sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Os melhores do ano que passou

por Alexandre Lalas

Toda vez é a mesma coisa. Basta o final do ano chegar e surgem as listas com os melhores isso, os piores aquilo. As pessoas adoram. E, para não ficar de fora da festa, resolvi, pela primeira vez, premiar os destaques do ano. Mas, até para valorizar as escolhas, apenas três prêmios serão distribuídos: vinho do ano, barato do ano e vinícola do ano.

O vinho do ano é simplesmente o melhor vinho que bebi em 2009 e que esteja disponível no Brasil. Ficaram de fora, portanto, grandes vinhos de safras antigas que tive a sorte de provar ao longo da temporada; bem como amostras que ainda não foram lançadas e produtos estrangeiros que não têm importador por aqui.

O barato bom é aquele que melhor aliou preço à qualidade. Para ser mais justo, usei um método bem simples: dividi o preço de mercado do vinho pela nota obtida. Aquele que conseguisse o menor número final seria o eleito.

E para escolher a melhor vinícola do ano, foi levado em consideração a consistência e a qualidade do portfólio disponível no Brasil, e as possíveis novidades já a caminho.

Abaixo, os vencedores de 2009:


VINHO DO ANO:

John Duval Eligo Reserve 2005

Vale do Barossa, Austrália
Degustado em janeiro de 2009

Sempre que a história do vinho australiano é contada, o nome de John Duval tem que ser mencionado. O sujeito foi o responsável pela elaboração do Penfolds Grange, o grande ícone da terra dos cangurus, durante quase 30 anos. Quando, em 2002, saiu da empresa, John resolveu montar a própria vinícola: a John Duval Wines. No vale do Barossa, com uvas compradas de produtores que conhece há décadas, faz três vinhos: Eligo, Entity e Plexus. Todos excelentes. Mas o Eligo está um degrau acima dos demais. E o dono da primeira nota 10 da coluna ficou também com o título de melhor vinho do ano.


John Duval foi o enólogo responsável pelo australiano Penfolds Grange, um dos maiores vinhos do mundo, durante quase três décadas. No Chile, como consultor da Ventisquero, elaborou dois ótimos vinhos: Pangea e Vértice. Nos Estados Unidos, também desfila sua técnica. Mas é em sua vinícola, no vale do Barossa, que Duval produz seus melhores tesouros. Este Eligo (100%shiraz) é um espetáculo. Tem complexidade, intensidade, frescor, potência, elegância, fruta, madeira, persistência...tudo na medida certa. Um vinho perfeito.

Nota: 10
Preço: R$ 660
Onde: KMM (2286-3873)



BARATO DO ANO:


Miolo Fortaleza do Seival Viognier 2008

Campanha, Brasil
Degustado em dezembro de 2009

Encontrar um vinho que seja barato e tenha qualidade é o sonho dourado de qualquer consumidor. E lançar um produto que una as duas coisas, o desejo de todo produtor. No Brasil, muito por conta da nossa carga tributária, que flerta com o absurdo e da eterna burrocracia, que só atrapalha, fica quase impossível dizer que um vinho seja barato. Mas, comparativamente, há coisas bem interessantes. E entre as possibilidade, o que conseguiu o melhor índice (preço de venda dividido pela nota conseguida) foi este branco brasileiro, feito pela Miolo. E olha que a vinícola chegou a ter dúvidas se valia a pena ou não lançar o vinho. O motivo era a pouca disposição dos brasileiros em provar vinhos brancos. Ainda bem que a qualidade falou mais alto e a Miolo lançou este viognier de respeito.


É sempre muito agradável provar este branco. Em recente prova às cegas de viognier, conseguiu o sétimo lugar, entre treze participantes. E era, disparado, o mais barato do painel. Leve, fresco, fácil, com aromas florais e um toque vegetal. Bom no nariz, melhor na boca, perfeito como aperitivo ou com frutos do mar. Foi lançado no final de 2008, e o tempo garrafa fez bem a este vinho, que está ainda melhor do que à época em que chegou ao mercado.

Nota: 8,5

Preço: R$ 24,50
Onde: Miolo (3077-0150)



VINÍCOLA DO ANO:


Von Siebenthal

Vale do Aconcagua, Chile

Até 1998, o suíço Mauro Von Siebenthal era um advogado com um sonho: ter uma vinícola. Onze anos depois, possivelmente nem o próprio Mauro poderia imaginar quão longe se pode sonhar. Neste ano, Jay Miller, colaborador de Robert Parker na América do Sul, elegeu a Von Siebenthal como a melhor vinícola do Chile. No vale do Aconcagua, em Panquehue, área semidesértica entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes, estão espalhadas as vinhas de cabernet-sauvignon, cabernet franc, carmenère, merlot e petit verdot da Viña Von Siebenthal. E destas uvas, saem alguns dos melhores vinhos chilenos da atualidade. Toda a linha de vinhos é de qualidade superior. O Montelìg é referência quando se fala em elegância chilena. O Toknar é um esplendor de vinho, que coroou a ousadia em apostar em uma uva como a petit verdot para um vinho varietal. E, como se o portfólio já não fosse bom o bastante, a Von Siebenthal ainda deu-se ao luxo de lançar um novo ícone: o Tatay de Cristóbal, ainda não disponível no Brasil, e que levou a carmenère a um patamar ainda desconhecido. No Brasil, a vinícola é representada pela Terramatter (3860-6565).

Vinhos da Von Siebenthal:

Parcela #7 2006

Corte de cabernet-sauvignon, merlot, cabernet franc e petit verdot, bem ao estilo bordalês. Nariz intenso, com notas de frutas vermelhas maduras, um toque de especiarias, alcaçuz e café. Na boca, taninos doces, maciez, equilíbrio, frescor, médio corpo e um final bastante prazeroso.

Nota: 8,5
Preço: R$ 85,10
Degustado em novembro de 2009

Carmenère Reserva 2006

Tinto de qualidade feito com a carmenère, cortada com 10% de cabernet-sauvignon. Nariz intenso, com notas de cereja, cassis, pimenta e um leve toque mineral. Na boca, fruta, frescor, elegância e taninos presentes.

Nota: 8,5
Preço: R$ 85,10
Degustado em abril de 2009

Carabantes 2003

Corte de syrah (85%), cabernet-sauvignon (10%) e petit verdot (5%), prontinho para beber. No nariz, frutas negras e um toque de especiarias. Na boca, redondo, fino, macio, longo e com ligeiro amargor no final.

Nota: 9
Preço: R$ 155,25
Degustado em abril de 2009

Montelìg 2004

Foram feitas apenas pouco mais de 7 mil garrafas deste corte de cabernet-sauvignon (65%), petit verdot (25%) e carmenère (10%), um dos melhores tintos do Chile. Longe de ser uma bomba aromática, é elegante e intenso no nariz, com notas de cassis, azeitona, chocolate, café, baunilha e couro. Na boca, combina força com classe, é macio, harmônico, de bom corpo e final longo e arrebatador.

Nota: 9,5
Preço: R$ 322
Degustado em junho de 2009

Montelìg 2005

Montelìg é a mistura de “monte”, com “lìg”, palavra indígena pré-inca que significa luz. Envolvente como a luz, aristocrático como as montanhas andinas, este tinto, corte de cabernet-sauvignon (60%), petit verdot (30%) e carmenère (30%) é ainda melhor do que o seu irmão da safra 2004. Superior, mas coisa pouca. Ambos são grandes vinhos, ícones da vinícola e símbolo do que o Chile pode fazer de melhor em matéria de vinhos.

Nota: 9,5
Preço: n/d no Brasil
Degustado em julho de 2009

Toknar 2005

Este é um vinho que merece toda a atenção, produzido com a petit verdot. Tinto robusto, repleto de estrutura, tanino, acidez e caráter. Se a idéia for comprar e beber, decante. Mas vale a pena guardar essa joia por, pelo menos, mais um par de anos.

Nota: 9,5
Preço: R$ 399
Degustado em maio de 2009

Tatay de Cristóbal 2007

Vinho ícone da Von Siebenthal, lançado em 2009, ainda a caminho do Brasil. É um corte de carmenère (90%) e petit verdot (10%). E que põe a uva símbolo do Chile em outro patamar. No nariz, mais parece um amarone. Aromas de ameixa madura, balsâmico, café. Na boca, é enorme, denso, concentrado, interminável. Um vinho para tomar com calma. E cabe guardá-lo por um bom período. Ainda tem muito que oferecer.

Nota: 9,5
Preço: n/d no Brasil
Degustado em dezembro de 2009

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