quarta-feira, 14 de março de 2012

Volta ao mundo em cinco pratos

Inês Braconnot, crudívora de carteirinha (a esq na foto, com a chef), me convidou na semana passada para um jantar diferente, pelo menos para mim. No menu só ingredientes vivos. Ou, se você preferir, crus. Daí o nome crudívora. Os adeptos só se alimentam de vegetais crus. Mas não pense que isso significa simplesmente ralar uma cenourinha e colocar no prato. É algo muito além disso. Uma culinária que usa a técnica de desidratação dos alimentos e a germinação dos grão, que é o que dá força à comida e potencializa os nutrientes.

Inês resolveu juntar um grupo de pessoas para jantar e aproveitar que a chef canadense, Stéphanie Audet, estava no Brasil. Foi uma mostra de que essa culinária tem traços de alta gastronomia também. Stéphanie, roda pelo mundo ensinando a alimentação viva, quando não está viajando, fica no restaurante Crudessence (www.crudessence.com), em Montreal, no Canadá.

Éramos dez na mesa, alguns adeptos desta alimentação, outros nem tanto. O aperitivo foi o Kéfir de Goji e Pitanga. Kéfir é uma bebida fermentada, nesse caso ela usou a frutinha tibetana, a goji, que é rica em aminoácidos e a pitanga. Eu achei um pouco estranho, mas para os mais entendido foi um frison só.

O amuse-bouche era Cogumelos marinados, recheados com Patê de Nozes e Dill fresco coberto com Sour Cream de Pignoli e Alecrim. Tratava-se de cogumelos sem o caule, servidos “de cabeça para baixo” e por cima um creme de pinoles e alecrim. Denso e gostoso.


Seguimos com Sopa Thai de Côco, Coentro e Açafrão com Gengibre e Shitake. Muito delicada, de coentro, açafrão-da-terra, algas e cogumelos. Gostei muito. É para ser saboreada devagar, para apreciar lentamente o cheiro, os gostos e tudo mais. Obviamente, como gostei bastante, fui a primeira a acabar.


Existe toda uma preparação dos pratos, que tem que ser feito na hora de servir, por esse motivo há certa demora entre um parto e outro. Nesse momento percebi que comecei a ficar um pouco sonolenta e minha barriga se agitava. Como tínhamos tempo, começamos a conversar.

Quando chegou Lasanha de Abobrinha com pesto de Pistache fresco, fiquei encantada. Para mim, o prato mais bonito da noite. Muito saboroso também. Tudo nessa alimentação tem frescor.


A essa altura do jantar, todos a mesa, já se sentiam próximos e cada um de nós começou a fazer algum tipo de revelação. Um disse que é louco por salame, outra disse que por ser achar muito louca se tornou uma pessoa regrada. Tiveram aquelas que disseram que essa comida dá vontade de lamber o prato. Eu não disse nada, mas meu corpo disse. Comecei a me sentir com muita energia e minha barriga continuava agitada.

Para que todos ficassem quietos, chegou o Ravioli de Beterraba recheado com Ricota de Figo e Macadâmia, servido com Rúcula, Abacaxi e molho de mel de Figo e Balsâmico. A beterraba disfarçada de ravióli era cortada bem fininha e era crocante ao morder. Não gostei muito da salada. O abacaxi estava doce demais, achei que a combinação não funcionou bem.



Quando veio a sobremesa, (Torta Creme de Maple, Caqui, Castanha do Pará e Nibs de Cacao crocante com Yogurte de Côco fresco e Limão) levei um susto, era uma fatia enorme de torta de caqui com maple, para que não restasse dúvida a respeito da nacionalidade da chef é! E a crostinha era feita de cacau e noz do Brasil, para que ela não esquecesse onde estava. Estava tão boa que apesar de já estar satisfeita comi tudo.



Só depois do jantar é que me dei conta de que todos os pratos eram servidos em temperatura ambiente. Tudo me pareceu muito natural, talvez por isso, enquanto comia, não tenha nem notado. O sal, que a chef nos disse que usa com parcimônia, também nem se fez notar.

No final, Inês agradeceu muito a presença de todos e disse que estava realizando um sonho, que era reunir à mesa pessoas amigas e poder dividir com elas a comida que ela acredita como forma de vida. Na verdade quem tem que agradecer sou eu! Para mim foi uma experiência e tanto. A propósito, minha barriga parou de sacolejar. Acho que ela levou um susto com a tanta comida vida de uma vez só, uma mudança pra lá de súbita na minha alimentação normal.

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