quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

por Luciana Plaas


Pela segunda vez, na mesma semana, saí de casa para o jantar no restaurante Eñe. Mas, ao contrário do dia anterior, quando me confundi toda, desta vez era sim a data certa do jantar. Confesso que deu uma preguiça danada de sair de casa de novo, mas não é sempre que se tem a chance de comer trufas negras. Por isso, tomei coragem e lá fui eu novamente. Ao rever o manobrista do hotel, nos cumprimentamos como velhos conhecidos. Com o maître, já no restaurante, foi a mesma coisa.

Enquanto esperava os outros convidados para o festival de trufas, o chef Javier nos contou que ele mesmo colheu as trufas. E disse que ficou com medo da alfândega quando chegou no Brasil com a mala recheada de trufas, quatro quilos para o festival. Felizmente, elas chegaram sãs e salvas para nossa alegria.

Tudo começou com o Royal de trufas. Um creme leve de trufas, feito à base de caldo de vitelo. Era aveludado, deu vontade de pedir bis.



O primeiro prato foi a Crema de feijão verdes com trufas. O chef explicou que o feijão usado para fazer o creme, é branco, mas colhido ainda verde, para acentuar o gosto. Foi servido com gelatina de consome, em cubos, bacon e trufas. Creme denso combinou muito tudo.



De todos os pratos, o mais surpreendente foi o Ovo com jamón e trufas. Era um ovo servido em creme de espinafre, com fatias de presunto e trufas. Pra começar, ovo com trufas, por si só já é muito bom, esse então estava um espetáculo. O creme de espinafre deu liga e leveza ao prato e o jamón contribuiu com textura e sabor.



Outono com trufas foi o nome do prato seguinte, uma emulsão de cogumelos catalães, lâminas de trufas e areia de cogumelos. Foi o prato que menos me encantou. Achei bastante pesado, faltou a leveza que encontrei em todos os outros pratos.



O prato de peixe foi uma garoupa com molho de civet (molho denso de vitelo), servido com raiz salsifí (uma raiz catalana que não tem tradução) e lâminas de trufas. Gostei muito do peixe servido com o molho de carne, deu corpo ao prato. A garoupa estava desmanchando na boca, muito delicada.



Em seguida, veio o inevitável porquinho, que não podia mesmo faltar. Chamava-se mil folhas de coxinilho com trufas. As trufas estavam em lâminas intercaladas entre o jamón e o porco, formando assim o mil folhas. Foi servido com um purê de cará e molho perigueux com trufas. Derretia na boca, um sabor maravilhoso e o tamanho da porção, perfeita.



O prato de queijo, foi com o Torta del casar, queijo de denominação de origem, da região da Extremadura. O chef fez uma terrine do queijo com trufas trituradas. O queijo sozinho fica um pouco cansativo, mas o vinho, Dehesa Gago, cumpriu seu papel com primor. Segurou o queijo direitinho. Foi um casamento e tanto.



A sobremesa se chamava Joia de chocolate com sorvete de baunilha. Nessa sobremesa, o chocolate, tinha uma textura toda especial, era como estivesse a ponto de endurecer. Muito diferente e nada enjoativo. O sal que tinha por cima de o toque que faltava. A trufa era uma poeira por cima. O sorvete misturava os sabores. Esse foi o prato que fiquei com mais medo. Quando li o menu, pensei: isso pode dar muito errado. Mas, para minha felicidade, aconteceu o contrario: estava divino.




Todos os pratos foram harmonizados com vinhos em taças, que nesse caso é a melhor opção. Pena que não pude provar todos por conta da Lei Seca que poderia estar me esperando no caminho de volta.


Foi uma noite e tanto, valeu muito ter voltado pela segunda vez na semana a São Conrado. O Eñe está sempre trazendo alguma novidade, é só ficar atento para qual será a próxima.

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