sábado, 26 de junho de 2010

O cara

por Alexandre Lalas

Muita gente costuma dizer que o Dão é a Borgonha de Portugal. A comparação, embora um tanto exagerada, existe por conta da elegância comum aos bons rótulos das duas regiões. E também por conta do preço, relativamente alto se comparado ao de outros lugares produtores de vinho. Mas, se considerarmos de fato que o Dão é uma espécie de Borgonha de Portugal, então Álvaro Castro, dono e enólogo da Quinta da Pellada é a versão lusa de Aubert de Villaine, o responsável pelos míticos vinhos da Domaine de La Romanée-Conti.

É Álvaro Castro o principal produtor do Dão. Lá, ele é "O cara"! Em uma região cheia de potencial, mas marcada pela irregularidade do que é produzido, os vinhos da Quinta da Pellada são sinônimos de alta qualidade. Desde a linha mais em conta, com bebidas mais simples e acessíveis, aos rótulos mais caros, tudo é bom, acima da média.

A vinícola nasceu em 1980, quando o Álvaro herdou a propriedade e decidiu retomar a tradição da família em produzir vinhos, quebrada havia duas gerações. Na vinha, cuidado minucioso com as plantas. Na cantina, modernas técnicas de vinificação aliadas a métodos ancestrais. Esta é a filosofia de Álvaro, que lançou o primeiro vinho em 1989. Desde então, não parou mais.

Em recente visita ao Rio de Janeiro, Álvaro apresentou os vinhos que faz, de diferentes estilos, para distintas ocasiões. Abaixo, uma breve análise de cada um dos rótulos. Todos os vinhos de Álvaro Castro são importados pela Mistral (3534-0044)

Primus 2009
Dão, Portugal
Branco produzido com vinhas velhas de encruzado, bical, cercial, terrantez e verdelho; de média intensidade aromática, com notas de frutas secas, com ligeiro tostado; na boca tem volume, frescor, bom corpo, um toque cítrico, muito equilíbrio e um final longo.
Nota: 9
Preço: N/D no Brasil

Quinta de Saes Reserva Branco 2005

Dão, Portugal
Branco de cinco anos de idade e ainda em plena forma, este vinho é um exemplo clássico da capacidade do Dão de gerar grandes vinhos e da competência de Álvaro Castro em produzi-los. Delicado no nariz, elegante na boca, com bom volume, médio corpo, acidez perfeita, fruta e persistência.
Nota: 9
Preço: N/D no Brasil

Saes 2008
Dão, Portugal
Tinto de entrada de gama, fácil de beber e de gostar. No nariz, fruta. Na boca, é leve, frutado, fresco, com a elegância de sempre, marca registrada dos vinhos de Álvaro Castro.
Nota: 8
Preço: US$ 27,66

Quinta de Saes 2007
Dão, Portugal
Muita fruta fresca, com um toque floral no nariz. Na boca, é vivo, leve, fresco, bem equilibrado, bem frutado e com um final de média persistência.
Nota: 8
Preço: US$ 40,24


Quinta de Saes Estágio Prolongado 2007
Dão, Portugal
Tinto feito com vinhas velhas de touriga-nacional e tinta roriz; nariz de intensidade média, com notas de violeta, fruta madura, especiarias e um leve tostado. Na boca, tem bom corpo, volume, taninos finos, acidez correta e final longo.
Nota: 8,5
Preço: US$ 60,36


Quinta da Pellada 2007
Dão, Portugal
Corte de touriga-nacional e tinta roriz, vindas de vinhas velhas. Elegante no nariz, com notas de violeta e frutas vermelhas maduras. Na boca, encorpado, volumoso, fino, com acidez perfeita e final longo.
Nota: 9
Preço: US$ 125,34

Pape 2006
De vinhas de duas quintas (passarela e pellada) sai este tinto, corte de baga e touriga-nacional. No nariz, violeta e fruta fresca, aliada a um toque balsâmico e com evolução para chocolate amargo. Na boca, encorpado, vigoroso, com taninos finos, acidez bem marcada e um final longo e fresco.
Nota: 9
Preço: US$ 118,86

Carrocel 2007
Dão, Portugal
Feito exclusivamente com a touriga-nacional; elegante no nariz, repleto de notas florais, em especial, a violeta, e com cereja e amora. Na boca, tem bom corpo, taninos macios, leveza, acidez perfeita, vivacidade e um final longo e intenso.
Nota: 9,5
Preço: US$ 184,54


Quinta da Pellada Touriga Nacional 2004
Dão, Portugal
Este é um dos grandes tintos portugueses, de nariz intenso, com aromas de violeta, rosa, fruta vermelha e notas de baunilha e tostado. Na boca, delicado, macio, fino, envolvente, redondo, vivo, longo, com leve sensação de doçura no longo final.
Nota: 9,5
Preço: US$ 125,34

Doda 2005
Dão e Douro
Este vinho chamava-se Dado. É uma junção de Dão e Douro, regiões de onde vêm as uvas. Mas problemas com o registro da marca fizeram com que o nome mudasse para Doda. Pouco importa. O que interessa aqui é que a parceria de Álvaro Castro, da Quinta da Pellada, no Dão, com Dirk Van Der Niepoort, da Niepoort, no Douro, funciona que é uma maravilha. No nariz, violeta e frutas vermelhas frescas. Na boca, impressiona pela estrutura e pela elegância, com taninos macios, fruta, vivacidade e um final enorme e longo.
Nota: 9,5
Preço: US$ 113,31

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Bacalhau de sexta

por Luciana Plaas

Dizem que em time que está ganhando não se mexe. E como na semana passada deu sorte postar antes do jogo contra a Costa do Marfim uma receita típica do país africano, decidi repetir o ritual. E escrever sobre a comida de Portugal, nosso próximo adversário na Copa do Mundo. Quem sabe assim não garantimos mais uma vitória.
Lembro bem da primeira vez que fiz um bacalhau. Ficou muito ruim. Não sabia direito quanto tempo para dessalgar, nem quanto cozinhar e, principalmente, faltava uma boa receita. Conclusão: foi um completo fiasco. Até que um dia, voltei ao restaurante português, Gruta Santo Antônio, em Niterói.

Experimentei as punhetas de bacalhau. E amei. Enquanto comia, aproveitei para folhear o livro Cozinhar é preciso (Ed. Senac-Rio, R$ 27,90), escrito por Dona Henriqueta Henriques, a proprietária do restaurante. Enchi-me de coragem, comprei o livro e resolvi tentar fazer de novo um bacalhau. A primeira receita que me arrisquei foram as punhetas. Deu certo e fui me arriscando mais. Graças as receitas da Dona Henriqueta, hoje posso dizer que sei fazer bacalhau. Por isso, a receita escolhida para o jogo dessa sexta-feira foi:


Punhetas de Bacalhau
(bacalhau cru desfiado)
Rendimento: 2 porções

Ingredientes

250g de bacalhau cru desfiado e demolhado
pimenta do reino a gosto
2 colheres de sopa de cebola em tirinhas finas
um pouquinho de alho picado
2 ou 3 gotas de vinagre
8 colheres de sopa de azeite
sal a gosto
1 colher de sopa de pimenta-rosa
utensílios necessário: travessa

Modo de preparar
1.Misture, com as pontas dos dedos, o bacalhau cru desfiado e demolhado (mais ainda um pouquinho de sal) com todos os ingredientes (exceto a pimenta-rosa).
2.Acerte o sal.
3.Disponha a mistura em uma travessa, regue com mais azeite e acrescente a pimenta rosa.
Segredinho
Corte rodelas de pão, coloque por cima delas um pouco da "punheta de bacalhau", como se fosse um canapé. É bom demais.

E rumo ao hexa!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Do inferno ao inverno

por Alexandre Lalas

Oficialmente, o inverno começou apenas hoje, dia 21. Mas, na prática, o frio já chegou há tempos. Depois de um verão escaldante, quando a Cidade Maravilhosa mais parecia uma sucursal do inferno, os cariocas experimentam o alívio de um friozinho civilizado. E, já que na Copa do Mundo a única coisa a esquentar até agora foi o técnico Dunga, melhor deixar o futebol de lado e apostar em tintos encorpados e vinhos fortificados.

E não faltam opções de bons vinhos para todos os gostos e bolsos. Desde malbecs argentinos que esbanjam potência e concentração a delicados vinhos de porto, há de tudo. E, para ajudar na hora de escolher o rótulo certo para a ocasião, nada melhor do que uma boa listinha, com dez vinhos que perfeitos para aquecer o inverno de qualquer enófilo.

Kaiken Malbec 2008
Mendoza, Argentina
Poucos vinhos são tão bons e tão baratos quanto este malbec feito por esta vinícola, de propriedade da chilena Viña Montes. Violeta muito marcada no nariz, alia vigor e frescor. Combina com um bom ojo de bife.
Nota: 8
Preço: US$ 18,50
Onde: Vinci (2236-5390)


Château la Villatade Cuvée Sanguine 2008
Minervois, França
Este é mais um bom syrah que vem do Languedoc. Nariz de intensidade média, com aromas de frutas vermelhas e um toque de ervas frescas. Na boca, tem médio corpo, taninos presentes, boa presença e um final médio com pequeno amargor.
Nota: 8
Preço: R$ 48
Onde: La Cave Jadot (11 2478-2001)


Bridgewater Mill Shiraz Viognier 2005
Adelaide Hills, Austrália
Corte de shiraz com viognier, feito por esta vinícola que faz parte da Petaluma. Nariz expressivo, com notas de amora, um toque floral e um fundo de baunilha. Na boca, macio, de médio corpo, fresco, fácil, com final longo e agradável.
Nota: 9
Preço: R$ 87
Onde: Wine Society (2286-3873)

Blog 2006
Alentejo, Portugal
Tiago Cabaço produz em Estremoz, no Alentejo, este belo corte de alicante bouschet, syrah touriga-nacional. No nariz, é intenso e vigoroso, com fruta bem madura e especiarias. Na boca, é carnoso, denso, grande, com uma acidez generosa e um final longo e intenso.
Nota: 9
R$ 133
Onde: Adega Alentejana (2286-8838)

Domaine Baud Macvin do Jura
Jura, França
Vinho fortificado com aguardente vínica, produzido com a uva savagnin na região de Jura, na França. Rico em aromas, com notas de tangerina, damasco, casca de laranja, maçã, noz e mel. Na boca, combina bem açúcar e acidez, é untuoso e com um final largo. Vai bem com melão, creme de papaia, tarte tatin ou mesmo como aperitivo. Sirva bem gelado.
Nota: 8,5
Preço: R$ 148
Onde: Le Tire Bouchon (11 3822-0515)


Dona Maria Reserva 2005
Alentejo, Portugal
Júlio Bastos foi durante muito tempo o proprietário da Quinta do Carmo. Depois que vendeu a marca, manteve parte das vinhas e montou outra vinícola. Este Reserva é um corte de alicante bouschet, petit verdot e syrah, fermentado em lagares de mármore e com estágio em barricas de carvalho. Rico, intenso e limpo no nariz, com notas de frutas vermelhas frescas, um toque de menta, canela e chocolate. Na boca, é volumoso, macio, equilibrado e longo.
Nota: 9
R$ 155
Onde: Decanter (2286-8838)


Palácio da Bacalhôa 2005
Setúbal, Portugal
Rico e intenso no nariz, com notas de compota, frutas secas, chocolate e café. Na boca, é concentrado, estruturado, com boa acidez e um final largo. Vai muito bem com pratos de carne vermelhas e caça. Ainda jovem, merece ser decantado por uma hora.
Nota: 9
Preço: R$ 189
Onde: Bacalhôa Vinhos (2532-0957)


Roquette e Cazes 2006
Douro, Portugal
Intenso, persistente, rico e limpo no nariz, com notas de frutas vermelhas frescas muito bem combinadas com leves notas de tostado e chocolate amargo. Na boca, tem ótima estrutura, taninos macios, é elegante, harmônico, e com um final longo e frutado. Combina com lombo de porco, confit de pato, e outros pratos a base de carne. E também pode ser degustado solo, como um vinho de meditação. Decante por uma hora antes de servir.
Nota: 9,5
Preço: R$ 220
Onde: Qualimpor (2256-0858)


Domaine Roux Chambolle Musigny Les Charmes 1er Cru 2006
Borgonha, França
Clássico francês, este é um tinto espetacular. Delicadeza e elegância são as palavras-chave deste líquido, que representa, com louvor, uma das melhores áreas da Borgonha. Para muitos, um vinho feminino. Combina com magret de pato e coelho. Precisa ser decantado por uma hora, pelo menos.
Nota: 9,5
Preço: R$ 450
Onde: Zahil (3860-1701)


Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Stagecoach Vineyard 2005
Califórnia, Estados Unidos
Poderoso no nariz, tem tudo o que um cabernet-sauvignon precisa ter: aromas de cassis, cereja preta, amora, chocolate, grafite. Na boca, corresponde às expectativas: musculoso, saboroso, com taninos redondos, muita fruta e uma acidez perfeita. Longo até dizer chega, pede carne. Ainda um bebê, precisa ser decantado por, no mínimo, uma hora.
Nota: 9,5
Preço: US$ 460,65
Onde: Mistral (3534-0044)

domingo, 20 de junho de 2010

Prá frente, Brasil

por Luciana Plaas


Passei os últimos dias tentando achar uma receita tradicional da Costa do Marfim. Afinal, os africanos, que estão entre os maiores exportadores mundiais de cacau (empresas como Cadbury, Hershey's e Nestlé compram a fruta dos marfinenses), serão os nossos adversários na Copa do Mundo, no próximo domingo. Não foi nada fácil. Precisei da ajuda do meu amigo Yann Lesaffre, que além de outras coisas é um gastrônomo de carteirinha, para encontrar, em um site francês, uma receita típica da Costa do Marfim. Parece interessante, e bastante diferente também. Ainda não testei. Quero fazer no domingo, na hora do almoço, antes do jogo. Quem se animar, também pode experimentar. Quem sabe assim tiramos um pouco da força de nossos adversários. Afinal de contas, nossa Seleção até que anda precisando de uma ajudinha extra. E em época de Copa do Mundo, tudo é valido.

Receita de coxa de frango da Costa do Marfim

Ingredientes:
4 coxas de frango
4 bananas
4 batatas doces pequenas
2 papaias pequenos ou 1 grande
O suco de um limão
3 colheres de sopa de curry
1 cebola cortada em tiras
100ml de leite de coco
sal

Para a marinada:
2 colheres de sopa de molho de soja
1 colher de sopa de azeite
2 dentes de alho picado
Sal a gosto

Modo de preparo:
Aqueça o forno na temperatura de 200C.
Junte todos os ingredientes da marinada e coloque sobre as coxas do frango. Reserve.
Descasque as batatas. Corte em quatro e cozinhe na água com sal.
Coloque as bananas com casca no forno pré-aquecido.
Parta o papaia ao meio, tire as sementes e a casca. Jogue suco de limão por cima e reserve. Coloque as coxas de frango, com a marinada, numa vasilha que possa ir ao forno.
Salpique as coxas com curry.
Quando as bananas já estiverem assadas, tire a casca e corte em quatro.
Suba o forno para 220C e coloque o frango para assar com as cebolas cortadas.
Após 20 minutos, regue as coxas com 200 ml de água quente.
Continue a assar por mais 10 minutos.
Coloque as batatas, as bananas e o papaia na vasilha com o frango.
Asse por mais 10 minutos.
Quando já estiver quase na hora de tirar do forno, acrescente o leite de coco e deixe no assar por mais 5 minutos.
Tire do forno, leve à mesa e aproveite.

Que venham os outros países e novas receitas!!!