sábado, 29 de maio de 2010

Il mio nome non è Eduardo!

por Alexandre Lalas

Apesar da forte chuva e do tráfego intenso, o produtor italiano Pio Boffa, da vinícola Pio Cesare, conseguiu chegar ao aeroporto de Congonhas a tempo de embarcar no voo previsto, com destino ao Rio de Janeiro. Nem cinco horas da tarde eram ainda, e havia tempo suficiente para chegar o Rio, fazer o check-in no hotel em Ipanema e descansar um pouquinho antes de ir para o jantar com clientes da Decanter, importadora que traz para o Brasil os vinhos da Pio Cesare. O evento estava marcado para começar às 20h30, no restaurante D’Amici, no Leme. Mas, infelizmente para Pio, as coisas não saíram exatamente como deveriam...

Para começar, atraso na hora do embarque. E, para piorar a vida do já cansado italiano, fila. Dezenas de senhorinhas carregando bolsas imensas amontoavam-se no saguão do aeroporto a espera do chamado para embarcar. E a fila crescia. Pio não sabia, e nem poderia saber, que o brasileiro tem uma estranha mania: formar filas em salas de embarque de aeroportos. Por mais que os lugares sejam marcados e que o avião não decole sem que todos os passageiros estejam a bordo, o brasileiro não quer saber: basta dois ou três resolverem esperar de pé perto do portão de embarque que forma-se uma fila. Pio não sabia disso. E, vendo a fila formada, imaginou que o embarque já tivesse sido autorizado. E lá foi o italiano do Piemonte para o fim da fila. Que, evidentemente, não andava. E só foi andar já quase às seis, quando o embarque foi finalmente autorizado.

No avião, nada a reclamar. Voo tranquilo e tempo para um rápido cochilo. Afinal de contas, com o atraso para o embarque, já não haveria mais a chance de uma boa relaxada no hotel antes do jantar. O desembarque no Rio foi calmo e um motorista aguardava o italiano no desembarque do Santos Dumont. Eram seis e vinte.

No Rio, caos. Chuva fina, tudo parado no Aterro do Flamengo. E, para azedar ainda mais o humor de Pio Boffa, ar-condicionado no máximo, um motorista que não falava inglês (e muito menos italiano) e um carro que morria a cada dez metros. E a hora passando. Já passava das sete, nada de chegar o hotel. E o jantar marcado às 20h30. No Leme.

Depois de muito trânsito e morridas do carro, enfim, o hotel. O relógio marcava sete e meia. Ainda havia tempo para um banho rápido antes do jantar. Não deu. Ainda havia mais um imprevisto na conta do italiano. No balcão, na hora do check-in, mais confusão:

- Boa noite; perguntou o recepcionista do hotel.

- Boa noite. Tenho uma reserva aqui, meu nome é Pio Boffa; disse o italiano.

O recepcionista olhou no computador, olhou para Pio, olhou de novo no computador, e mandou:

- Tenho uma reserva aqui para o sr. Eduardo Pio.
- Bom, eu não me chamo Eduardo. Meu nome é Pio Boffa.

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, um confuso recepcionista chamou o gerente. Que mal chegou e pediu o passaporte de Pio. O gerente olhou o passaporte, olhou para Pio, olhou para o computador. Sem saber o que fazer, perguntou:

- Nós aqui temos uma reserva marcada para Eduardo Pio. Por um acaso o senhor não teria Eduardo no seu nome?

Já sentindo o sangue piemontês ferver nas veias, Pio argumentou que não tinha sequer algum parente chamado Eduardo. Nova rodada de explicações por parte do staff do hotel, nenhuma solução. O italiano perguntou então se havia quartos disponíveis. Havia. Pio quis saber o preço e quase caiu para trás: o mais barato, na parte dos fundos do hotel, sem vista para a praia, custava uma pequena fortuna.


Cansado, irritado e, a esta altura, atrasado, Pio ligou para o dono da importadora. O problema é que, ao mesmo tempo em que o italiano voava para o Rio, o dono da Decanter ia para Florianópolis. E estava com o telefone desligado. Depois de muita insistência, Pio finalmente falou com Adolar Hermann, o dono da importadora. Explicou o que acontecia. Adolar falou com o gerente. Que, depois de uma rápida conversa, explicou a Pio que a agência responsável pela reserva fizera uma confusão e que o Eduardo Pio em questão era, de fato, Pio Boffa.

Desfeito o imbróglio, Pio subiu ao quarto, largou as bagagens e foi para o D’Amici. Lá, comandou um autêntico banquete, harmonizado com os fabulosos vinhos da Pio Cesare. O italiano apresentou os rótulos, contou a história da família e respondeu às perguntas dos convivas. No dia seguinte, refeito, ainda comandou um brunch para profissionais do mundo do vinho. Em seguida, voltou ao aeroporto e embarcou rumo a Turim. E prometeu voltar, em setembro. Com mais tempo, a família e de férias. Será bem-vindo. E se trouxer os magníficos vinhos que produz, melhor ainda...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Canja para quem precisa

por Luciana Plaas

Nas últimas semanas, quase todo mundo com que falo está ou esteve com gripe. Eu também tive. Durou 10 dias. Depois foi a vez do Alexandre. A dele já está quase no fim. Agora é a minha sogra que começou a apresentar os sintomas. Nem minha dentista se safou.

Pensando nisso, a coluna desta semana é voltada aos gripados de plantão. É para os que mal conseguem sair de casa, nem sentir gosto ou cheiro de coisa alguma. Uma receitinha simples e gostosa, da tradicional canja de galinha.

Canja de galinha:
1 cebola grande picada
1 dente de alho picado
2 cenouras descascadas e raladas
1 folha de louro
3 talos de salsa
1kg de frango (coxa e sobrecoxa sem pele)
1 colher de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de azeite, sem ser extra virgem
2 litros de água
1 tablete de caldo de frango ou 100ml do caldo feito em casa
250 gramas de massa conchigliette lisce, da De Cecco, ou qualquer outra do gosto do doente
Salsa, coentro ou manjericão picado.

Tempere o frango com pimenta e sal, e reserve. Refogue a cebola com manteiga, até que fique translúcida, depois acrescente o alho. Acrescente o azeite. Quando estiver quente coloque o frango. Deixe dourar um pouco. Acrescente o caldo e deixe ferver um pouco. Coloque na panela o louro, e os talos de salsa. Acrescente a água, deixe ferver e baixe e fogo. Cozinhe com tampa por 30 minutos.

Com uma colher grande, tire da borda da panela a gordura que subiu.

Suba o fogo. Quando voltar a ferver, acrescente a massa ou e as cenouras. Cozinhe o tempo que diz no pacote da massa.

Prove para acertar o sal. Retire o louro e os talos de salsa. Sirva com o tempero que mais gostar.

Quem estiver com preguiça para fazer em casa, pode ir a algum restaurante e pedir o prato. O Lamas, no Flamengo, por exemplo, faz. Custa R$ 26. Não vai curar a gripe, mas dá certo conforto. Um último detalhe, serve também para outras mazelas do estomago, ajuda no frio e, como dizia a minha avó, prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Delícias em casa

Delícias da Dona Gema é uma das muitas entradas do Giuseppe Grill. Parece um pão de queijo, mas só que comprido e fino. E é feito com grana padano. Uma tentação!

A novidade é que não é mais preciso ir até o Giuseppe para provar as delícias. Didi Ribeiro, maître do restaurante e filho da Dona Gema, está aceitando encomendas para festas, jantares e afins.

Maiores informações pelo telefone 21 8128-6143.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Meu amigo Paulo Coelho

por Alexandre Lalas

Fazia frio naquela bela manhã de outono em Montalcino, histórica cidadezinha no interior da Toscana. O ano era 2005. Acordei bem cedo e fui andar pelas ruelas. Era domingo e o comércio ainda estava fechado. O lugar estava deserto e parecia que a cidade era toda minha. Passei pela igreja, pela praça e cheguei à Fortezza de Montalcino, um castelo medieval que se manteve de pé ao longo de guerras e invasões. Quando entrei, a loja de vinhos que fica dentro da fortaleza estava fechada, mas ao acabar a minha visita, a enoteca recém-abrira e ainda não tinha nenhum outro cliente. Dei uma olhada pelos vinhos, uma autêntica parede de brunellos. Vi também que a loja oferecia duas degustações verticais: uma de Brunello Biondi-Santi, de cinco diferentes safras, custava 25 euros. Mas a que me chamou mais a atenção foi a outra: seis safras do Sassicaia, um dos maiores vinhos italianos, por 75 euros. Abri a carteira, contei meus trocados e vi, resignado, que teria que me contentar com a prova de Biondi-Santi.

A atendente era uma italiana baixinha e bem gordinha, com os cabelos presos, de cerca de 40 e poucos anos. Paguei a ela e comecei, com meu italiano macarrônico, um papo informal enquanto ela me servia os vinhos, que, por sinal, estavam maravilhosos. Papo vai e papo vem, ela, percebendo meu sotaque pra lá de estranho, me perguntou de onde eu era.

- Brasil, respondi.

A senhora sorriu e disse que tinha muita vontade de conhecer o Brasil, que adorava a nossa cultura e coisa e tal. Perguntei a ela o que conhecia do nosso país, e ela, de primeira, rebateu:

- Sou muito fã de Paulo Coelho! Li todos os seus livros!

Acometido por um súbito ataque de canalhice, menti descaradamente, sem titubear:

- Paulo Coelho?!?! É muito meu amigo!! Meu vizinho de porta, no Rio de Janeiro!

A mulher se transformou. Parecia que ela estava diante de uma celebridade. Queria saber tudo sobre o escritor. Se era simpático, se tinha cachorro, se saía muito de casa, seu prato preferido, e tudo mais que a sua imaginação permitisse perguntar. Eu, que nunca encontrei Paulo Coelho na minha vida, ia inventando as respostas.

Finda a prova dos brunellos, eu já me preparava para encerrar o papo e ir embora quando a senhora me ofereceu, por conta da casa, a degustação de Sassicaia. Aí foi a vez de os meus olhos brilharem. Eu nunca tinha provado o vinho. No Brasil, seu preço estava muitos zeros acima do meu apertado orçamento. Evidentemente, não havia como recusar. Eram seis safras: 1985, 1990, 1995, 1996, 1997 e 1998. Difícil descrever em palavras a emoção que sentia a cada gole. E a senhora, inebriada por imaginar estar na presença de um sujeito íntimo de um de seus grandes ídolos, caprichava na dose. Meu preferido foi o Sassicaia 1985. Mas poderia ter sido o 1990, ou o 1995. Estavam todos magníficos. Saí de lá com a alma nas nuvens. E com a obrigação moral de, no dia em que esbarrar com Paulo Coelho em algum lugar, dar-lhe meu muitíssimo obrigado. Mesmo que ele jamais entenda a razão.