quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Frango recheado

por Luciana Plaas

Sabe quando você abre a geladeira e encontra duas fatias de presunto de Parma e umas rodelas de queijo? Pois é, está receita serve para acabar com esses sobras.

Compre filés de frango. Ponha os filés em cima de uma tábua com um pedaço de papel manteiga em cima. Bata com o fundo de uma panela pesada em cima dos filés. Solte toda sua raiva. Com isso eles ficarão maiores e mais finos. Tempere com sal e pimenta.


Recheie com o que você tiver. Usei o presunto de Parma e mussarela. Amarre. Normalmente, as pessoas usam barbante. Eu, na verdade, prefiro prender com um palito de dente. Acho mais fácil. Mas tem que ficar bem fechadinho para que o recheio não escape.


Depois passe o frango na farinha, batendo para sair o excesso. Numa frigideira coloque um pouco de óleo e aqueça. Ponha os filés recheados e cozinhe em fogo baixo durante uns 15 minutos.



Retire-os da panela. Retire os palitos (ou o barbante). Na mesma frigideira coloque duas colheres de sopa de caldo de galinha e seis colheres de sopa de Marsala. Deixe borbulhar. Sirva o frango com o molho.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os vinhos do Aragão

por Alexandre Lalas

A Espanha é um dos países que apresenta o melhor custo-benefício para a compra de vinhos. Lá, com cinco euros (cerca de R$ 15) o sujeito compra uma garrafa decente de um bom tinto. Além das regiões tradicionais, como Rioja, Ribera del Duero e Priorato, existem outras áreas que, há coisa de duas décadas, sequer figuravam nos manuais de vinho. E é de lugares assim que têm saído, com frequência cada vez maior, coisas fantásticas a preços bem convidativos. São áreas como Bierzo, no noroeste espanhol, e Jumilla, no sudeste do país. Mas, sem sombra de dúvida, nenhuma outra região tem apresentado tanta qualidade com quantidade como o Aragão.


Situado no nordeste espanhol, aos pés dos Pirineus, a região conta com quatro denominações de origem: Cariñena, a mais antiga; Campo de Borja, Calatayud e Somontano, mais nova e mais conhecida das quatro.


Se nas três primeiras denominações a garnacha tinta reina soberana, em Somontano uma política de abertura permitiu aos viticultores experimentarem outras castas, com sucesso. Além da garnacha, tempranillo, merlot, cabernet-sauvignon, syrah, chardonnay e até mesmo a pinot noir apresentam bom resultado na região. O que impressiona é o fato de que há 20 anos a região praticamente não existia no mapa do vinho espanhol. A coisa começou a mudar em 1984, quando Somontano ganhou o status de denominação de origem. Outro fator é que os bodegueiros locais souberam, como poucos, entender e atender as necessidades de um mercado em transformação. Hoje em dia, Somontano está na linha de frente das zonas vinícolas espanholas, terra de tintos e brancos que recebem notas altas da crítica especializada, com um rota turística estabelecida e procurada, tanto por espanhóis como por estrangeiros. Entre as vinícolas locais, destacam-se Enate, Viñas del Vero, Bodega Pirineos, Lalanne, Fábregas e Laus, entre outras.


Calatayud talvez seja a mais promissora de todas as quatro regiões aragonesas. O lugar sempre foi conhecido pela fruta extraordinária que produzia. As condições naturais de lá são excepcionais para a videira. A vindima raramente começa antes do meio de outubro, quando a maioria das outras regiões já encerrou a colheita. A amplitude térmica e alta e o lugar é extremamente seco, por conta da altitude. E abundam as vinhas velhas de garnacha, com mais de 50 anos de idade, de produção pequena. De 1990 para cá, a região começou a se organizar e a qualidade dos vinhos não parou de crescer, e o que é melhor, os preços continuam excelentes. A prova, é que 76% da produção local são exportadas. Isto se deveu à estratégia das vinícolas locais, que preferiram buscar espaço fora da Espanha a enfrentar um mercado feroz e saturado de novos produtores. Niño Jesus, Albada, Jalón, San Gregorio, Agustin Cubero, Langa Hermanos, San Alejandro (que faz o ótimo Baltasar Gracián) e Virgen de La Sierra são alguns dos produtores locais que merecem atenção.


Cariñena é a mais tradicional das denominações do Aragão. Mas, neste caso, tradição não se reflete em melhores vinhos. A região talvez seja a mais irregular das quatro. Na mão de bons produtores, a garnacha gera vinhos ótimos, macios, complexos, longevos. Mas, infelizmente, ainda há muita gente no lugar que privilegia a quantidade e lança vinhos de baixa qualidade no mercado. Entre os bons produtores estão Esteban Martín, Bodegas del Señorio, Perdiguer, San Valero, Solar de Urbezo, Monfil, Señorio de Aylés e Sucesores de Manuel Piquer.



A outra região do Aragão é Campo de Borja. O lugar fica entre duas zonas vinícolas tradicionais, Rioja e Cariñena. Ali não houve migração de grandes empresas, nem tampouco investidores endinheirados ávidos por tornarem-se viticultores. A região cresceu com o esforço coletivo das produtores locais. E no caso, a união fez a força. De 900 mil garrafas vendidas em 1991, Campo de Borja saltou para 15 milhões em 2006, sendo que metade disso para o mercado externo. Borsao, Bordejé, Caytusa, Bodegas Aragonesas, Mareca e Agro-Frago são algumas das melhores vinícolas da região.

domingo, 31 de janeiro de 2010

O menino Glicério

por Alexandre Lalas


Glicério nem um ano tinha quando a mãe deixou Fortaleza e os filhos para trás em busca de chances melhores na vida. O avô materno era quem cuidava das crianças na capital cearense. Ou, talvez, fossem as crianças que ajudassem a cuidar do avô, doente desde que levara uma chifrada no abdome. Quando o avô faleceu, o pai biológico cuidou de Glicério. Por um tempo. Um belo dia levou o menino para passar o fim de semana na casa da avó. Nunca mais voltou.

Menos mal que a avó morava em uma bela casa na roça, em um vilarejo que nem no mapa estava. Em toda a vila, televisão só havia uma. Que funcionava a bateria. Luz elétrica e água encanada, nem pensar. A cidade mais perto era Antônio Diogo, que ficava a cerca de 70 km de Fortaleza. Glicério tinha quatro anos. Para uma criança naquela idade, o lugar era perfeito. A rotina era escola, chupar uma manga na sombra da mangueira, banho de açude, passeio a cavalo. Uma infância feliz.

Até que a mãe, a esta altura morando no Rio de Janeiro, bem empregada como costureira em uma boutique e casada novamente, achou que já era hora de buscar Glicério. E então veio o menino, acostumado à imensidão do campo, morar em uma quitinete na Lapa, com a mãe, as duas irmãs, e o novo pai.

A adaptação não foi nada fácil. Os costumes eram diferentes. O garoto acostumado a feijão de corda, baião de dois e carne de sol, teve que começar a comer salada. As brincadeiras infantis na escola também eram estranhas a Glicério. Mas o garoto logo se enturmou e tornou-se popular.

Quando a família se mudou para Botafogo, para um apartamento melhor, Glicério entendeu que já era hora de trabalhar. E aos 12 anos, começou a lavar carros em um estacionamento no Catete, onde o tio trabalhava. Depois, virou jardineiro em uma vila pertinho do Museu da República. Além de estudar e trabalhar, ainda arranjava tempo para treinar no Aterro do Flamengo, entre os dentes de leite do clube da Gávea.

A experiência no futebol não deu muito certo. Nem a jardinagem. Quando perdeu o emprego de jardineiro, Glicério foi indicado por um amigo para trabalhar como assistente de garçom no Bar do Tio Otávio, em Botafogo, pertinho de onde morava. Glicério tinha 16 anos. E a vida começava a tomar um novo rumo. De auxiliar, virou garçom. Depois, subgerente. Mudou de restaurante para ganhar melhor. Até que foi parar no Valdostano, especializado em comida italiana. Nas folgas, tomava cerveja com os amigos. Quando saía com alguma garota especial, pedia vinho. Liebfraumilch, branco alemão meio-doce, bem popular na época, era a escolha.

No Valdostano, conheceu Valmir Pereira. Valmir incentivou Glicério a fazer um curso na Associação Brasileira de Sommeliers. O mercado de vinhos começava a despontar, e ainda havia muito poucos profissionais gabaritados trabalhando em restaurantes. Glicério foi. Fez cursos e concursos. Formou-se e foi trabalhar com Danio Braga, na recém-aberta Loccanda della Mimosa. Ficou lá por 12 anos. E aquele garoto, criado solto na roça, virou Glicério Marcos Lima, um dos mais importantes sommeliers do país. Hoje, além de professor da ABS, presta consultoria à rede de supermercados Esal, de Angra dos Reis. E é titular absoluto do time de degustadores da Confraria dos Nove.

Na semana passada, tive a honra de ser convidado para participar da mesa avaliadora da prova de Homologação de Sommelier Profissional da ABS. Dos 14 inscritos, apenas cinco chegaram à prova final. Destes, somente dois conseguiram a certificação e receberam o pin. Emocionados, Ramón Justo, do Garcia & Rodrigues; e Rodrigo Moura, do Salitre, mal cabiam nos elegantes ternos que usavam. Emocionado com a felicidade de ambos estava também um dos jurados: Marcos Lima, o menino Glicério, que via na vibração dos dois aprovados, um pouco da própria história.

E aos que não conseguiram a homologação, vale o exemplo de Marcos. Na primeira prova que fez, sequer passou no exame escrito. Chorou, estudou, se dedicou. Três anos depois, Glicério Marcos Lima ganhava o concurso de melhor sommelier do Rio.