqui em um exercício de paciência”.

St. Helena — Chris Dearden, enólogo, V Madrone e Shibumi Knoll: “vinhateiros e produtores estão curtindo este veranico tardio e colhendo todas as variedades, incluindo a chenin blanc, mais tardia das brancas, vinhas velhas de zinfandel, petite syrah, syrah e até mesmo as primeiras vinhas de cabernet-sauvignon do ano. A qualidade da fruta é excelente, com aromas maduros e níveis moderados de açúcar. A cor da pele das uvas está de desenvolvendo cedo e temos taninos ricos e granulados, o que é um prenúncio de uma boa safra”.

Rutherford — Jeffrey Stambor, diretor de enologia, Beaulieu Vineyards: “esta é uma safra que exercita como poucas a paciência do mais experimentado dos enólogos. A continuação das baixas temperaturas e o clima seco são previsíveis, e, portanto, não há pressão para colhermos agora. As vinhas estão segurando bem, e já estamos no começo de outubro. A merlot já está começando a sair, mas ainda não colhemos nenhum cabernet. Os aromas ainda estão se desenvolvendo, e com uma ligeira contribuição do clima, estaremos olhando para grandes vinhos”.

Oakville — Pat Garvey, gerente de vinhedo, Flora Springs Winery: “Paul Steinauer, da Flora Springs, e Gary Brookman da Miner ainda estão esperando que os aromas da chardonnay se desenvolvam melhor. O nível de açúcar cresceu dois graus Brix na semana passada, um pouco mais quente, mas o desenvolvimento dos aromas ainda está lento, embora a acidez esteja até mais alta do que o esperado. Com o crescimento de mais 1,2 grau Brix por semana, os produtores esperam colher uvas com aromas de frutas tropicais e mel, e talvez a gente comece no final da semana que vem”.

Stags Leap District — Elizabeth Vianna, enóloga, Chimney Rock Winery: “a colheita começou oficialmente em Stags Leap. Elias Fernandez, da Shafer, disse que ‘o flautista chegou para pagamento’ e ele está ocupado colhendo merlot. Benoit Touquette, da Hartwell colheu apenas um pouco de merlot e está esperando um pouco de recuperação após o intenso calor. Em Chimney Rock, o jogo de espera continua, mas provavelmente iremos começar a colher a merlot nesta semana. Esta não é uma campanha para fracos de espíritos ou de coração. Será um outubro intenso para todos”.

Atlas Peak — Jan Krupp, Stagecoach Vineyards: “um merlot maravilhoso, chardonnay e zinfandel já começaram a serem colhidos em Atlas Peak. Será uma excelente safra, apesar das preocupações iniciais. Os aromas da cabernet estão ótimos e a previsão de bom tempo confirma que está será um excelente ano.

Mount Veeder — Brian Nuss, Vinoce Vineyards/Twenty Rows: “finalmente fez algum calor na semana passada, o que foi bom para começarmos a colocar as coisas nos eixos. Temos níveis de açúcar de 24 Brix nos vinhedos ao pé do morro. As sementes ainda estão um pouco verdes, mas estão chegando lá. Se a previsão for confirmada e tivermos um tempo bom com temperaturas na casa dos 27º C, poderemos ter algumas uvas colhidas na semana que vem”.

Oak Knoll District — Jon Ruel, Trefethen Vineyards & Winery: “aqui na Trefethen começamos a colher os primeiros cabernets e estamos no meio da vindima de chardonnay. Nesta semana, também colhemos um pouquinho de merlot, petit verdot e malbec também. Outubro será um mês longo e trabalhoso”.

Dave Pramuk, Robert Biale Vineyards: “continuamos a colher zinfandel nos nossos quatro vinhedos, sendo que em três deles estamos quase encerrando os trabalhos. A qualidade média é boa, embora tenhamos menos aromas frutados devido à desidratação de algumas vinhas. Metade das nossas uvas já estará na cantina até o final desta semana. A petite syrah deverá ser colhida na semana que vem.

Stan Boyd, Boyd Family Vineyards: “os aromas e sabores finalmente estão começando a surgir e tivemos aumento de 1,5 Brix no açúcar das uvas, na semana passada. Estamos pensando em colher nossa última parcela de chardonnay e algum syrah para a produção de vinho rosado ainda nesta semana”.

Morgan Morgan, gerente de negócios da Oak Knoll Ranch/Lamoreaux Vineyards: “terminamos a colheita de sauvignon blanc e de semillon. A qualidade é excelente, embora a produção tenha sido um pouco menor do que a normal, principalmente de sauvignon. O cabernet está indo bem. Esperamos que o tempo continue agradável, sem temperaturas extremas. Caso o clima colabore, poderemos esperar uma excelente safra, com rendimentos normais.

Carneros — Lee Hudson, Hudson Vineyards: “já colhemos mais da metade da chardonnay. Uvas muito saborosas chegaram durante a semana inteira, com rendimento perfeitamente moderado. A pinot noir está borbulhando. Começaremos a colher merlot e syrah nesta semana. Estamos todos ansiosos com a qualidade desta safra e abismados em ver como problemas aparentemente insolúveis podem desaparecer. Longa vida às boas surpresas de 2010”.

Wild Horse Valley — Bob Nicol, Robert Nicol Vineyards: “o tempo está mudando por aqui. Noites frias e manhãs com névoas estão ficando mais frequentes e as quentes tardes estão ficando mais raras. Ainda temos que esperar uma ou duas semanas até que o nível de Brix diga sim e possamos começar a colher e as sementes ainda estão escuras. O gosto está ótimo e as uvas, saudáveis. A beleza das cores do outono está aparecendo neste vale no céu, mas as folhas verdes ainda tentam se agarrar às vinhas".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

As gotas de Deus

por Alexandre Lalas

O mundo dos mangás japoneses e dos vinhos franceses costumam girar em órbitas diferentes. Ou, pelo menos, assim era até o sucesso retumbante de “As gotas de Deus” (Kami no Shizuku, no original). O fato é que o cartum japonês, que fala sobre vinhos reais e disponíveis no mercado, criou uma impressionante mania de vinho no Japão e na Coreia do Sul e tem catapultado alguns produtores a um surpreendente estrelato.

O mangá virou uma série para a televisão, que se tornou um enorme sucesso. Em ambas as versões de "As gotas de Deus", o filho de um crítico de vinhos recentemente falecido volta-se contra o irmão adotivo para provar que era o herdeiro digno da vasta coleção de vinhos do pai morto.

O filho biológico, no entanto, não tem conhecimento do negócio do vinho. Ao contrário do irmão adotivo, ele não recebeu uma educação sobre safras, variedades de uva, châteaus, e todo o resto. O que ele tem de especial é um nariz capaz de identificar os mais preciosos aromas. Esse recurso faz dele um verdadeiro rival do irmão adotivo na busca dos 12 vinhos especiais que o pai chamava de "apóstolos" e de um 13º que era chamado de "as gotas de Deus".

Sete milhões de pessoas assistiram ao episódio final da série de TV, onde foi revelado que "as gotas de Deus" eram, na verdade, um Château Le Puy 2003.

Imediatamente após a revelação, na França, em um pequeno e sossegado vilarejo de Bordeaux, o telefone do enólogo Pascal Amoreau, do Château Le Puy, que pertence à mesma família há 400 anos, começou a tocar. E encomendas de clientes japoneses chegavam em quantidade jamais vista. “De repente, recebemos 150 pedidos por telefone, fax e e-mail do Japão. Todos querendo o Le Puy 2003. Liguei para meu importador de lá que, eufórico, disse que meu vinho tinha sido eleito o ‘gotas de Deus’. Foi assim que descobri o que estava acontecendo”, disse Amoreau a uma rádio local.

Mas o que começou com celebração, logo virou motivo de indignação para Amoreau. Quando descobriu que o vinho que vendia a 18 euros a garrafa estava custando 1 mil euros em Hong Kong, o enólogo do Château Le Puy resolveu tirar a safra 2003 do mercado. “Tomamos esta atitude a fim de evitar a especulação, porque queríamos que este vinho, que havia sido escolhido como um vinho mítico, ficasse ao alcance de todos e não apenas para uns poucos compradores de rótulos de luxo”, justificou Amoreau.

Os criadores da série são apreciadores reais de vinho e não esperavam que o sucesso do mangá pudesse influenciar desta maneira o mercado francês de vinho. Analistas de mercado no Japão acreditam que as vendas de vinhos de Bordeaux subiram cerca de 20% nos últimos anos por causa da série. “É comum pessoas entrarem nos bares de vinho com o mangá nas mãos e perguntarem se eles têm algum daqueles rótulos mencionados na história”, explica Sam Souibgui, dono de uma livraria em Tóquio.

Recentemente, os criadores da história foram visitar o Château Le Puy. Para celebrarem o sucesso da série e do vinho, os anfitriões abriram uma garrafa da safra 1917 do Le Puy.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Feira moderna

Luciana Plaas


O que é um produto orgânico? Essa foi a pergunta que uma rede de TV estava fazendo às pessoas quando cheguei na feira orgânica do Leblon. Para serem considerados orgânicos, as frutas, hortaliças, grãos, laticínios e carnes têm de ser produzidos respeitando o meio ambiente e sem utilizar agrotóxicos, pesticidas e outras substâncias que possam colocar em risco a saúde dos produtores e consumidores.


Para garantir que um produto é orgânico é preciso verificar todo o sistema de produção. Por isso, o Ministério da Agricultura criou um selo certificando se o produto respeita as normas estabelecidas para que possa ser rotulado como orgânico. O selo do SISORG (Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica) passará a ser obrigatório, a partir de janeiro de 2011, para todos os produtos orgânicos comercializados no varejo. Feirantes e pequenos produtores que fazem venda direta ao consumidor estarão livres da obrigatoriedade do selo. Mas para que esses produtos sejam vendidos como orgânicos, esses agricultores precisam ser vinculados a uma organização de controle social cadastrada nos órgãos do governo.


Quem escolhe produtos orgânicos está preocupado com a saúde, em preservar o meio ambiente e ajudar os pequenos produtores rurais. Na feira do Leblon, que começou esta semana, lá estavam pouco mais de uma dúzia de produtores. O Capril de Ville que faz queijos em Visconde de Mauá estava lá. A Fátima do Verde Orgânico também participa da feira: ela fornece legumes e verduras para vários restaurantes do Rio, além de ter o apoio do Claude Troisgros. Assim como os produtos orgânicos, a feira é pequena, mas faz a diferença.


Feiras
Terça-feira - Nossa Senhora da Paz - Ipanema
Quinta-feira - Rua Marques de São Vicente, 225, Gávea (PUC)
Quinta-feira - Praça Antero de Quental - Leblon
Sábado - Praça do Russel - Glória
Sábado - Rua Marechal Dantas Barreto, Campo Grande (Atrás do estacionamento do West Shopping)
Sábado - Glória - Praça do Russel
Sábado - Pracinha do bairro Peixoto
Sábado - Em frente a Igreja São José
Domingo - Estrada da Barra da Tijuca nº 1990 - Itanhangá

Outras maneiras de comprar orgânicos

Verde Orgânico - Fátima: 9650-5314 /(24)2259-2106 (faz entregas 3ª, 5ª e sábado)
www.sitiodomoinho.com
Fazenda do Cafundó (cafundo@ism.com.br)
Capril De Ville - Mirantão - Visconde de Mauá (deville@guiamaua.com.br) - (32) 3294 2064

domingo, 5 de setembro de 2010

O vinho da pedra amarela

por Alexandre Lalas

Gonzalo Muñoz e Sven Bruchfeld eram colegas de universidade no Chile. Desde a época, já sonhavam em montar alguma coisa juntos no futuro. Mas um foi estudar na Espanha, o outro saiu por aí trabalhando em vinícolas mundo afora e o projeto esfriou. Até que calhou de Sven e Gonzalo se encontrarem para passarem uns dias Narbonne, na França. Foram juntos a uma degustação de syrah em uma vinícola local e saíram de lá com a certeza de que a hora para tocar os projetos em conjunto havia chegado. E que a uva escolhida para dar continuidade ao sonho de ambos era a syrah.

De volta ao Chile, saíram em busca de um lugar para plantar as vinhas. Quando uma corretora de imóveis ligou avisando que havia um terreno em uma colina aos pés da Cordilheira da Costa, em Marchigüe, no vale do Colchágua, Sven, que já passara pelo lugar em uma visita anterior ao povoado, sabia que o lugar havia sido encontrado. E, de fato, ali os dois amigos, que àquela altura já contavam com os precisos préstimos de um sócio capitalista, fincaram as raízes da Agrícola La Viña. O ano era 2002.

Dois anos depois foi lançada a primeira safra. O vinho foi batizado como Polkura, que significa pedra amarela, no idioma mapuche, e é o nome da colina que fica na área do vinhedo. Ambos sabiam bem o que estavam fazendo e não foi surpresa para eles a boa receptividade que o vinho teve.

De lá para cá, a La Viña só fez crescer, e sem sacrificar a qualidade dos vinhos. Novas uvas foram plantadas, possibilidades exploradas e novos rótulos, sempre muito bem feitos, lançados. Independente e artesanal, a vinícola é membro atuante do MOVI, o movimento dos vinhateiros independentes do Chile.

Na semana passada, Sven Bruchfeld esteve no Rio para uma degustação seguida de almoço, no restaurante Mr. Lam. Ali, o enólogo apresentou uma degustação vertical do Polkura, além de mostrar dois novos lançamentos da La Viña. Foram provadas as safras 2004, 2006, 207 e 2008 do Polkura, além do Polkura Block G + I 2007 e o Aylin Sauvignon Blanc 2009, feito no vale de San Antonio, em Leyda.


Consistência na qualidade é a marca dos vinhos. Todos os tintos se equivalem, com ligeiro destaque para o Polkura 2006, que está no momento perfeito para ser degustado.
Abaixo, as notas de prova dos vinhos. Todos os rótulos da Agrícola La Viña são distribuídos no Brasil pela Premium (31 3282-1588).


Aylin Sauvignon Blanc 2009
Vale de Leyda, Chile
Aylin significa “claridade” e “transparência”. Daí a razão do nome deste sauvignon blanc feito em San Antonio, no vale de Leyda. Nariz intenso, com notas de frutas cítricas e tropicais, como abacaxi, papaia e um toque de manga, e ainda notas minerais. Na boca, médio corpo, muito frescor, bom volume e um final de média persistência e relativamente doce.
Nota: 8.5
Preço: R$ 42

Polkura Syrah 2004
Vale do Colchágua, Chile
Primeiro vinho produzido pela dupla Sven/Gonzalo, um syrah de primeira linha, com estágio de 12 meses em barricas de diversas tonelerias, origens e idades diferentes. Rico e intenso no nariz, ainda com muita fruta, como amora, mirtilo, figo, tomilho, com notas de baunilha e evolução para chocolate. Na boca, tem bom corpo, maciez, equilíbrio, volume e um final longo.
Nota: 9
Preço: N/D

Polkura Syrah 2006
Vale do Colchágua, Chile
Neste vinho, pela primeira vez na história da Polkura, a syrah não reina soberana. Aos 92% de syrah, se juntaram 4% de malbec, 2% de viognier e 2% de outras três castas: tempranillo, mourvèdre e grenache noir. O resultado foi um vinho igualmente impactante, porém, um pouco mais elegante do que o antecessor. No nariz, a mesma fruta negra madura, especialmente amora, junto a notas marcantes de pimenta negra e anis. Na boca, ótima estrutura, com muito corpo, taninos finos, bastante volume, equilibrado e com um final longo e cheio de fruta.
Nota: 9
Preço: N/D

Polkura Syrah 2007
Vale do Colchágua, Chile
Foi um ano mais frio do que costume em Marchigüe, o de 2007. E o resultado é um vinho ligeiramente diferente do estilo normal do Polkura. Menos intenso no nariz, com notas mais florais, embora ainda se encontre a fruta negra, as ervas e a pimenta. Na boca, é menos vigoroso, mas bastante fino, com ótima estrutura e um grande frescor. Final longo e que deixa uma sensação de frescor na boca. Um vinho para envelhecer mais um tempo em garrafa.
Nota: 9
Preço: R$ 75

Polkura Syrah 2008
Vale do Colchágua, Chile
Depois da fria safra de 2007, este Polkura retoma o estilo das safra 2006: nariz intenso, com muita fruta negra, em especial amora, ervas e pimenta negra. Na boca, ainda não está tão pronto quanto o 2006, os taninos ainda estão mais duros. Mas o corpo, o volume, a estrutura e o final longo estão lá. Deve chegar ao Brasil no final do ano.
Nota: 9
Preço: N/D

Polkura Syrah Block G+I 2007
Vale do Colchágua, Chile
Dos vinhedos da Polkura em Marchigüe, as parcelas G e I são as únicas voltadas para o sul. Por conta disso, recebem uma incidência solar menor, o que resulta em uvas com menos acúmulo de calor, que geram vinhos mais elegantes. Em 2007, Sven e Gonzalo resolveram fazer um vinho feito com uvas apenas destes dois vinhedos. Nasceu então o Block G+I, um syrah com uvas destas duas parcelas, cortadas com 2% de viognier. Fino no nariz, com notas de ervas, amoras frescas, pimenta branca e um toque de anis. Na boca, muita estrutura, volume, frescor, equilíbrio e um final longo e com um toque apimentado.
Nota: 9
Preço: R$ 141

sábado, 4 de setembro de 2010

O vinho é pop

por Luciana Plaas

O cantor norte-americano de música country Boz Scaggs pode até andar meio desaparecido da mídia, pelo menos fora das fronteiras do gênero musical nos Estados Unidos. Mas segue na ativa, em tour com Michael McDonald e Donald Fagen, dois outros nomes do country.


No entanto, Boz Scaggs, autor de hits setentistas como we’re all alone, embora não pense ainda em pendurar o microfone, cada vez mais tem se dedicado a outra atividade: a de produtor de vinhos.


Esta história começou em 1996, quando Boz e a esposa Dominque se mudaram para o vale do Napa. O casal comprou uma propriedade de 2,5 hectares ao longo de Mayacamas Ridge, ao norte do Monte Veeder, numa altitude que varia entre 330 e 450 metros. De início, eles pensaram em plantar árvores frutíferas. Mas aí um amigo ligado ao vinho foi visitar o casal e sugeriu que eles plantassem umas mudas de syrah, sobras de outro vinhedo, que carregava atrás da caminhonete.


Na primavera seguinte, quando as mudas floresceram, criaram raízes profundas também em Boz e na esposa. E, fãs dos vinhos do sul do Rhône, compraram mudas de outras duas uvas da região: mourvèdre e grenache, cujos clones vinham do renomado Château de Beaucastel, em Châteauneuf-du-Pape. Era o nascimento da Scaggs Vineyard.


O primeiro vinho foi feito no ano 2000. O enólogo responsável é o experiente Ken Bernards. A filosofia é a de menor intervenção possível nas vinhas. Desde 2005, os vinhedos, os pomares e as oliveiras de Scaggs receberam o certificado de orgânico. No início, o casal nem pensava em comercializar os vinhos. Toda a produção era bebida com amigos. Mas os elogios de quem provava a bebida e a certeza de estarem fazendo vinhos de qualidade incentivou o casal a lançar os rótulos da Scaggs no mercado.


A produção é artesanal e mínima. São dois rótulos: o Scaggs Vineyard Mt. Veeder Montage, cuja safra 2007 é um corte das três uvas plantadas na propriedade com predominância da mourvèdre. Deste vinho, foram lançadas apenas 348 garrafas, ao preço de US$ 75 cada. O outro rótulo é um vinho rosado, feito com a grenache. No site da Scaggs, o pacote com três garrafas da safra 2009 custa US$ 75.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sem reinventar a roda

Luciana Plaas

Seu Augusto, um cearense que sabe o que quer e com experiência de mais de quarenta anos no ramo, costuma dizer que o restaurante do qual é dono, o Málaga, no Centro do Rio, não tem novidades na comida. Não tem intenção de inventar a roda e nem de fazer releitura de nada. Tudo é muito conhecido, antigo, testado e aprovado.


Pude comprovar que realmente ele estava falando a verdade. O couvert (R$9), não poderia ser mais tradicional: pães, manteiga, patê e azeitonas. Depois veio um prato de Mussarela de búfala, presunto de Parma e legumes grelhados (R$36). Estava uma delícia, também sem nenhuma surpresa. Em seguida nos serviu um Polvo (R$48) que estava dos mais macios que comi nos últimos tempos.


Como o Seu Augusto disse que não haveria surpresas, nem me animei com o potinho de um risoto amarelo que puseram na minha frente. Mas o Arroz com pequi e camarões (R$ 38) surpreendeu. Estava bem melhor do que parecia e do que eu esperava. Comi tudo. Foi super bem com o vinho que estávamos tomando, Anakena Viognier. Quando achei que chegaríamos à principal razão de nossa passagem pelo Centro, o esperado leitão, me enganei, veio uma provinha do Bacalhau às natas (R$ 38). Gostoso, mas eu estava me guardando para a estrela da tarde, o famoso Leitão do Málaga.



De repente ele chegou e com tudo, inteirinho e reluzente. Estava lindo! Fui servida e não acreditava como a carne estava macia. Faca nem era preciso. Veio acompanhado de batatas coradas e farofa brasileira. Só provei a farofa, porque estava era concentrada no porquinho. Não era tão temperado como os de Portugal. Nem se notava tanto a gordura de alguns outros lugares. Estava na medida. Assado em baixa temperatura. O molho, servido à parte, muito bem feito, fino, sem gordura, mas com acidez. Gostaria de estar com uma fome maior para comer mais. Vale lembrar que este prato deve ser encomendado de véspera, assim como o cabrito. O prato de leitão, com qualquer acompanhamento, custa R$59.




Na hora da sobremesa, pensei em pedir um fruta, mas o Seu Augusto disse que lá eles faziam Bananas flambadas (R$28 para duas pessoas) como ninguém. Não houve como resistir. Realmente sabem o que estão fazendo. Foi assim o almoço inteiro. Sem novidades, nem invencionices, como diz Seu Augusto. Mas bom e consistente do começo ao fim.



Serviço:
Málaga
Miguel Couto 121
Centro
(21)2253-0862
(21)2233-3515
http://www.malaga.com.br

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O vinho do adeus

por Alexandre Lalas

Muitas vezes o ser humano sonha secretamente com o fim dos tempos, com o dia em que tudo se acabará. Tsunamis, terremotos, erupções, pragas, e toda a sorte de catástrofes possíveis e imaginárias habitam o inconsciente coletivo da humanidade. É como se até desejássemos a morte definitiva, o fim irreversível. Seria, talvez, uma resposta à transitoriedade de todos nós, à nossa mortalidade. Ou seja, se tudo acabasse, não perderíamos nada do que estivesse por vir.

O fato é que o poder de decidir quando e como partir é sempre atraente. É como se pudéssemos controlar o incontrolável, alcançar o que não está ao nosso alcance. E, com esse pensamento fatalista na cabeça, a coluna resolveu fazer uma pergunta. Se fosse possível escolher que garrafa de vinho beber antes de morrer, qual seria o rótulo eleito?

Reinaldo Paes Barreto, meu colega de jornal e de taça, escolheria um champanhe. Mais precisamente, um Dom Pérignon. Para ele, a morte significa uma passagem de fase, uma entrada em uma nova etapa, um novo começo. Portanto, motivo para celebração.

Um champanhe também seria a escolha do mestre Célio Alzer, professor da Associação Brasileira de Sommeliers. Célio escolheria o Krug Clos du Mesnil 1990. “É um vinho que me levaria às alturas! E nessa hora, quanto mais perto do céu, melhor”, brincou.

O sommelier Dionísio Chaves, que em breve abrirá um novo restaurante na Barra da Tijuca, o Duo, escolheria um Montrachet 1990 da Domaine de La Romanée-Conti. Para ele, mais do que ser o melhor vinho que já provou na vida, é a história do poder que um vinho branco tem em superar tintos ainda mais badalados.

O mesmo vinho, mas em safra diferente, seria a escolha de outro sommelier, Eder Heck, do Mr. Lam. Eder escolheria o Montrachet 1978, também da DRC. Segundo ele, ‘este vinho seria capaz de salvar um condenado da forca’.

O mestre Danio Braga não se faria de rogado. Escolheria um Château Petrus 1921. “Fico com este vinho por ter sido o melhor que bebi, o que mais me emocionou, em toda a minha vida. Então, partiria para o outro lado com este gosto na boca”, disse Danio.

Da mesma safra é a escolha do sommelier Marcos Lima: o Château D’Yquem 1921. “Beberia este vinho para poder levar na boca e na memória o prazer e a doçura destes grandes momentos”, explicou Marquinhos.

Um vinho de Bordeaux seria a escolha de outro professor da ABS, Ricardo Farias. O Château Haut-Brion 1982 seria o eleito. O motivo, além da qualidade indiscutível da bebida, é saudade. “Há cerca de 10 anos, após uma degustação na ABS Rio, convidei algumas pessoas para continuarmos degustando na minha casa. Entre estas pessoas, estava uma querida amiga: Juarezita Santos, dona do Quadrifoglio. Para finalizar, provamos um Haut Brion 1982, irrepreensível. Mas, mais que o vinho, ficou-me a lembrança da Juarezita, que já se encontrava doente e foi, provavelmente, a sua última degustação. Pouco depois foi internada vindo a falecer”, contou Ricardo.

O chef Paulo Pinho, do Sagrada Familia, escolheria o italiano Brunello de Montalcino Soldera Riserva 1993. “Foi o melhor vinho que já tomei. É sensacional. Bebi uma garrafa lá na Itália e outra aqui no Brasil. Se eu tivesse outra garrafa, seria ela a eleita para este momento final”, falou Paulinho.

O professor Fernando Miranda iria de um vinho argentino feito na Patagônia. "Escolheria o Noemia, que além de ser um dos melhores vinhos das Américas, o casal proprietário, a italiana Noemí Marone Cinzano e o marido, o enólogo dinamarques Hans Vinding Diers são pessoas de primeira qualidade, muito simpáticos também", indicou Fernando.

O sommelier do Terzetto, João Souza, escolheria o português Barca Velha 1965. “Nasci em 1965, e, além de ser o vinho da ‘minha safra’, é um dos melhores que já tive o prazer de provar e que mais me surpreendeu”, explica.

Um vinho português também seria a escolha do enófilo e consultor Paulo Nicolay. Mas, se pudesse, Paulo degustaria um Quinta do Noval Nacional 1963 antes de passar desta para melhor. Por coincidência, seria a mesma escolha do colunista. E a explicação é simples: O Noval Nacional 1963 é um dos melhores vinhos do porto já feitos em todos os tempos. É, para os amantes deste tipo de bebida, uma espécie de Santo Graal.

Esta é a reprodução da última coluna que escrevi para a Revista Programa. Foram 189 colunas, sexta sim, sexta também, desde janeiro de 2007, sempre escritas com prazer. Muitos vinhos comentados, muitos assuntos discutidos e muitos amigos feitos. Fica o muito obrigado a todos os que leram, passaram os olhos, mandaram e-mail, comentaram e fizeram daquele espaço um lugar onde o vinho (e também outras cachaças) foram sempre tratados com muito respeito e seriedade.

Por aqui, a vida continua. As colunas seguem sendo publicadas neste blog, e nos sites Wine Report e EnoEventos. No mais, o importante é celebrar. Saúde.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Viagra no vinho quase mata italiano

A vida andava estressada demais para o empreiteiro cinquentão Frederido di Angelino, italiano da cidade de Frosinome. O acúmulo de problemas no emprego gerava uma falta de tempo para as outras coisas, principalmente para as obrigações conjugais. Por conta disso, a esposa, também na casa dos 50, sentia-se abandonada e rejeitada.

Com a intenção de despertar o apetite sexual do marido, a senhora (cujo nome não foi revelado), decidiu agir. Sem que o marido percebesse, esmagou dois comprimidos de Viagra e misturou em uma taça de vinho tinto. Pouco depois de provar a bebida, Frederico sofreu um violento ataque cardíaco.

Levado ao hospital, Frederico conseguiu escapar da morte. Já recuperado do enfarte, absolveu a mulher. “Não fiquei zangado com ela. Na verdade, esse ataque cardíaco me fez ver o quanto estressado eu estava. Depois disso, dei uma repensada na vida e uma segurada no trabalho. Por conta disso, até minha vida sexual melhorou”, afirmou o italiano.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma revanche histórica

por Alexandre Lalas

De cara já era para ter sido daquelas noites memoráveis. Afinal, estaríamos degustando cinco safras do Mas La Plana, vinho ícone da Torres, uma das mais importantes da Espanha. E, para melhorar ainda mais a coisa, entre os rótulos estaria o lendário 1970, tinto que bateu em prova às cegas promovida pela revista francesa Gault-Millau, em 1979, ícones como Château Latour da mesma safra, Sassicaia e La Mission-Haut Brion. Portanto, a noite prometia.

No Giuseppe Grill, para apresentar os vinhos e comandar a degustação, estava o espanhol Juan Ramon Pujol, um dos enólogos da Torres. Além do Mas La Plana 1970, degustaríamos as safras 1981, 1996, 2005 e 2006. Apresentados o Mas La Plana, servidos e comentados os vinhos, o que já estava ótimo ficou ainda mais sensacional. Marcelo Torres, proprietário do Giuseppe Grill e apaixonado por vinhos, resolveu abrir uma garrafa do Château Latour 1970, segundo colocado na degustação da Gault-Millau em 1979.

Presenciaríamos uma revanche histórica ou o Mas La Plana continuaria em vantagem 31 anos após a prova de Paris?

A ansiedade entre os participantes da prova era latente. Aberta a garrafa do Latour 1970, um inesperado problema: o vinho estava decrépito, já no fim da vida. Enquanto isso, ao lado, o Mas La Plana 1970 ainda esbanjava vitalidade, no alto de seus 40 anos. Seria uma garrafa que não envelheceu bem ou o Latour 70 já havia, de fato, ido para o saco?

Para que não houvesse nenhuma dúvida, Marcelo Torres mandou abrir outra garrafa do Latour 1970. E aí ficou difícil para o Mas La Plana. A segunda garrafa do Latour 1970 estava especial. Elegante ao extremo, austero, aos 40 anos com corpinho de 20. Um clássico. Mas vale registrar que, embora inferior ao Latour, o Mas La Plana 70 era um vinho de emocionar. E que, quase tão bom quanto o 70, estava o Mas La Plana 1981, ainda com uma longa vida pela frente.

Aos felizes comensais, extasiados com a possibilidade de degustar duas obras de arte que desafiam o tempo, ficou a confirmação da máxima de que não existem grandes vinhos, mas sim, grandes garrafas de vinho.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Não deu, Romanée-Conti

por Alexandre Lalas

O austríaco Wieninger’s Pinot Noir Grand Select 2004 ganhou uma prova às cegas realizada em Cingapura que contou com a participação de 33 outros vinhos feitos com a uva. Entre os tintos degustados estavam pinots da Nova Zelândia, do Oregon e da Borgonha, inclusive rótulos da Domaine de La Romanée-Conti.

Além do vencedor da prova, os austríacos emplacaram doze vinhos entre os 20 primeiros colocados. O resultado foi comemorado pelo gerente geral da Companhia de Marketing do Vinho Austríaco, Willi Klinger, que declarou: “durante muito tempo a Áustria foi associada apenas a vinhos brancos de qualidade, mas agora, cada vez mais estamos sendo reconhecidos também pela classe dos nossos tintos”.

O júri foi formado por 16 especialistas, entre os quais, a Master of Wine Lisa Perrotti-Brown, que trabalha com Robert Parker.

Abaixo, a lista dos vinte primeiros colocados na prova. Na foto, os cinco primeiros colocados.

1 Wieninger, Pinot Noir Grand Select 2004, Viena, Áustria
2 Comte Georges de Vogüè: Chambolle-Musigny, 1er Cru 2005, Borgonha, França
3 JR Reinisch, Pinot Noir "Holzspur" Grand Reserve 2007, Thermenregion, Áustria
4 Markowitsch, Pinot Noir Reserve 2004, Carnuntum, Áustria
5 Felton Road: Pinot Noir, Block 5, 2006, Central Otago, Nova Zelândia
6 Schloss Halbturn, Pinot Noir 2004, Burgenland, Áustria
7 Schneider, Pinot Noir Reserve 2004, Thermenregion, Áustria
8 DRC: Vosne-romanée, 1er Cru 2006, Borgonha, França
9 Paul Achs, Pinot Noir 2004, Burgenland, Áustria
10 Georges Roumier: Chambolle-Musigny "Les Cras", 1er 2006, Borgonha, França
11 Claus Preisinger, Pinot Noir 2004, Burgenland, Áustria
12 Auer, Pinot Noir Reserve 2002, Thermenregion, Áustria
13 JR Reinisch, Pinot Noir "Holzspur" Grand Reserve 2004, Thermenregion, Áustria
14 Markowitsch, Pinot Noir Reserve 2006, Carnuntum, Áustria
15 Auer, Pinot Noir Reserve 2007, Thermenregion, Áustria
16 Mèo Camuzet: Clos de Vougeot, Grand Cru 2006, Borgonha, França
17 Auguste Lignier: Clos de la Roche, Grand Cru 2004, Borgonha, França
18 DRC: Echezeaux, Grand Cru 2001, Borgonha, França
19 Juris, Pinot Noir "Hochreit" 2004, Burgenland, Áustria
20 Domaine Serene: Pinot Noir "Jerusalem Hill" 2006, Oregon, EUA

Para quando bater a preguiça

por Luciana Plaas



Existe alguma boa razão para pedir comida em casa? Conheço algumas. Preguiça de cozinhar e de sair de casa já são mais do que suficiente. Mas a melhor de todas é quando a comida entregue em casa é tão boa quanto a do restaurante. Não muda nada, nem no gosto nem na textura. Aí vira vício. Não precisa nem estar com preguiça, basta sentir vontade.

A comida japonesa é muito boa, mesmo quando pedida em casa. Existe um lugar no Leblon chamado Deusimar Sushi. Sempre peço de lá. É bem pequenininho. Tudo é muito fresco e de altíssima qualidade. Um conselho é evitar pedir fritura, porque não tem como chegar crocante. Mas os combinados ficam iguais, o nirá e os cogumelos também agüentam bem a "viagem". Para os que preferem comer no restaurante, eles tem umas mesas do lado de fora, que são mais aconchegantes do que a parte de dentro.



Pizza é o tipo de comida que prefiro comer na pizzaria. Acho que nunca é a mesma coisa. Recentemente atendi à recomendação de uma amiga, moradora da Gávea, e pedi pizza no lugar sugerido por ela. Chama-se Sasso e só trabalha com entregas no domicílio. Assim a coisa muda, estão preparados para isso. Foi a melhor pizza para viagem que já comi.

Portanto, quando bater aquela fome, junto com uma preguiça incontrolável lembre-se dessas duas sugestões. Eu gosto muito.


Deusimar Sushi
R. General Urquiza, 188, Loja B
Leblon
(21) 2512-6827
(21) 2239-3876

Sasso
R. Marquês de São Vicente, 188
Gávea
(21) 2529-8272

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O vinho é a estrela

por Luciana Plaas


Do lado de fora dá pra ver as garrafas de vinho. Na parte de dentro, mais garrafas por todos os lados. Olhando assim, seria apenas mais uma loja de vinhos. Mas subindo as escadas, se chega ao Bistrô. Mal dá pra acreditar na quantidade de gente que cabe ali dentro. Diariamente acontece um happy hour e mensalmente tem uma programação com degustações, muitas vezes com visitas de enólogos dos vinhos degustados.

Semana passada, estive em uma degustação conduzida por Enrique Tirado, enólogo responsável pela produção do Don Melchor, um ícone do Chile.

De entrada foi servida Lagosta ao molho de pêra. Para harmonizar, Terrunyo Sauvignon Blanc. O prato combinou bem com vinho, que era bastante fresco.

O primeiro prato tinha uma apresentação bastante interessante. Era o Bacalhau à Bergut, uma brandade servida dentro de um pão. Já havia comido algo parecido, mas servido com sopa de queijo. O prato estava gostoso com o pão crocante que comi até as beiradas, mas a harmonização não funcionou. Foi servido com o Don Melchor 2006. Caso tivesse sido servido com o vinho anterior, teria dado mais certo. Além de que, o vinho não lembrava em nada um Don Melchor. O último que provara foi o 2004, há dois anos e ainda guardava o sabor na memória.

Tudo resolvido no prato seguinte, um Filet ao foie gras com suspiro de batata ao funghi. Servido com o Don Melchor 2005. Agora sim, o filé estava macio, assim com o vinho. Fiz as pazes com o Don Melchor.

Para os amantes do chocolate, a sobremesa estava na medida, Terrine de chocolate suíço Lindt. E para os amantes do vinho de sobremesa também: Late Harvest Concha y Toro.

O Bergut não deve ser visto como um lugar de alta gastronomia ou um restaurante extraclasse. O foco ali é o vinho, é reunir os amigos em uma mesa, em torno de uma boa garrafa, a preço mais do que justo e com uma comida saborosa e sem grandes pretensões. E o bistrô alcança com perfeição esses objetivos.

Bergut Castelo
Avenida Erasmo Braga 299, Centro - RJ (21)2220-1887

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vinhos fantásticos, língua afiada

por Alexandre Lalas

Roman Bratasiuk era um bioquímico australiano que amava vinhos. Mas amava tanto, que um belo dia, apesar de não ter nenhuma formação em enologia nem agronomia, resolveu fazê-los. Então, bateu à porta de um viticultor do Mc Laren Valley, cujas uvas Roman apreciava, e, depois de um aperto de mão, alugou as vinhas do sujeito e ali nascera a Clarendon Hills. No dia 24 de fevereiro de 1990, um sábado, Roman chegou às vinhas às seis da manhã. E, para espanto do tal viticultor, começou, sozinho, a colher as uvas. Às nove da noite, com metade do vinhedo colhido, Roman parou o trabalho. Mas voltou bem cedo, no dia seguinte, para terminar tudo. O australiano repetiu o processo com a merlot e com a cabernet-sauvignon. Depois, usou garrafas vazias para amassar as uvas em uma cesta. Dali, o mosto foi transferido para três pequenos tanques de aço, comprados por 100 dólares cada, onde foi feita a fermentação, com leveduras indígenas, e sem nenhum controle de temperatura. Depois o vinho passou por um estágio em barricas de madeira de terceira mão. Em onze dias, tudo estava terminado. Os vinhos foram todos vendidos.


Vinte e uma colheitas depois, a Clarendon Hills coleciona prêmios e pontuações altas em tudo o quanto é canto. Robert Parker adora os vinhos. Jancis Robinson também. Mas Roman não caiu na tentação de aumentar demais a produção para atender a um mercado faminto por seus vinhos. E, se hoje em dia não precisa mais colher tudo sozinho como fizera em 1990, mantém os mesmos princípios de quando começou: vinhos de um único vinhedo, de uma única variedade, de vinhas muito velhas, com baixa produção, colhidos a mão e vinificados com o mínimo de intervenção possível. Por não gostar dos vinhos feitos em Mc Laren Valley, lugar onde estão os vinhedos dele, se recusa a colocar o nome da região nos rótulos. “Não tenho nada a ver com os outros vinhos dali”, brada Roman. E os vinhos da Clarendon Hills são, de fato, muito diferentes do que a região e mesmo a Austrália, costuma produzir.


No Brasil para apresentar os vinhos que, através da importadora Viníssimo, chegam, pela primeira vez, ao mercado sul-americano, Roman conversou com exclusividade com o blogueiro. Entre um gole e outro de cerveja, Roman destilou, sempre com muito bom humor, uma razoável dose de veneno contra outros produtores e contra a crítica especializada australiana.


Alexandre Lalas: O Sr começou a fazer vinhos por amá-los muito. Quais eram os vinhos pelos quais o Sr era apaixonado?
Roman Bratasiuk: Eu bebia muito o Grange, da Penfolds e outros bons vinhos australianos da década de 50 e 60, principalmente. Até porque os atuais caíram muito de qualidade depois que grandes conglomerados compraram as vinícolas familiares. Gosto e bebo muito também os vinhos de Bordeaux, da Borgonha e do vale do Rhône, especialmente os do norte.


AL: E hoje, quais os vinhos que o Sr bebe?
RB: Além dos meus, que gosto muito, continuo bebendo bons vinhos da Borgonha, de Bordeaux e do norte do Rhône. Os australianos eu parei. A vida é muito curta para vinhos ruins.


AL: A exceção dos seus, todos os outros vinhos australianos são ruins?
RB: Não digo que são todos ruins, mas a maioria. E os que não são ruins, não são melhores do que os franceses que gosto de beber. Mas não bebo apenas franceses não. Sou apaixonado por vinho do Porto, por exemplo. E, quando estive no Douro, vistando Dirk Niepoort, um produtor de lá, provei muita coisa realmente muito boa.


AL: O Sr já provou algum vinho brasileiro?
RB: Ainda não. Mas esta cerveja que estamos tomando é muito boa.


AL: O que o Sr espera do mercado brasileiro?
RB: Não sei muito o que esperar. É a primeira vez que meus vinhos estão aqui. Sei que é um mercado com potencial grande, que está em expansão. Sei também que bebem muitos vinhos do Chile e da Argentina. Daqui a um tempo saberei melhor, mas espero que meus vinhos tenham boa venda no Brasil. Sei que foi um namoro longo, mas estou feliz que meus vinhos estão aqui.


AL: Por que o Sr não faz corte de uvas ou mesmo um blend utilizando o que de melhor cada vinhedo pode produzir?
RB: É uma questão puramente filosófica. Eu acredito nos meus vinhos do jeito que eles são. Quero uma expressão pura da variedade da uva com o tipo de terroir de onde ela vem. Não me interessa perder este tipo de característica única de cada vinhedo. Em um lugar tenho um vinho mais frutado, no outro com mais especiarias e pimenta, no outro mais tanino. Gosto que cada vinho tenha uma expressão própria.


AL: Houve algum ano em que o Sr não ficou satisfeito com a colheita a ponto de não lançar o vinho?
RB: Houve sim, em 2000. Tivemos um ano atípico, um verão muito frio. Mesmo assim colhi as uvas e fiz o vinho, esperando que ele melhorasse na garrafa. O tempo foi passando e nada de o vinho melhorar. Eu não poderia lançar ao mercado aquele vinho. Tenho uma reputação a zelar. Então, quebramos as garrafas, uma a uma, para não corrermos o risco de algum engraçadinho encontrar nossas garrafas e vender a um mercado qualquer.


AL: Um prejuízo danado então...
RB: Mas é assim mesmo. Faço vinhos há 21 anos. E a cada ano, a bebida fica diferente. Quando acho que já sei tudo, acontece alguma coisa que me faz ver que ainda tenho muito o que aprender. Tudo influencia. O clima, a idade das vinhas, a quantidade de chuvas, de ventos. Nenhum ano é igual ao outro.


AL: Por que o Sr não produz mais vinhos brancos?
RB: Eu fazia, até o ano 2000, um chardonnay, fermentado em barrica, a moda da Borgonha, com grande capacidade de envelhecimento. Eram ótimos, mas não eram para o consumo rápido, como os consumidores estavam acostumados e o mercado não entendeu estes vinhos. Até o Robert Parker, que costuma gostar do que eu faço, caiu de pau em cima do vinho. Então, resolvi parar de fazê-lo. Mas, o engraçado é que, quando o Parker veio visitar a minha vinícola, abri pra ele uma garrafa de um destes chardonnays, já mais evoluídos. Quando o Parker provou, virou pra mim e disse ‘acho que eu estava errado’. Eu falei pra ele que, depois de ele me ferrar o mercado com notas péssimas praquele vinho, agora era tarde.


AL: E o Sr não pensa em voltar a produzir o chardonnay novamente?
RB: Nem pensar. Eu teria que começar a colheita quatro semanas antes, daria muito trabalho. Agora, quando quero um bom branco, fico na Borgonha e bebo uma garrafa de um corton-charlemagne ou de um montrachet mesmo.


AL: O Sr disse que críticas ruim de Robert Parker arruinaram o seu chardonnay. Como é a sua relação com os críticos de vinhos da Austrália?
RB: Acho que Deus faria um favor à Humanidade se todos os críticos de vinho australianos amanhecessem mortos. Eles não sabem nada.

sábado, 7 de agosto de 2010

Chantagem e morte na Borgonha

por Alexandre Lalas

A Domaine da La Romanée-Conti (DRC) é uma das vinícolas de maior prestígio no mundo. A empresa produz apenas quatro mil garrafas por ano. Os vinhos da empresa são disputados por endinheirados colecionadores e cultuados por enófilos do mundo inteiro. São sinônimo de elegância, qualidade e bom viver. Tal status desperta admiração de muitos, inveja de alguns e ganância de outros. Eis que em janeiro deste ano, Aubert de Villaine, o dono da Romanée-Conti, começou a receber cartas anônimas e ameaçadoras. O missivista exigia o pagamento de 1 milhão de euros (R$ 2,3 milhões) para não envenenar as vinhas da vinícola.

Em princípio, Aubert não deu muita importância ao fato. Até que o autor das cartas resolveu jogar mais pesado. Primeiro, mandou uma planta detalhada da localização dos vinhedos da domaine, com algumas vinhas específicas marcadas. E quando duas vinhas foram encontradas com as raízes afetadas por uma substância química, a polícia foi acionada.

Uma operação foi montada para a captura do chantageador. Diretores da DRC deixaram um pacote com notas falsas no lugar indicado pelo bandido. A polícia monitorava o local, e quando o larápio apareceu para pegar o dinheiro, foi preso em flagrante. Depois descobriu-se que o mesmo sujeito já havia tentado aplicar o golpe em outra vinícola da Borgonha, a Domaine de Vogue, que fica nas cercanias de Chambolle-Musigny.

Na ocasião, as autoridades francesas acharam por bem não revelar o nome do chantageador. Apenas nesta semana, o mistério foi desfeito. E o motivo da revelação foi uma tragédia. Jacques Soltys, de 57 anos, o acusado de tentar extorquir a DRC, foi encontrado morto na cela da prisão onde estava, em Dijon, na França. Segundo os carcereiros que encontraram o corpo, Soltys teria se enforcado.

O filho de Soltys, acusado de cumplicidade nos dois golpes, segue preso, aguardando julgamento, com a identidade resguardada. Ao ser informado da morte do sujeito que o tentou extorquir, Aubert de Villaine preferiu não comentar o fato. Apenas lamentou a morte de Soltys.

Um cordeiro para os pais

por Luciana Plaas

Domingo é Dia dos Pais. Nestas datas, não recomendo restaurante algum. É fila atrás de fila, trânsito, um caos. Mas para não deixar a data passar em branco, segue uma receita para quem preferir celebrar em casa mesmo. O cordeiro agrada a nove entre dez homens. E esta é uma receita do Jamie Oliver, daquelas que não tem erro e não dão trabalho algum. Atenção pois o prato requer um longo tempo de cozimento, que deixa a carne ainda mais macia e gostosa. Portanto se for fazer o cordeiro, programe-se.

Serve 6 pessoas
1 pernil de cordeiro
sal e pimenta
3 colheres de sopa de azeite de oliva
6 fatias de bacon
3 cebolas roxas, cortadas em quatro
3 dentes de alho, descascados e fatiados
2 mãos cheias de um mix de ervas (tomilho, alecrim e loro)
4 batatas grandes, descascadas e cortadas em quatro
1 aipo cortado em quatro
6 cenouras, descascadas e partidas ao meio
3 batatas baroa, descascadas e partidas ao meio
1 garrafa de vinho branco

Aqueça forno na temperatura de 170C. Tempere o pernil com pimenta e sal. Numa caçarola grande ou em um tabuleiro, doure o pernil com azeite até que fique dourado de todos os lados. Acrescente o bacon e as cebolas e por último alho. Continue fritando por mais 3 minutos. Coloque os vegetais e as ervas, o vinho e a mesma quantidade de água. Deixe ferver e cubra com papel laminado. Leve ao forno por 5 horas, até que fique macio. Tempere o molho que sair da carne. Prove. Sirva com os vegetais.