sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Turismo em casa


O Eça é um restaurante que fica no Centro da cidade do Rio, muito frequentado pelo pessoal que trabalha por lá. Eu, como não bato ponto em nenhuma empresa por ali, pouco ando pela região. Por isso, vou muito menos ao Eça do que eu gostaria. Mas, num dia desses, resolvi tirar uma onda de turista em minha própria cidade. E no meu passeio, incluí uma visita ao Centro, com direito à exposição no CCBB, concerto no Municipal e, como não podia deixar de ser, um almoço no Eça.

Cheguei ao restaurante por volta das 14h30, junto com o Alexandre.  Fomos recepcionados pela sommelière da casa, Deise Novakowski, que chamou o chef – o belga Frédéric de Maeyer – para definirmos o que iríamos comer. Nem quisemos olhar o cardápio. Deixamos nossas escolhas sob responsabilidade do chef.

Começamos com o tartare de salmão com lâminas de vieira. Como nem olhei para o cardápio, quando o chegou o prato nem percebi que era vieira o que estava em cima do tartare. Na hora em que provei e senti o gosto do molusco, gostei ainda mais do prato. Estava divino, com acidez na medida certa.



A segunda entrada promoveu outra surpresa. Quando o prato chegou, mais parecia uma carne com um crocante em volta. Mas que carne, que nada. Bastou levar o garfo à boca para perceber que se tratava de um shitake. O cogumelo vinha recheado com queijo de cabra tempura e chutney de tomate. Estava muito gostoso embora eu não tenha entendido muito bem a função do tempura no prato.



Em seguida veio uma terrine de foie gras com brioche de porcini, beterraba e sal negro defumado. Estava um sonho! Achei fantástica a ideia do brioche de porcini, pois casou muito bem com o foie gras. A beterraba, além de acrescentar cor, deu um gosto terroso ao prato. O Fred sabe usar muito bem foie gras, saindo do óbvio.



Fomos em frente com um filé de vermelho, camarão e consommé de shitake. O consommé estava dos deuses, feito com shitake – o que deu um toque todo asiático ao prato. Para completar, o peixe estava quase um sashimi, não apenas pelo frescor mas principalmente pelo modo em que foi cortado. O camarão finalizou bem o prato, reforçando a pegada oriental.



Completamos o almoço com o magret de pata, com risoto de trigo sarraceno, redução de pera, e aspargos. Pra quem, como eu, pensava estar cansada de pato, queimei a língua. Melhor pato que comi no ano (ou pata – o Fred explicou que a carne da fêmea é mais macia que a do macho). Estava rosa como uma picanha. O aspargo estava crocante e o risoto, diferente. A redução de pera funcionou bem com a pata. Fiquei com esse prato na cabeça por muitos dias.



Que as sobremesas do Eça são de tirar o chapéu, todo mundo está cansado de saber. Mas a que foi servida pelo Fred nesse almoço foram mais do que isso. Era um espetáculo digno do concerto que eu assistiria horas depois! Frutas vermelhas, acompanhadas por um biscoito feito com especiarias (um toque natalino) e, como não poderia deixar de ser (ainda mais para um belga), chocolate. Era como se um pouquinho de tudo o que dá prazer estivesse traduzido no prato. O almoço foi todo harmonizado com vinhos escolhidos pela Deise, que acompanharam maravilhosamente bem cada um dos pratos servidos.



Saímos do Eça satisfeitos, mas longe de estarmos cheios. Ou melhor, cheios sim, mas de disposição para curtirmos os programas que nos esperavam: a exposição e o concerto. E depois de uma sexta-feira dessas, olhando o Centro por ângulos diferentes, a salvos de toda aquela correria frenética e pressa desenfreada do lugar, fica a lição: como é bom ser turista na própria cidade.


por Luciana Plaas (texto e fotos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário