segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma revanche histórica

por Alexandre Lalas

De cara já era para ter sido daquelas noites memoráveis. Afinal, estaríamos degustando cinco safras do Mas La Plana, vinho ícone da Torres, uma das mais importantes da Espanha. E, para melhorar ainda mais a coisa, entre os rótulos estaria o lendário 1970, tinto que bateu em prova às cegas promovida pela revista francesa Gault-Millau, em 1979, ícones como Château Latour da mesma safra, Sassicaia e La Mission-Haut Brion. Portanto, a noite prometia.

No Giuseppe Grill, para apresentar os vinhos e comandar a degustação, estava o espanhol Juan Ramon Pujol, um dos enólogos da Torres. Além do Mas La Plana 1970, degustaríamos as safras 1981, 1996, 2005 e 2006. Apresentados o Mas La Plana, servidos e comentados os vinhos, o que já estava ótimo ficou ainda mais sensacional. Marcelo Torres, proprietário do Giuseppe Grill e apaixonado por vinhos, resolveu abrir uma garrafa do Château Latour 1970, segundo colocado na degustação da Gault-Millau em 1979.

Presenciaríamos uma revanche histórica ou o Mas La Plana continuaria em vantagem 31 anos após a prova de Paris?

A ansiedade entre os participantes da prova era latente. Aberta a garrafa do Latour 1970, um inesperado problema: o vinho estava decrépito, já no fim da vida. Enquanto isso, ao lado, o Mas La Plana 1970 ainda esbanjava vitalidade, no alto de seus 40 anos. Seria uma garrafa que não envelheceu bem ou o Latour 70 já havia, de fato, ido para o saco?

Para que não houvesse nenhuma dúvida, Marcelo Torres mandou abrir outra garrafa do Latour 1970. E aí ficou difícil para o Mas La Plana. A segunda garrafa do Latour 1970 estava especial. Elegante ao extremo, austero, aos 40 anos com corpinho de 20. Um clássico. Mas vale registrar que, embora inferior ao Latour, o Mas La Plana 70 era um vinho de emocionar. E que, quase tão bom quanto o 70, estava o Mas La Plana 1981, ainda com uma longa vida pela frente.

Aos felizes comensais, extasiados com a possibilidade de degustar duas obras de arte que desafiam o tempo, ficou a confirmação da máxima de que não existem grandes vinhos, mas sim, grandes garrafas de vinho.

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