terça-feira, 12 de julho de 2011

Até tu, Quênia?

O queniano Pius Mbugua Ngugi é dono da Kenya Nut, empresa dedicada à produção de nozes. Mas, fazia tempo, queria mesmo era fazer vinhos. Nos anos 1990, chegou a plantar vinhas e construir uma pequena adega, mas a incapacidade de produzir com consistência produtos de qualidade o fez, temporariamente, abandonar o projeto.

James Farquharson passou a infância entre a Escócia, o Quênia e a África do Sul, país onde fixou residência e estudou enologia. Lá, já formado, trabalhava em um importante posto de direção em uma das maiores vinícolas privadas sul-africanas. Era um trabalho repleto de responsabilidades, sobretudo administrativas. Mas era pouco para quem almejava por a mão na massa, ou no mosto, literalmente falando.

Até que, há três anos, uma mensagem de um rico empresário queniano mudou a vida de James. Era Pius Mbugua Ngugi, com um convite para um projeto tão audacioso quanto maluco e improvável: produzir vinhos de qualidade no Quênia. Sem pestanejar, de olho na oportunidade de viver uma aventura única, James aceitou de pronto o convite. Nascia, enfim, a Rift Valley Winery, localizada às margens do lago Naivasha, a 75 km a noroeste de Nairóbi e região mais conhecida pelos flamingos cor de rosa e pelas grandes plantações agrícolas.

As vinhas ficam nas montanhas, no vale do Rift, a mais de dois mil metros de altitude. Com barba por fazer, botas de vaqueiro, cabelo desgrenhado, camisa quadriculada e calça de texano, James supervisiona o trabalho das mulheres de todas as idades que fazem a vindima. Caixas repletas de uva na cabeça, elas são quem colhem a matéria prima do sonho de Ngugi.

Os inúmeros desafios não tiram o sono de James. “Estamos praticamente na Linha do Equador, a uma grande altura. Isto faz com que o crescimento das uvas seja muito diferente de lugares como França ou África do Sul. E praticamente não há literatura sobre a produção de vinho em contexto semelhante, portanto, temos, o tempo todo, que nos adaptarmos. E inovarmos”, diz o enólogo.

O vinho produzido se chama Leleshwa. Tem nas versões branco, rosado e tinto. Sobre a qualidade da bebida, James é direto e franco: “nunca faremos um grand cru, ao estilo francês. Aqui nos mantemos simples, sempre respeitando os fundamentos básicos da produção de vinho”, explica.

Segundo Marcus Mitchell, chef e gerente do restaurante Talisman, um dos mais respeitados de Nairóbi, o objetivo de James e Ngugi têm sido alcançado. “O vinho é correto, bem feito. É ligeiro, de verão, bem queniano”, analisa.

E é justamente no fato de ser tipicamente um produto queniano que reside a força do Leleshwa, segundo Ngugi. “Até agora a resposta tem sido muito boa. Se a gente comparar com os rótulos mais simples do Chile e da África do Sul, estamos em vantagem. Até por que não temos que pagar os mesmos impostos que eles, e podemos ter um preço muito competitivo. E, além do mais, os turistas se encantam em poder provar um vinho feito no país”, conta.

Mas não são apenas os turistas que têm provado o Leleshwa. A classe média local também tem abraçado a ideia de provar um vinho queniano. Por essas e outras, Ngugi espera aumentar, em dez anos, a produção atual, que é de 80 mil garrafas por ano, para três milhões. E tudo com o aval de James, que espera ver as uvas mostrarem um potencial ainda melhor com uma década pela frente.

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