sábado, 27 de março de 2010

É dia de feira

por Luciana Plaas

Todo o dia é dia de feira. Literalmente. É só conferir a lista das feiras com as respectivas ruas e bairros. Está no site www.horti.com.br/home/guias/feiraslivresrj.htm. Ou seja: dá para ir à feira todos os dias.

Eu adoro. Desde pequena, quando ia com a minha mãe. Tinha um biscoito, que eu adorava, e que só havia na feira. Já mais velha, quando passei uma temporada em Hamburgo e me sentia um pouco sozinha, ia até uma feira dar um passeio. Anos mais tarde, cheguei a morar em uma rua que tinha feira todos os sábados, no Jardim Botânico.

O clima da feira independe do país, é universal. Existe todo um movimento e até uma linguagem que só se encontra por lá. É claro que, em tese, vai-se à feira para comprar alguma coisa. Mas a gente acaba se distraindo com as cores, perfumes, vozes e, em algumas feiras, até música. E quando você se dá conta, o carrinho já está cheio, só falta provar a melancia e decidir se vai ou não levar aquele peixe que está te olhando fixamente.

Tenho uma amiga, uruguaia, que vai à feira todos os sábados, na rua Paula Barreto. Ela me contou que já nem precisaria mais ir até lá. O feirante com quem ela compra há anos, entrega tudo em casa. Mas como ela se acostumou com este ritual, vai até lá, bate um papinho, olha o que tá mais bonito, prova alguma coisa, escolhe e aí sim, pede ao feirante que leve tudo até a casa dela.

Por mais que o clima descontraído que rola na feira faça parecer que tudo aquilo é uma bela bagunça, não é exatamente assim que a banda toca. Somente pessoas autorizadas pela Prefeitura podem montar as barracas nas feiras livres. E tem mais: se o feirante faltar um determinado número de vezes, perde a permissão do comércio. A coisa é seria. São necessários também certificados de posse e vistoria sanitária do veículo utilizado para o transporte das mercadorias. Sem falar na disposição para madrugar para comprar os produtos. Portanto, chegando cedo ou só na hora da xepa, tudo bem. O importante é ir à feira. No dia em que melhor lhe convier. Afinal, todo dia é dia de feira.

O vinho em caixa

por Alexandre Lalas

Em 1965, o australiano Tom Angove teve uma excelente ideia: acondicionar vinhos dentro de uma caixa. Encheu bexigas de polietileno de 4,5 litros com vinhos e as colocou dentro de uma embalagem de papelão. Era o nascimento dos vinhos em bag-in-box. No começo, a coisa ainda era complicada. O consumidor tinha que furar a bexiga, derramar a quantidade desejada e vedar a tampa com um equipamento especial. Dois anos depois, outro australiano, Charles Henry Malpas patenteou uma espécie de plástico embalado a vácuo, com uma torneira que fica para o lado de fora, o que facilitou imensamente o trabalho dos consumidores. Estava aberto o caminho para o vinho em caixa, o bag-in-box.

Na Austrália, país de nascimento da embalagem, o bag-in-box reina soberano. Se não tem o mesmo glamour de uma bonita garrafa, a tal caixa é prática até dizer chega. Para quem bebe sozinho em casa, e raramente mata a garrafa inteira, é uma excelente solução. O vinho pode ser guardado na geladeira mesmo. E dura por meses. Isso acontece porque a embalagem a vácuo evita a oxidação do vinho. Portanto, a pessoa pode servir-se de uma taça durante a refeição, sem o risco de que o vinho estrague. Para restaurantes, bares e afins, a caixinha também é uma mão na roda. Por preservar bem a bebida, é a solução ideal para incrementar a venda de vinhos em taça, reduzindo bastante o desperdício.

Mas, mesmo com todas estas vantagens, o vinho vendido em bag-in-box é pouco consumido pelo brasileiro. São muitas as razões. Em primeiro lugar, preconceito e desinformação. Além da falta de glamour, a caixa de papelão não é esteticamente grande coisa. Mas a praticidade compensa e muito a falta de charme. Outro motivo é mais complicado. Quando as primeiras embalagens de bag-in-box foram comercializadas no Brasil, a qualidade dos vinhos ali acondicionados era sofrível. Era a raspa do tacho da produção. Isso provocou uma associação da embalagem com bebida ruim.

Hoje em dia, algumas vinícolas nacionais já oferecem um vinho potável em bag-in-box. Ainda poderia ser melhor. É evidente que ninguém espera que um grande vinho, top de linha, com largo potencial de envelhecimento, seja comercializado na caixinha. Mas vinhos melhores poderiam ser vendidos na embalagem, e não apenas os de entrada de linha das vinícolas. Um aumento na qualidade do que é vendido dentro do bag-in-box poderia ser a alavanca que falta para que este tipo de vinho finalmente consiga o lugar que merece no mercado nacional.