quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O dry-martini do Buñuel

por Alexandre Lalas


Em O último suspiro, autobiografia que escreveu, o cineasta espanhol Luis Buñuel reservou um capítulo inteiro para os bares e bebidas. A preferida era o dry-martini. Tanto que publicou a receita pessoal do drinque que adorava servir aos convidados. Receita bacana e que dá certo. Aos que quiserem experimentar, abaixo, estão as instruções de Buñuel:

"...Como todos os coquetéis, o dry-martini é provavelmente uma invenção americana. Compõe-se, essencialmente de gim e de algumas gotas de vermute, de preferência de Noilly-Prat. Os verdadeiros aficionados, que gostam de seu martini muito seco, chegavam ao ponto de sustentar que bastava simplesmente que um raio de sol atravessasse uma garrafa de Noilly-Prat antes de atingir o copo de gim. Um bom dry-martini, dizia-se em certa época, deve assemelhar-se à concepção da Virgem Maria. Sabe-se, efetivamente, que segundo Santo Tomás de Aquino, o poder gerador do Espírito Santo atravessou o hímen da Virgem 'como um raio de sol passa através de um vidro, sem rompê-lo'. O mesmo ocorre em relação ao Noilly-Prat, diziam. Mas isso me parece um pouco excessivo.

Outra recomendação: é preciso que o gelo utilizado esteja totalmente congelado, muito duro, para que não solte água. Nada pior do que um martini aguado.

Permitam que dê minha receita pessoal, fruto de uma longa experiência, com a qual sempre obtive grande sucesso:

No dia anterior à vinda de meus convidados, coloco na geladeira tudo o que é necessário: os copos, o gim, a coqueteleira. Tenho um termômetro que me permite verificar se o gelo está numa temperatura de mais ou menos vinte graus abaixo de zero.
No dia seguinte, quando meus amigos já estão presentes, pego tudo o que me é necessário. No gelo bem duro derramo primeiro algumas gotas de Noilly-Prat e uma meia colher de café de angostura. Sacudo tudo, depois esvazio. Só conservo o gelo, que mantém os vestígios muito leves dos dois perfumes, e derramo gim puro sobre esse gelo. Sacudo ainda um pouco e sirvo. Isso é tudo, e não há nada mais além disso.”

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O café nosso de cada dia

por Luciana Plaas


Gosto bastante de café. Sempre quando acordo, ou preciso acordar, é a primeira coisa que bebo. Antes mesmo de escovar os dentes. Faço café em casa, da forma mais tradicional possível. Tenho uma daquelas cafeteiras francesa. Água fervendo, pó de café e um relógio para marcar os minutos. Nunca fica igual. Dependendo de quem o faça, fica mais forte, mais fraco.

Normalmente, uso o 100% arábica da Cia Orgânica. Mas às vezes quero provar uma marca diferente. Hoje estava especialmente gostoso. No ponto certo. Tomei umas três canecas. Tenho que aproveitar as manhãs para isso. Não sei se é algum tipo de profecia que inventei pra mim mesma, mas estipulei que o meu último café tem que ser bebido, no máximo, até as três da tarde. Depois disso, só descafeinado! Uma daquelas idiotices que criamos. Mas o fato é que imagino que isso faça com que eu não tenha insônia tão frequentemente. Pretendo tomar um cafezinho, qualquer dia desses, lá pelas seis da tarde e tentar dormir depois. Será que vou conseguir?

Borbulhas para o fim de ano

por Alexandre Lalas

Fim de ano é tempo de festas, celebrações, reencontros, promessas que na maioria das vezes ficam pelo caminho. E de borbulhas. Muitas borbulhas. Seja um champanhe legítimo, ou um espumante nacional, não importa. O que vale é a taça cheia, o brinde, a alegria contagiante e o espírito desarmado. E a última coluna de 2009 é uma lista de alguns dos muitos bons espumantes disponíveis no mercado brasileiro. Seja nacional, francês, italiano, espanhol, português ou mesmo australiano. E a todos muita saúde e um excelente 2010!


Espumantes Nacionais:

Adolfo Lona Brut Rosé

Garibaldi, Brasil
Adolfo Lona é um craque na arte de produzir espumantes. E este é campeão. Corte de pinot noir e chardonnay, tem fruta, frescor, delicadeza. Versátil, casa bem com vários tipos de comida.
Nota: 8,5
Preço: R$ 33,50
Onde: Adolfo Lona (3860-1701)



Fabian Brut Champenoise

Serra Gaúcha, Brasil
Uma autêntica barganha, este espumante feito pela Fabian. Delicado, elegante, fresco, com notas de maçã e pão. Na faixa de preço, um dos melhores do mercado.
Nota: 9
Onde: Vini Rio (2256-0858)
Preço: R$ 37



Casa Valduga 130
Vale dos Vinhedos, Brasil
A cada ano que passa, fico mais fã deste espumante. Aromas intensos de abacaxi, croissant, manteiga. Na boca, é vivo, cremoso, de bom corpo, com final longo.
Nota: 9
Onde: Casa Valduga (54 2105-3122)
Preço: R$ 56,50





Champanhes:
Michel Gonet Brut Réserve
Champanhe, França
Eis uma família que entende do riscado. Os champanhes da casa são sempre especiais. Este é um deles. Premiado, consagrado em provas às cegas. Nariz intenso e elegante, com notas de tostado, damasco seco e mel. Na boca, alia força e delicadeza, esbanja frescor e tem um final daqueles que ficam na memória.
Nota: 9,5
Preço: R$ 126
Onde: Vitis Vinífera (2235-3968)



Henriot Brut Souverain
Champanhe, França
Um dos melhores champanhes de base disponíveis no mercado brasileiro. Nariz delicado e intenso, com notas de mel, frutas secas e brioche. Na boca, é fino, macio e cremoso, com final longo e agradável.
Nota: 9
Preço: R$ 175,07
Onde: Vinci (2246-3674)





Gosset Brut Excellence
Champanhe, França
Produtor renomado, champanhes sempre de ótima qualidade. Este não foge a regra. No nariz, flores, frutas tropicais, pão. Na boca, pêssegos, finesse, maciez, frescor, cremosidade e um final delicado e com um toque de canela.
Nota: 9
Onde: Grand Cru (2511-7045)
Preço: R$ 198




Outros espumantes:
Aimery Grande Cuvée Rosé 1531
Crémant de Limoux, França
Limoux é uma região no Languedoc, no sul da França que chama cada vez mais a atenção do mercado pela qualidade dos espumantes locais. Este é mais um dos bons. Delicado, leve, fresco, fácil de beber. Bom para canapés de salmão, para beber na piscina, na praia, como aperitivo, com uma mesa de frios ou como bem entender o consumidor.
Nota: 8
Preço: R$ 47,80
Onde: Zona Sul (2122-7070)



Angas Brut Premium Cuvée
Vale do Barosa, Austrália
Espumante australiano de boa relação custo-benefício, corte de pinot noir e chardonnay, feito pela Yalumba. No nariz, morango, lima e maçã verde. Na boca, cremosidade, frescor e um final bem agradável e de média persistência.
Nota: 8
Preço: R$ 74
Onde: KMM (2286-3873)



Vértice Rosé
Douro, Portugal
A touriga franca é a base deste espumante rosado bastante interessante feito em Portugal. No nariz, framboesa, morando e cereja. Na boca, é bem cremoso, fresco e fino, com um toque de framboesa no final.
Nota: 8,5
Preço: R$ 84,40
Onde: Adega Alentejana/Espírito do Vinho (2286-8838)





Cà del Bosco Brut
Franciacorta, Itália
Nesta região são produzidos alguns dos melhores espumantes italianos. E este é um dos bons produtores da área. Fresco, leve, suave, delicado, floral, com final de persistência média.
Nota: 8,5
Preço: R$ 100,96
Onde: Mistral (2274-4562)



Gramona Imperial Gran Reserva Brut 2005
Cava, Espanha
Eis um cava de respeito. Corte de xarel.lo, macabeo e 10% de chardonnay; com notas de maçã, um toque floral, tostado e frutas secas no nariz. Na boca, é frutado, fresco, leve e com bom final.
Nota: 9
Preço: R$ 113
Onde: Casa Flora (2224-0826)



Ferrari Maximum Brut
Trentino, Itália
Qualquer semelhança com carros vermelhos de Maranello é mera coincidência. Muito embora este espumante faça jus ao nome que tem. Nariz intenso, com aromas de avelã, tostados e mel. Na boca, cremosidade, elegância e um final longo e intenso.
Nota: 9
Preço: R$ 167,90
Onde: Decanter (2286-8838)

Especialidades natalinas

por Luciana Plaas


Natal é tempo de troca de presentes, renovação de esperanças, comilança e, também, hora em que arregaçamos as mangas e vamos para cozinha. Cada família tem uma tradição para esta noite. Em várias partes do mundo. O Panetone, típico pão de Milão foi incorporado em várias culturas. O porco assado é tradição em Miami, principalmente entre as famílias cubanas. Na Inglaterra e em Porto Rico, faz parte da ceia.

Existem as razões históricas para certas especialidades. Caso do Vanillekipferl. São biscoitos feitos na Áustria, na Alemanha e na Hungria. Tem o formato da lua crescente, igual à bandeira da Turquia. Dizem que foram criados para celebrar a vitória da dos húngaros sobre os turcos, em uma das muitas guerras entre essas nações.

Na Lituânia, Polônia e Ucrânia, na noite de Natal o quente é comer os Uszka. São espécies de ravioles, recheados com cogumelos ou carne moída. Os sérvios preparam o Cesnica, que é um pão, feito para o café da manhã. E colocam uma moeda dentro deste pão. Lá, o café é a refeição mais importante no Natal. Todos quebram pedaços desse pão. Quem encontrar a moeda é considerado o mais afortunado da família. Mas o dono da casa tem que comprar a moeda para que o dinheiro permaneça na lar.

Em Portugal é o galo é que vai para forno, não apenas o bacalhau. Buñuelos é uma espécie de sonho, muito popular nas Filipinas, Turquia, Grécia, Marrocos. Na Provença, a tradição fica por conta das treze sobremesas, que representam os doze apóstolos e Jesus Cristo. São colocadas na mesa no dia do Natal, e permanecem intactas por três dias, até o dia 27. Ainda bem que anda frio por lá.

Este ano fui incumbida de fazer os belisquetes, para antes da ceia. Pão, sempre gosto de fazer. Fiz também uns espetinhos de cordeiro que foram muito bem quistos pela família numa outra ocasião. Para finalizar resolvi inovar. Achei tão bonitinhas umas trouxinhas que vi em um livro. Maldita hora que olhei. O Natal é feito de tradição, não inovação. São panquecas cortadas em círculos. Recheei com beringela e ricota. Amarrei com cebolinha. Mas o trabalho que foi amarrar uma a uma...

Enfim, saíram. Mas paguei todos os meus pecados. Principalmente o da gula. Não tive nem tempo de almoçar. Mas seja com inovação ou tradição, que tudo se renove. E um bom Natal para todos, com fartura!