sexta-feira, 12 de março de 2010

É duro mandar voltar

por Luciana Plaas

Há algum tempo atrás fui almoçar em restaurante, recém inaugurado, com uma amiga. Ela pediu um maçarão estilo Asiático. Todos os ingredientes estavam descritos no cardápio. O gengibre era um deles. Quando o prato chegou, ela provou e pediu para chamar o gerente. Sem titubear disse: “não gostei, tem gengibre e não gostei do gosto final”. O gerente, muito solícito e paciente disse: “mas está escrito no menu que o prato leva gengibre”. A esta altura eu já estava quase embaixo da mesa. Ele ofereceu que o prato fosse feito sem gengibre e ela aceitou, toda satisfeita. Fim de papo. Depois fiquei pensando que o tal gerente realmente foi bastante gentil, até porque não teria a menor obrigação de aceitar o prato de volta. Afinal de contas, o erro foi dela, um típico caso de gosto pessoal dela, talvez uma falta atenção na hora de escolher o prato.

Um outro dia, fui almoçar no Adegão Português, do Rio Design, na Barra. Pedi um dos pratos executivos, o bacalhau a Gomes de Sá (R$ 39,50). Quando chegou, não havia como comer o prato. O bacalhau estava duro e seco. Deixei de lado. Fiquei pensando no que fazer. Comi um pouco do bacalhau ao Brás (R$ 39,50) que o Alexandre havia pedido, para aplacar a fome. Não que estivesse grande coisa, não estava mesmo. Mas, pelo menos, era passável. Quando o garçom chegou para recolher os pratos, me perguntou se eu não havia gostado do prato. Disse exatamente o que achara do peixe: duro e seco. Só de olhar, ele concordou que o bacalhau passara do ponto. Fim de papo novamente. Pedi uma sobremesa para não ficar com mais fome, já que o prato não pude comer. Na hora da conta, ele nos avisou que a amarginha que o Alexandre havia pedido foi cortesia. Veja só, eu que fiquei com fome e ele que ganha agrado!

Embora eu não tenha mandado voltar o bacalhau, se o fizesse, teria toda a razão. O prato estava malfeito. Ao contrário do que aconteceu com minha amiga, que não percebeu que havia um ingrediente no prato que ela não gostava, com meu bacalhau a história era outra. Em suma, paguei por algo que não comi. E, tão ruim quanto o prato, foi perceber que nem o gerente, nem o maître e nem o chef se dignaram a ir na mesa para saber o que teria acontecido.

O fato de o prato estar no cardápio executivo de almoço, não dá direito ao restaurante de servir um bacalhau duro, seco, passado do ponto, com cara de velho. Em suma, bem malfeito. Quando uma pessoa cozinha, em tese, a intenção é que o conviva fique satisfeito com a comida. Se um prato volta intocado, como foi o caso, a insatisfação deveria ser também do chef. Pelo menos, deveria ser assim. Afinal, é a comida que ele preparou que não agradou a quem pagou (um preço nada barato diga-se de passagem).

Tenho um amigo que, quando não gosta do prato, é curto e grosso. Manda o garçom levar a comida da mesa sem dar espaço para discussão. Mas, em suma, a decisão de mandar voltar ou não um prato é sempre pessoal. Por mais que o cliente tenha – ou não – razão.

2 comentários:

  1. Vix! A miss Gengibre deve ter comido muito molho de cuspe e outras nojeiras...

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  2. Mandar voltar ou não, eis a questão
    Eu mando voltar, sem titubear
    Abraços
    Algeu

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